Blinken fala em “nova era das relações internacionais”

Mais: China e Venezuela elevam relação para associação estratégica / G77+China reunirá centenas de países em Cuba / Urânio empobrecido na Ucrânia – As provas e as ajudas.

O Secretário de Estado dos EUA, Antony J. Blinken, proferiu um discurso na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, nesta quarta-feira, dia 13. O título da matéria sobre o discurso, publicada pelo site do Departamento de Estado, é “Secretário Blinken destaca o poder e propósito da diplomacia americana em uma Nova Era“. Recordemos que em 4 de fevereiro de 2022, China e Rússia lançaram o histórico documento “Sobre as Relações Internacionais Entrando em uma Nova Era“, onde anunciaram uma parceria sólida alicerçada na defesa de “relações internacionais de um novo tipo”. Dezenove meses depois, o Secretário de Estado americano, cuja função equivale à de Ministro de Relações Exteriores, discursa admitindo que vivemos um “ponto de inflexão histórico – o fim da era pós-Guerra Fria e os primeiros dias de uma competição acirrada para definir o que virá a seguir“. Este trecho tem grande importância. Primeiro, Blinken afirma que o mundo que surgiu depois da dissolução da URSS e do campo socialista no Leste Europeu, marcado pela hegemonia unipolar estadunidense, acabou. Em seguida, anuncia a luta “acirrada” para conformar a nova realidade multipolar aos desejos de perpetuação da hegemonia americana. Para isso, Blinken discorre sobre OTAN, AUKUS, QUAD, tudo embrulhado em um linguajar “politicamente correto”, que, no entanto, não consegue esconder que a essência e os objetivos finais do imperialismo continuam iguais. Mesmo quando proclama a determinação de “trabalhar com qualquer país – inclusive aqueles com os quais discordamos em questões importantes“, Blinken imediatamente emenda “desde que desejem atender às necessidades de seus cidadãos“. Fica claro que o árbitro que julga se determinado país está atendendo “às necessidades de seus cidadãos” é ele mesmo, os EUA. O paradoxo da posição americana pode ser assim resumido: os EUA reconhecem que o mundo mudou e farão tudo ao seu alcance para que nada mude.

China e Venezuela elevam relação para “associação estratégica”

Os presidentes Nicolás Maduro, da Venezuela, e Xi Jinping, da China, concordaram, nesta quarta-feira, em elevar o nível da relação dos dois países para uma “associação estratégica binacional” e reiteraram seu compromisso com a defesa dos interesses comuns, como detalhou o chanceler venezuelano, Yván Gil. “A China e a Venezuela concordaram em elevar as relações bilaterais a uma parceria estratégica que seja resistente e duradoura. Ambos os presidentes mantiveram conversas nas quais reafirmaram o compromisso de defender interesses comuns e fortalecer a cooperação e a solidariedade“, publicou o diplomata em uma mensagem na rede social X (antigo Twitter). Os líderes reuniram-se em Pequim, no âmbito de uma visita de Maduro à nação asiática que começou na sexta-feira, dia 8. Na segunda-feira (11), o presidente venezuelano solicitou formalmente a entrada da Venezuela no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos BRICS, depois de ter conversado com a presidente da referida entidade, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff. O chefe de Estado explicou que, durante a conversa com Dilma Rousseff, em Xangai, discutiram “os benefícios da entidade bancária na construção de um novo sistema econômico justo e equitativo” no contexto da emergência do novo mundo multipolar. Assegurou que seu país pretende tornar-se membro pleno da instituição bancária internacional “de forma modesta, mas significativa, porque a Venezuela está ajudando a construir a nova geopolítica mundial“. Da mesma forma, Maduro mostrou-se otimista com seu pedido de adesão ao grupo BRICS. “Tenho a certeza de que muito em breve a Venezuela aderirá aos BRICS como membro pleno“, enfatizou o presidente.

G77+China reunirá centenas de países em Cuba

A agência Xinhua informa que delegações de diversos países começaram a chegar em Havana nesta terça-feira (12) para participar da Cúpula do Grupo dos 77 mais China (G77+China), que acontecerá nos dias 15 e 16 de setembro. A Cúpula G77+China espera contar com a participação de mais de uma centena de delegações dos países membros do grupo, bem como de organizações internacionais. Até o momento, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, confirmou sua presença; da Argentina, Alberto Fernández; da Colômbia, Gustavo Petro; e de Honduras, Xiomara Castro, bem como primeiros-ministros e altos funcionários de governos, segundo o Ministério das Relações Exteriores de Cuba. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, também anunciou sua presença na Cúpula. Cuba assumiu a presidência ‘pro tempore’ do G77+China em janeiro de 2023, sendo esta a primeira vez que a nação está à frente do bloco de 134 países. A presidenta do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, integra a delegação brasileira e cumprirá uma intensa agenda durante o evento.

Urânio empobrecido na Ucrânia – As provas e as ajudas

O articulista Gustavo Carneiro publicou, na edição desta quinta-feira (14) do jornal Avante!, um artigo sobre o fornecimento, pelos EUA, de urânio empobrecido para a Ucrânia. Principais trechos: “Os EUA anunciaram na semana passada o envio de munições com urânio empobrecido para a Ucrânia (…) Diante deste anúncio, as grandes cadeias midiáticas ocidentais logo replicaram a garantia deixada pela porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh, de que ‘não há provas’ de que o urânio empobrecido provoque câncer ou outras doenças graves. E ficaram por aí, optando por ignorar aquilo que é uma realidade incômoda: nas ocasiões em que foi massivamente utilizado (no Iraque, em 1991 e novamente em 2003, e na antiga Iugoslávia, em 1999), o urânio empobrecido deixou um rastro de doença e de morte difícil de disfarçar – e, mais ainda, de atribuir a uma qualquer coincidência. Múltiplos estudos e relatórios, elaborados por investigadores e institutos de natureza diversa, têm vindo a relacionar o uso de urânio empobrecido com o aumento da incidência de diversos tipos de câncer, de patologias renais e digestivas, de distúrbios neurológicos, de malformações e de infertilidade, tanto entre as populações iraquianas, sérvias e kosovares como em militares norte-americanos e de outros países da OTAN: a Síndrome do Golfo e, mais tarde, a Síndrome dos Balcãs, que afetaram e ainda afetam milhares de veteranos de guerra, estão muito provavelmente relacionadas com a exposição à radiação liberada na sequência do uso deste tipo de munições. Aliás, a autópsia realizada ao militar português Hugo Paulino, que morreu no ano 2000, pouco depois de regressar de uma missão no Kosovo, admitia mesmo essa possibilidade (…) não será seguramente por acaso que a Assembleia-Geral das Nações Unidas defendeu, em 2007, uma moratória à utilização destas munições e que o Parlamento Europeu adotou, no ano seguinte, uma resolução propondo a sua proibição global. Que se prefira gabar as qualidades destas munições no campo de batalha e ocultar a sua dramática herança (o ciclo de vida do urânio mede-se em milhares de anos) é já de si revelador de um jornalismo aprisionado. Que se chame a isso ‘ajuda’ não passa de subserviência: é que, tal como as bombas de fragmentação, também o urânio continuará a matar muito para lá do silêncio das armas“.

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