O fim da Lava Jato, uma operação desastrosa para o Brasil

Capítulo final da força-tarefa foi a queda do juiz Marcelo Bretas, afastado da 7ª Vara Federal Criminal do Rio

Marcelo Bretas e Sergio Moro, os juízes símbolos da desastrosa Operação Lava Jato

O monstro da Operação Lava Jato está morto. A rigor, as investigações remanescentes no âmbito da força-tarefa continuam em curso – mas o “modo Sergio Moro” de fazer justiça, imposto à Lava Jato a partir de 2014, chegou ao fim.

Seu capítulo final foi a queda do juiz Marcelo Bretas, afastado nesta terça-feira (28) da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Devido a seus métodos abusivos, Bretas, o “Moro do Rio”, era alvo de três representações disciplinares no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O plenário da Corte decidiu afastá-lo por 11 votos a 4. Já a abertura de um processo administrativo disciplinar contra ele foi aprovada por unanimidade.

A Lava Jato foi desastrosa para o País. Estudo realizado Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apontou parte dos estragos econômicos. Conforme o levantamento, a operação afetou especialmente os setores de petróleo, gás e construção civil, dilapidando 4,4 milhões de empregos e 3,6% do PIB do Brasil.

O feito maior – e mais escandaloso – da força-tarefa foi a prisão sem provas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em abril de 2018, a seis meses das eleições presidenciais. À frente da manobra estava Sergio Moro, então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR). Com Lula fora da disputa, o ultradireitista Jair Bolsonaro se elegeu ao Planalto e, em seguida, convidou o herói da Lava Jato para integrar o governo. Moro renunciou à magistratura e se tornou o ministro bolsonarista da Justiça.

Lula permaneceu preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba por 580 dias. Quando foi solto, as revelações da Vaza Jato – que mostravam o conluio entre Moro e procuradores para prejudicar Lula – comprovaram as irregularidades da. Em 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a parcialidade de Moro na condução dos processos, declarou sua suspeição e anulou suas decisões contra Lula.

Do ponto de vista moral, a Lava Jato já estava derrotada – e Bretas era um dos últimos representantes da fase mais nefasta da força-tarefa. Em 2020, ele chegou a sofrer pena de censura por ter participado de eventos públicos ao lado de Bolsonaro. Seu afastamento era dado como certo, mas não foi possível testemunhá-lo: o julgamento das representações disciplinares contra ele foi feito a portas fechadas.

Tampouco houve lágrimas pelo fim da Lava Jato, afora um ou outro esperneio de gente como o próprio Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol. Assim, a morte de uma operação assentada nas irregularidades lembrou os Versos Íntimos de Augusto dos Anjos: “Vês! Ninguém assistiu ao formidável / Enterro de sua última quimera”.

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