Lula pede equilíbrio nas negociações entre Mercosul e União Europeia

Na abertura da Cúpula, presidente criticou a divisão internacional do trabalho, que condena os países da América Latina e do Caribe a serem exportadores de matéria primas

Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou, nesta segunda (17), na abertura da terceira reunião de Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-America (Celac) e da União Europeia (EU), em Bruxelas, na Bélgica.

No discurso, Lula afirmou que o acordo de cooperação entre Celac e União Europeia deve refletir a realidade dos países do bloco e criticou o Conselho de Segurança das Nações Unidas. O presidente também falou em “revolução verde” e na regularização das plataformas de mídia.

“Para a América Latina e o Caribe, isso se traduz em um enfoque claro na redução das desigualdades e na erradicação da fome e da pobreza”, disse Lula. “Temos que encontrar caminhos para superar as assimetrias de desenvolvimento econômico e social”.

Lula cobrou dos europeus “uma parceria que ponha fim a uma divisão internacional do trabalho que condena a América Latina e o Caribe ao fornecimento de matéria-prima e de mão-de-obra migrante, mal remunerada e discriminada”.

O presidente ainda ressaltou “uma longa história e laços econômicos e sociais” da América Latina com a Europa e disse que pretende concluir o acordo entre Mercosul e união Europeia ainda neste ano.

“A União Europeia é o 2º maior parceiro comercial do Brasil. Nossa corrente de comércio poderá ultrapassar este ano a marca de US$ 100 bilhões. Um acordo entre Mercosul e União Europeia equilibrado, que pretendemos concluir ainda este ano, abrirá novos horizontes”, disse o presidente.

Leia também: Lula denuncia corrida armamentista em guerra na Ucrânia

Regulamentação das bigtechs

O presidente pediu cooperação para regular as plataformas digitais e o fortalecimento democrático: “Nossas regiões estão ameaçadas pelo extremismo político, pela manipulação da informação, pela violência que ataca e silencia minorias”, afirmou.

“É urgente regulamentarmos o uso das plataformas para combater ilícitos cibernéticos e a desinformação. O que é crime na vida real, deve ser crime no mundo digital”, disse.

Recentemente, o PL 2630 que regulamenta as bigtechs no Brasil foi suspenso após intenso ataque das empresas, principalmente o Google, contra o texto do relator Orlando Silva (PcdoB-SP).

“É urgente regulamentarmos o uso das plataformas para combater ilícitos cibernéticos e a desinformação. O que é crime na vida real, deve ser crime no mundo digital”, disse.

Lula ainda se mostrou preocupado com o direito trabalhista e criticou os aplicativos. Segundo o presidente, eles não podem “simplesmente abolir as leis trabalhistas pelas quais tanto lutamos”.

Acordo Mercosul-UE

Lula voltou a criticar a postura da União Europeia no acordo entre o bloco e o Mercosul. “A defesa de valores ambientais, que todos compartilhamos, não pode ser desculpa para o protecionismo”, disse Lula. “O poder de compra do Estado é uma ferramenta essencial para os investimentos em saúde, educação e inovação. Sua manutenção é condição para industrialização verde que queremos implementar.”

Mais cedo, o presidente reafirmou o compromisso do Brasil em zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. “O desenvolvimento sustentável possui três dimensões inseparáveis: a econômica, a social e a ambiental. O mundo precisa se preocupar com o direito de viver bem dos habitantes da Amazônia”, afirmou.

Conselho de Segurança e a Guerra na Ucrânia

Sobre a guerra o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o presidente Lula afirmou que a guerra é a “confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à Paz e à Segurança”. O brasileiro ainda disse que os próprios membros do conselho não respeitam a carta da ONU.

Lula ainda repudiou a invasão russa mas ponderou que as negociações de paz devem ter amparo no direito internacional, e criticou as sanções impostas pelos países do ocidente. “Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis”, afirmou.

Leia também: “Brasil vai cumprir com sua parte na questão do clima”, diz Lula

Autor