Financial Times anuncia chegada do “momento econômico do Vietnã”

O jornal britânico defende que o país socialista asiático deve capitalizar o sucesso da indústria manufatureira para o desenvolvimento de longo prazo

Cidade de Ho Chi Minh

Editorial da edição do início de julho do Financial Times, um dos principais periódicos econômicos do mundo, voltou a destacar o Vietnã, governado pelo Partido Comunista, pelo momento econômico inédito que vive, após décadas de crescimento promissor. Mas também aponta os desafios para não perder o rumo como vizinhos que viveram momentos semelhantes.

“Foi a economia que mais cresceu na Ásia no ano passado (crescimento de 8%) e uma das poucas no mundo a alcançar dois anos consecutivos de crescimento desde a pandemia de covid-19”, diz o jornal.

O principal texto do jornal aponta a nação do sudeste asiático como beneficiária das tensões geopolíticas que tentam conter o avanço da China. Há recorde de investimento estrangeiro direto vindo de transnacionais de tecnologia que tentam diversificar sua cadeia de suprimentos para além da China.

O jornal destaca o fato do país ter feito uma transição para uma economia mais aberta no final dos anos 1980. Ele se refere ao período chamado de “renovação” (Doi Moi), em 1986, permitindo a substituição da coletivização das terras e o controle estatal generalizado pela paulatina abertura econômica do país, com reformas liberalizantes e atração de investimentos externos – uma economia de mercado com orientação socialista, seguindo o exemplo da China.

Junto com isso, veio a proximidade da China, a vasta força de trabalho jovem, barata e qualificada. Com isso, o Vietnã deixou de estar associado apenas com fabricantes de tênis para produtos de maior valor agregado, como eletrônicos de ponta. 

“O rápido crescimento liderado pelas exportações tirou milhões da pobreza nas últimas décadas, mas a economia do Vietnã agora está em uma encruzilhada”, dizem os editores do FT, referindo-se à emergência de fortalecer seu ambiente de negócios e de aumentar a manufatura para alcançar a meta ambiciosa de se tornar uma economia de alta renda até 2045.

A renda per capita vietnamita era de apenas US$ 538 em 1980, quando a renda brasileira era de US$ 11,4 mil, uma diferença de 21 vezes, segundo comparativo de José Eustáquio Diniz Alves, no Ecodebate. Mas a partir de 2015 a renda brasileira caiu enquanto a renda do Vietnã continuou subindo. As estimativas do FMI mostram uma renda per capita do Vietnã de US$ 15,3 mil em 2024, acima da renda do Brasil de US$ 15,1 mil em 2024. 

Quando fala em ambiente de negócios, o jornal refere-se a ser capaz de absorver a quantidade de investimentos que os fabricantes demandam, com mão de obra qualificada. A população do Vietnã era de 28,3 milhões em 1950 e passou para cerca de 100 milhões em 2022. ”O treinamento vocacional e as universidades precisam de uma ajuda”, diz. Também fala em burocracia de uma política muito descentralizada e investimento em infraestrutura energética.

Mas o jornal considera que o aumento da renda acaba se tornando uma armadilha, também para países que seguiram o mesmo rumo, como foi o caso da Malásia e da Tailândia que não conseguiram realizar a transição de renda adequadamente. É o caso do Brasil que, com sua renda média, deixou de ser viável como mão de obra barata para manufaturados, mas não consegue chegar ao patamar de exportação de produtos de alto valor agregado. O Vietnã caminha para chegar a este patamar de altos salários, escapando da armadilha da renda média.

Além disso, as exportações têm a vulnerabilidade à volatilidade do ambiente comercial global. Desta forma, o Vietnã precisaria garantir um forte mercado interno de consumo de sua produção.

Para além da manufatura, os editores acreditam que o país terá que avançar no investimento em serviços logísticos complementares. “O Banco Mundial recomenda maior apoio à adoção de tecnologia, fortalecimento das habilidades de gestão e maior redução das restrições ao IDE [ambiente de desenvolvimento integrado] em serviços”.

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