Policia de SP intimida conselheiros de Direitos Humanos

Conselho Nacional de Direitos Humanos testemunhou in loco o início da operação violenta contra dependentes químicos no centro de São Paulo.

Dependentes químicos são constantemente deslocados de um lugar para o outro do centro de São Paulo por meio de operações violentas com bombas de dispersão e tiros de borracha pela polícia. Foto Alan White/Fotos Publicas

O presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), André Carneiro, informou nesta segunda-feira (28) que representantes do órgão estariam em São Paulo, esta semana, para apurar de perto casos de trabalho análogo à escravidão em contexto urbano e para acompanhar a situação da população em situação de rua, em especial da área central da capital, onde se aglutinam usuários de drogas.

Ao chegar, a equipe do CNDH relata que foi alvo de intimidações provocadas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), na manhã desta terça-feira (29). Segundo a conselheira Virgínia Berriel, que coordena a Comissão de Trabalho, Educação e Seguridade Social do CNDH, os agentes só recuaram quando a conselheira se identificou como autoridade.

“Nós não nos sentimos intimidados pela população em situação de rua, muito pelo contrário, fomos intimidados pela polícia, que, todo dia solta bomba, machuca, agride aquelas pessoas, como se elas não fossem gente. É um negócio de doer. Vieram para cima da gente e eu tive que dar ‘carteirada’. Se eu não mostrasse o cartão, eu seria presa, porque ousei tirar uma foto do policial, porque eles estavam preparando a operação para atacar aquelas pessoas”, disse ela à Agência Brasil. 

Na sequência, ela relata que o agente se afastou com a equipe do local. “As pessoas que ficam ali, da assistência social, médicos, disseram: olha, vocês conseguiram uma façanha, porque eles não saem”, acrescenta Virgínia. 

Agenda intensa

Na segunda-feira (28), foram feitas reuniões com o Ministério Público do Trabalho e auditores fiscais do trabalho para tratar do combate ao trabalho análogo à escravidão. O objetivo é cobrar respostas do Poder Público a respeito da exploração de trabalhadores em confecção de roupas, principalmente.

Logo depois da passagem pela região central, a comitiva seguiu para a Paróquia Nossa Senhora da Paz, na Liberdade, que desenvolve ações para imigrantes e refugiados, e cumprirá, ao longo do dia, agenda com líderes do movimento das domésticas e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). 

Na quarta (30), devem se reunir com o padre Julio Lancellotti. Na próxima sexta-feira (1º), reunem-se com lideranças do movimento da população em situação de rua, no Espaço Sociocultural Cisarte, na Bela Vista. Na sexta também ocorrerá na Assembleia Legislativa de São Paulo uma audiência que elaborará o relatório sobre os temas. A partir dela, será feito o levantamento das denúncias dos movimentos sociais e das atitudes que os governos estão tomando em relação a estas populações violadas.

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