Mauro Cid fica em silêncio na CPMI dos Atos Golpistas

Militar não respondeu às perguntas dos parlamentares. Na exposição inicial, Cid alegou que não participava das atividades do ex-chefe, Jair Bolsonaro

Bruno Spada / Câmara dos Deputados

Convocado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas de 8 de Janeiro, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, se manteve em silêncio na audiência desta terça (11).

Mauro Cid usou a palavra apenas quando o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), lhe concedeu poucos minutos na exposição inicial da sessão.

Na condição de investigado e testemunha, o ex-ajudante de ordens foi convocado pela comissão por ter tido conversas com colegas militares a respeito de um plano para efetuar um golpe de estado após a derrota eleitoral da extrema-direita em 2022.

As conversas foram obtidas pela Polícia Federal em meio as investigações sobre as fraudes nos cartões de vacinação da família Bolsonaro e do próprio Mauro Cid. Pela fraude, o depoente está preso desde maio deste ano.

Cid foi autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a ficar em silêncio diante de perguntas que possam incriminá-lo. A ministra Cármen Lúcia garantiu o “direito de não ser obrigado a produzir prova contra si, podendo manter-se em silêncio e não ser obrigado a responder a perguntas que possam incriminá-lo, sendo-lhe vedado faltar com a verdade quanto aos demais questionamentos não inseridos nem contidos nesta cláusula”.

A decisão da ministra, no entanto, obrigou o comparecimento do militar na CPMI. “Concedo parcialmente a ordem, apenas para assegurar ao paciente [Cid], que tem o dever de comparecimento perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para a qual foi convocado, que, ao ser inquirido pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito ‘CPMI — 8 de janeiro’, seja respeitado a) o direito de ser assistido por seu advogado e com ele se comunicar pessoal e reservadamente”, decidiu a ministra.

Além das mensagens trocadas entre os colegas militares a respeito do golpe de estado, a PF também encontrou a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

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Depoimento inicial

O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), concedeu à Mauro Cid os primeiros 15 minutos da sessão desta terça para que o militar fizesse uma apresentação inicial. Foi o único momento em que o ex-ajudante de ordens falou.

O ex-ajudante de ordens do então presidente da República Jair Bolsonaro tenente-coronel Mauro Cid disse nesta terça-feira (11) que, apesar da proximidade com o ex-mandatário, não participava das atividades relacionadas à administração pública, nem questionava Bolsonaro sobre o que era discutido em reuniões e encontros com autoridades dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.

“Na prática, a função do ajudante de ordem consistia, basicamente, em um serviço de secretariado executivo do ex-presidente”, explicou Cid no início de seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, quando vândalos invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF).

“No dia a dia das reuniões e agendas do ex-presidente, recepcionávamos os participantes e os direcionávamos ao local desejado, ficando do lado de fora das salas de reunião, sempre à disposição. Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões”, disse o militar.

Após garantir que, em 2019, assumiu a chefia da Ajudância de Ordem da Presidência da República por indicação do Comando do Exército e que sua nomeação não teve nenhuma ingerência política, o tenente-coronel destacou o fato de, ao longo de 27 anos de serviço militar, ter se destacado. Em seguida, Cid elencou algumas das tarefas de que foi incumbido durante os quatro anos em que serviu ao ex-presidente Bolsonaro.

“Execução da agenda; recepção e encaminhamento de pessoas para reuniões; atendimento de ligações e recebimento de correspondências; impressão de documentos; recebimento e entrega de presentes e auxiliar nas atividades particulares e privadas do ex-presidente – almoços, viagens, finanças pessoais etc”, relacionou o militar.

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