Acordo Mercosul-UE pode sair este ano, anuncia Lula em Bruxelas

Em entrevista coletiva, presidente avaliou a reunião como “extremamente exitosa”. Aos jornalistas, Lula condenou as agressões ao ministro Alexandre de Moraes

Presidente Lula fala com jornalistas e faz balanço de sua visita à Bruxelas Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em entrevista coletiva em Bruxelas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta (19) que o acordo entre Mercosul e União Europeia será fechado ainda em 2023. Aos jornalistas, Lula também criticou as agressões a família do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A delegação brasileira está na Bélgica desde domingo (16), para a 3ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), encerrada nesta terça (18).

“Pela primeira vez estou otimista de que vamos concluir esse acordo ainda este ano”, afirmou o presidente aos jornalistas. Lula reiterou as críticas às condições dos europeus, citando a carta adicional. “Possivelmente foi feito por alguém achando que, fazendo pressão, iríamos ceder”, disse.

Em negociações desde 1999, o acordo entre os dois blocos tem como objetivo integrar um mercado de 780 milhões de habitantes, simplificando e dinamizando o comércio entre os países do Mercosul e da União Europeia.

As negociações emperraram após o aumento do desmatamento na Amazônia e a mudança da política ambiental durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro assustar os europeus. Em Bruxelas, Lula afirmou que o Brasil cumprirá a sua parte do acordo e que o Brasil reduzirá o desmatamento a zero até 2030.

“Foi uma carta agressiva, que nos ameaçava com punições, caso não cumpríssemos determinados requisitos ambientais. A gente respondeu que dois parceiros estratégicos não discutem com ameaças, mas com propostas”, explicou Lula.

“Mas não vamos ceder porque, primeiro, pouca gente no mundo pode falar [mais] de energia limpa ou preservação do que a gente. Temos um compromisso histórico e de campanha, de que vamos, até 2030, acabar com o desmatamento na Amazônia. Esse é um compromisso nosso, do governo brasileiro”, acrescentou ao cobrar que as outras partes atuem para cumprir o compromisso de doar os US$ 100 bilhões para a manutenção das florestas.

Leia também: Lula pede equilíbrio nas negociações entre Mercosul e União Europeia

Leia também: 3ª Cúpula CELAC-UE revela força da unidade latino-americana

Investimentos europeu

Lula avaliou como “extremamente exitosas” as reuniões entre lideranças latino americanas e europeias, ocorridas nesta semana durante a 3ª Cúpula da Celac e União Europeia.

“De todas as que participei com a União Europeia, esta foi a mais exitosa”, disse o presidente ao ressaltar o interesse de dimensão inédita do bloco europeu em estabelecer parcerias com os países da América Latina.

Nesta segunda (17), a União Europeia anunciou investimentos de mais de R$242 bilhões (€45 bilhões) na América Latina e no Caribe. O anúncio foi feito após reunião bilateral entre Lula e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

“O fato de ter a participação de 60 países demonstrou de forma inequívoca o interesse da Europa de voltar seus olhos para a América Latina. Poucas vezes vi tanto interesse político e econômico dos países da União Europeia para com a América Latina. Possivelmente pela disputa dos EUA e China; possivelmente pelos investimento da China na África e na América Latina; possivelmente pela nova rota da seda; possivelmente pela guerra [entre Rússia e Ucrânia]”.

De acordo com o presidente, o bloco europeu cumprirá com a ajuda prometida na Conferência do Clima (COP21), em Paris. “Em documento, eles reafirmam intenção em ajudar a financiar os US$ 100 bilhões para se combater o desmatamento nas florestas”, acrescentou.

“Nossa exigência é a de sermos exportadores de manufaturados e coisas com mais valor agregado, de modo a gerar mais empregos qualificados. Por isso, não abrimos mão das compras governamentais, que são instrumento de desenvolvimento interno adotado por países como EUA e países europeus”, acrescentou ao lembrar que, em governos anteriores, essa estratégia acabou por favorecer a indústria naval brasileira.

O presidente defendeu que algo parecido seja feito com a indústria da saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). “Não há país com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um programa de saúde universal como o SUS. Portanto, temos de aproveitar um programa dessa magnitude e o potencial de compra que tem o SUS para desenvolvermos internamente no Brasil uma indústria da saúde”, argumentou.

Leia também: Europa precisa financiar a indústria de transformação nos países pobres, diz Lula

Agressões a Alexandre de Moraes

O presidente defendeu punição severa a agressores do ministro do STF Alexandre de Moraes e seus familiares, no aeroporto de Roma, Itália. Para Lula, os atos precisam ter respostas duras e punição severa, de forma a inibir as manifestações de ódio estimuladas pelo neofascismo que renasceu e foi colocado em prática no Brasil.

“Precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio, como o cidadão que agrediu o ministro Alexandre de Moraes no aeroporto em Roma. Um cidadão desse é um animal selvagem. Não é um ser humano. Ele pode não concordar com a pessoa, mas não tem de ser agressivo, xingar ou desrespeitar”, disse.

A agressão contra Moraes e sua família teria sido feita pelo empresário Roberto Mantovani Filho e sua esposa, Andrea Mantovani. O caso foi divulgado no último fim de semana pela imprensa. Segundo as reportagens, o grupo teria chamado o ministro de “bandido e comunista”.

Ao questionar os insultos, o filho do ministro foi agredido por um dos acusados. Moraes estava na Itália para participar de uma palestra na Universidade de Siena.

Autor