Em Angola, Lula propõe campanha mundial contra desigualdade

Durante o encontro dos presidentes, Lula foi condecorado com a Ordem Dr. António Agostinho Neto e o angolano com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta (25) uma campanha mundial contra a desigualdade. Lula desembarcou em Luanda, capital da Angola, após participar do encontro da cúpula de líderes do Brics, na África do Sul.

No encontro com o presidente do país, João Lourenço, o brasileiro disse que é preciso se indignar com a fome. “Esse mundo produz alimento para sustentar quantos bilhões de pessoas nascerem. Não tem sentido as milhões de crianças que vão dormir toda noite sem um copo de leite para tomar. Não é porque não tem leite, porque não tem comida. É porque não tem dinheiro porque a concentração de riqueza tem aumentado a cada dia que passa. Cada vez mais o 1% tem mais riqueza e os 50% mais pobres estão cada vez mais pobres”, criticou Lula.

“Eu já conversei com o papa Francisco, já fui ao Conselho Mundial das Igrejas; essa é uma luta que eu acho que a gente só vai ganhar se a gente colocar como prioridade de nossa vida, em cada discurso, em cada ação nossa”, afirmou o mandatário em cerimônia ao lado do presidente angolano, João Lourenço.

Durante o encontro dos presidentes, Lula foi condecorado com a Ordem Dr. António Agostinho Neto e o angolano com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

“Essa ordem aumenta a minha responsabilidade, agora que estou assumindo o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra a desigualdade. A desigualdade existe em tantos lugares que muitas vezes olhamos só para nós, e não vemos que está entre eu e a pessoa com quem estou conversando, porque nós temos a desigualdade de raça, de gênero, de salário, de acesso à educação e à saúde”, afirmou Lula.

António Agostinho Neto é um dos principais símbolos da luta pela independência angolana, que foi colônia até 1975.

Lula também criticou a desigualdade de gênero. “Às vezes, a gente fica contente porque tem uma mulher presidente de um partido, presidente da Câmara, presidente de sei lá o que. Mas se elas são maioria e se elas nos colocaram no mundo, eu acho que é justo a gente compreender que elas podem sim ser maioria e governar o mundo ao invés de nós”, disse.

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Cooperação

Angola é o único país do continente africano, além da África do Sul, com o qual o Brasil tem uma parceria estratégica. O acordo foi assinado em 2010, durante o segundo mandato do presidente Lula.

Segundo a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), os dois países mantêm sete projetos de cooperação em execução e os governos discutem a implementação de outros três, nas áreas de saúde e educação. Além disso, projetos nas áreas de meio ambiente, geoprocessamento, geologia, saúde, energia, urbanização e segurança pública estão em estudos.

Uma das ações brasileiras de destaque no país é o Programa de Desenvolvimento Regional do Vale do Cunene, região no sul de Angola que foi castigada pela seca nos últimos anos. A iniciativa, com participação da Embrapa, tem como objetivo ampliar a agricultura local com técnicas de plantio e irrigação semelhantes às que foram utilizadas no Vale do rio São Francisco, no Nordeste brasileiro.

Ainda hoje, Lula faz uma visita e um pronunciamento à Assembleia Nacional de Angola. E, no fim do dia, participa do encerramento de um seminário com empresários dos dois países. O evento prevê a presença de uma delegação de cerca de 60 representantes de empresas brasileiras dos ramos de alimentos, produtos farmacêuticos, aviação e máquinas agrícolas, entre outros.

O presidente chegou ao continente africano na última segunda-feira (21). A primeira parada foi na África do Sul para a 15ª Cúpula de chefes de Estado do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Hoje e amanhã (26), ele cumpre agenda em Angola e, no domingo (27), estará em São Tomé e Príncipe, para participar da conferência de chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

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