Google celebra Arthur Friedenreich, primeiro superastro do futebol brasileiro

Autor do gol decisivo do primeiro campeonato conquistado pela Seleção Brasileira, em 1919, “El Tigre” contribuiu para a popularização do esporte no país

Foto: Reprodução

Quando o ponta Manuel Nunes, o Neco, lançou a bola para a grande área uruguaia, naquela tarde de quinta, 29 de maio de 1919, no estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro, o herói daquela final de campeonato Sul-Americano seria Heitor. A cabeçada forte, no entanto, parou no goleiro Cayetano Saporiti.

O goleiro uruguaio, no entanto, espalmou a bola para dentro da própria área, encontrando o homenageado do Google, desta terça (18), Arthur Friedenreich livre para marcar o único gol daquela prorrogação. O quarto gol de Friedenreich no Sul-Americano, o artilheiro da competição junto com Neco, deu a seleção brasileira o primeiro título da sua história.

Em um país subjugado pela política elitista da República Velha e, mais recentemente, com a epidemia mortal da gripe espanhola, a primeira vitória brasileira nesta nova modalidade esportiva tornou o título do Sul-Americano de 1919 o ponto de inflexão na história do futebol brasileiro.

Confira a simulação do gol feito por Friedenreich, na final do Sul-Americano de 1919:

A festa se espalhou por todos os bairros da capital federal, na época, o Rio de Janeiro, chegando até São Paulo. “A festa provocou um colapso sem precedentes no trânsito da região central [da capital paulista], com um congestionamento de bondes, automóveis e tílburis, em meio às passeatas que entoavam cânticos e hinos”, relatou o jornalista Luiz Carlos Duarte, em Friedenreich – a saga de um craque nos primeiros tempos do futebol brasileiro (2012).

Fried se tornaria o craque daquela geração da gênese do futebol brasileiro. “El Tigre”, como era conhecido, naquela quinta-feira, deu um passo gigante para a popularização da modalidade esportiva, até então praticada por segmentos da elite política e econômica do país. O futebol, a partir daquele momento, se tornaria uma modalidade de massas.

O atacante é considerado um dos primeiros elos na cadeia que se forma em torno do mito do “futebol arte”. “Primordial, pioneiro e essencial, Friedenreich fez história. Com suor, engenho e arte, ele e demais jogadores de sua geração fundaram um estilo brasileiro de jogar futebol”, completa Luiz Carlos Duarte.

Aniversário de Friedenreich

Nesta terça (18), se comemora o nascimento do primeiro homem negro a jogar profissionalmente futebol no Brasil. Em 18 de julho de 1892, apenas quatro anos após abolição da escravidão no Brasil, nascia Arthur Friedenreich, a primeira grande estrela do futebol brasileiro.

Friedenreich nasceu em São Paulo, filho de um imigrante alemão e uma empregada doméstica negra. Alto e forte, o rapaz negro de olhos verdes só foi parar no futebol profissional devido a um acidente.

Durante uma partida recreativa jogada na rua, Arthur Friedenreich sofreu um atropelamento sem muitas gravidades. Seu pai, Oscar Friedenreich, assustado, resolveu matricular o filho no clube Germânia, atual Pinheiros, como forma de tirá-lo dos perigos da rua.

Naquela época, o futebol era dominado pela segregação racial e de classe e era jogado e frequentado apenas pela elite branca das grandes cidades. Portanto, os primeiros contatos do futuro astro Friedenreich com o profissionalismo se deve essencialmente as conexões do seu pai com o clube de futebol para imigrantes alemão.

Aos 17 anos de idade, Arthur Friedenreich estreou no SC Germânia e imediatamente impressionou o público com a sua ginga e velocidade. Não demorou muito para o atacante se tornar o artilheiro da liga paulista, feito que repetiria por sete vezes ao longo da sua carreira.

Considerado o maior jogador brasileiro do período amador, Friedenreich esteve na Seleção Brasileira desde o primeiro jogo em 1914 e com ela venceu o Campeonato Sul-Americano de 1919 e 1922.

Por causa de brigas políticas entre dirigentes paulistas e cariocas, o jogador se despediu dos gramados em 1935, sem ter disputado nenhuma Copa do Mundo. Friedenreich, no entanto, sempre esteve cercado por muitas lendas, como a que teria marcado mais gols que Pelé.

No levantamento mais consistente feito pelo biógrafo Luiz Carlos Duarte, foram 595 gols em 605 jogos, a incrível média de 0,98 gols por jogo. Foi artilheiro do Campeonato Paulista oito vezes (1912, 1914, 1917, 1918, 1919, 1921, 1927 e 1929), marca superada somente por Pelé. Foi o principal jogador da história do Paulistano, pelo qual foi campeão paulista sete vezes, além de conquistar a Copa dos Campeões em 1920.

Participou da primeira viagem de um time brasileiro à Europa em 1925, tendo sido artilheiro da excursão com 11 gols. Campeão brasileiro pela Seleção Paulista em 1920, 1922, 1923 e 1926, também foi autor do primeiro gol do futebol profissional brasileiro, em 12/03/1933, no jogo São Paulo 5X1 Santos.

Recebeu o apelido de “El Tigre” dos uruguaios, impressionados com a disposição e a garra do atacante brasileiro durante a final do Campeonato Sul-Americano de 1919, quando ele marcou o gol do título na segunda prorrogação.