Bolsonaro sabia da venda e resgaste de joias feita por Mauro Cid

Ao jornal Estadão, o ex-presidente disse que seu então ajudante de ordens tinha autonomia. “Eu não ia mandar ninguém vender nada”, afirmou o ex-capitão

Bolsonaro e Mauro Cid. Foto: Alan Santos/Presidência da República

Fontes da Polícia Federal (PF) revelaram ao Fantástico que tiveram acesso a mensagens no celular do ex-ajudante de ordens Mauro Cid que comprovam que Bolsonaro sabia das tentativas de venda e resgaste das joias recebidas pelo ex-presidente como presentes do regime saudita.

O programa da Globo acompanhou o trabalho dos peritos nos presentes dados ao governo Bolsonaro. Só um conjunto de joias, destinado a Michelle Bolsonaro, é avaliado em mais de R$ 4 milhões.

“A PF quer saber quem mandou vender as joias nos Estados Unidos e quem recebeu o dinheiro, e uma fonte da PF confirmou ao Fantástico que foram encontradas no celular de Mauro Cid mensagens do tenente-coronel com Bolsonaro que indicam que o ex-presidente sabia das tentativas de Cid de vender e depois resgatar as joias”, diz a reportagem do programa.

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À revista Veja, advogado do tenente-coronel, Cezar Bitencourt, declarou que seu cliente vendeu as joias nos Estados Unidos a mando de Bolsonaro e que entregou o dinheiro para o ex-presidente.

Ao jornal Estadão, Bolsonaro disse na sexta-feira (18) que seu então ajudante de ordens tinha autonomia. “Olha, ele tem, como está na matéria da ‘Folha’, tem autonomia. Eu não ia mandar ninguém vender nada”, afirmou o ex-presidente.

Na mesma entrevista, Bolsonaro afirmou que os presentes seriam de “caráter personalíssimo”. Contudo, em 2016, Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que só seria seriam considerados personalíssimos presentes como medalhas personalizadas ou itens de consumo direto, como perfumes, alimentos, bonés, camisetas, chinelos e gravatas.

A defesa do ex-presidente evocou a Portaria número 59, de 8 de novembro de 2018, do governo de Michel Temer, que permitiria incluir joias, semijoias e bijuterias como presentes personalíssimos. Mas ato administrativo foi revogado em 2021 pelo próprio governo Bolsonaro.

Repercussão

“CRIMINOSO E MENTIROSO! Ontem, o Fantástico revelou que foram encontradas mensagens no celular de Mauro Cid que comprovam que o inelegível sabia da venda das joias e relógios. Só o presente da Michelle foi avaliado em mais de R$ 4 milhões. Onde está o dinheiro? Esse é o fim das narrativas e da quadrilha bolsonarista”, postou na rede social a líder  do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ).

Ela destacou que PF nem precisa da confissão de Mauro Cid. “São tantas provas encontradas pela Polícia Federal contra Mauro Cid no caso das joias usurpadas que a confissão dele se torna indiferente. É, meu povo! Tá faltando pouco para muita gente ver o sol nascer quadrado!”, diz a deputada.

“As coisas só se complicam para Bolsonaro. Além das denúncias feitas pelo hacker Walter Delgatti, a PF encontrou no celular de Mauro Cid mensagens do tenente-coronel com o ex-presidente que indicam que Bolsonaro sabia das tentativas de Cid de vender e depois resgatar as joias. Hoje é um bom dia para bandido ir pra cadeia!”, afirmou a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

Para o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), o cerco está se fechando e Bolsonaro precisa ser responsabilizado por todos crimes cometidos. “Mensagens no celular do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, provam que Bolsonaro sabia da venda das joias, ao contrário do que ele vinha afirmando”, diz.

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