OTAN frustra Ucrânia mas oferece valiosos “prêmios de consolação”

Leia mais: Racismo violento de Ministra finlandesa vem à tona / Turquia está se tornando um país hostil, diz chefe da Comissão de Defesa da Rússia / entre outras notas.

Como já era previsto, a Ucrânia sai frustrada da Cúpula da OTAN, sem convite para integrar o bloco ou promessa palpável de uma adesão garantida, mas com fortes palavras de incentivo e, concretamente, com vários “prêmios de consolação” que apontam a perspectiva de escalada do conflito a curto prazo. Mesmo assim não se pode dizer que Zelensky saiu vitorioso. Lembramos que em abril o presidente ucraniano declarou que “a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que se realizará em julho poderá se tornar histórica se a Ucrânia receber um convite formal para aderir”, no que contou, na ocasião, com o incentivo do Secretário-Geral da Otan, Jens Stoltenberg, que respondeu dizendo que “todos concordam que a Ucrânia deve se tornar membro da aliança”. Ou seja, a expectativa era alta, mas sequer foi atendido o pedido mais moderado de Zelensky de que fosse estabelecido ao menos um cronograma que apontasse uma data clara para uma futura e condicional adesão. A frustração aos planos ucranianos era esperada desde que o país que manda de fato no bloco militar anunciou repetidas vezes que não entraria em confronto direto com a Rússia por causa da Ucrânia. Nesta terça-feira (11), o porta voz da Casa Branca, John Kirby, antecipou, em Washington, o que aconteceria mais tarde na Lituânia, sede da Cúpula da OTAN, ao declarar, à CNN News via Sputnik, que era “improvável que a Ucrânia se junte à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em um futuro próximo”, acrescentando, ao ser cobrado em relação à questão do cronograma, que “a adesão (da Ucrânia) à OTAN no futuro imediato não é provável, porque isso colocaria a OTAN em guerra com a Rússia”. O norueguês Stoltenberg, que tem a inestimável capacidade de se ajustar imediatamente às ordens dos EUA, declarou que por enquanto o importante é que a OTAN faça tudo para que Kiev vença a guerra pois se a Ucrânia não prevalecer (pelo que me recordo é a primeira vez que um dirigente atlantista admite em público essa possibilidade) “não haverá adesão a ser discutida”.

A lição de Zakharova

Reuters, embora comece sua abordagem confessando que “os líderes da OTAN frustraram as esperanças da Ucrânia”, em seguida contemporiza alegando que “embora a OTAN não tenha oferecido um convite imediato, ela retirou um requisito preliminar para a Ucrânia cumprir que é chamado de Plano de Ação de Adesão (PAA), removendo efetivamente um obstáculo no caminho de Kiev para a aliança”, consolo bastante pobre. Ocorre que o PPA já foi abandonado no caso das adesões da Finlândia e da Suécia, e o comunicado oficial da Otan, no fim do primeiro dia de trabalhos, ainda coloca condicionantes mesmo no futuro quando fala que estará “em posição de convidar a Ucrânia a aderir à aliança quando os aliados concordarem e as condições forem cumpridas”. O texto diz que as condições mencionadas incluem avaliações regulares, por representantes da OTAN, de critérios relacionados a compromissos democráticos, entre outros. O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitry Kuleba, queixou-se à mídia de que não havia ficado claro para ele que “requisitos” seriam esses que até então ele desconhecia, o que motivou uma resposta um tanto grosseira, mas vamos combinar, divertida e lúcida da porta voz do MRE da Federação Russa, Maria Zakharova. Zakharova, segundo o site Pravda, chamou o chanceler ucraniano de “idiota” por não perceber que no “mundo baseado em regras” dos países ocidentais, as “regras” mudam a todo o momento de acordo única e exclusivamente com os interesses dos países dominantes. Zakharova recomendou ainda que Kuleba receba uma orientação nesta área, por exemplo, na Academia Diplomática do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, “onde o programa de educação a distância seria ideal para ele”.

Os prêmios de consolação, valiosos, ameaçadores, mas dificilmente decisivos

Destaco os seguintes pontos positivos da Cúpula da OTAN para a Ucrânia: Os países do G7 anunciaram a criação de uma estrutura internacional que abriria caminho para garantias de segurança de longo prazo para a Ucrânia, visando aumentar suas defesas contra a Rússia. A França se juntará à Grã-Bretanha para fornecer à Ucrânia mísseis de cruzeiro de longo alcance, que podem viajar 250 km, um movimento que permite que as forças ucranianas atinjam tropas e suprimentos russos bem atrás das linhas de frente. A Grã-Bretanha disse que fornecerá à Ucrânia mais de 70 veículos de combate e logísticos, milhares de cartuchos de munição para tanques Challenger 2 e um pacote de suporte de 50 milhões de libras (US$ 65 milhões) para reparo de equipamentos. A Grã-Bretanha também lançará um projeto por meio da OTAN para estabelecer um centro de reabilitação médica para soldados ucranianos. Uma coalizão de 11 nações começará a treinar pilotos ucranianos para pilotar caças F-16 em agosto na Dinamarca, e um centro de treinamento será instalado na Romênia. O programa de treinamento deve permitir que os pilotos ucranianos e o pessoal de serviço possam usar os F-16 em combate no início do próximo ano, se o fornecimento dos caças for acordado. O governo alemão finalizou um pacote de ajuda militar de 700 milhões de euros (US$ 770 milhões) para a Ucrânia, incluindo dois lançadores Patriot do estoque das Forças Armadas alemãs, 40 veículos de combate de infantaria Marder adicionais, bem como tanques de batalha e munições adicionais. A Noruega aumentará seu apoio militar à Ucrânia, de 2,5 bilhões de coroas (US$ 239 milhões) este ano, para 10 bilhões. Zelensky agradeceu em mensagem na noite de ontem no Twitter dizendo que “nossa defesa é prioridade máxima e agradeço aos nossos parceiros por dar novos passos. Mais armas para nossos guerreiros, mais proteção à vida em toda a Ucrânia. Traremos novas ferramentas de defesa importantes para a Ucrânia”.

Os prêmios de consolação, valiosos, ameaçadores, mas dificilmente decisivos – II

Parte da mídia estadunidense tem, nesta quarta-feira (12) falado em “vitória de Biden” na Cúpula da Otan, pois o presidente dos EUA teria fortalecido o bloco com a adesão da Suécia e interrompido a aproximação entre Turquia e Rússia, além de garantir coesão no apoio à Ucrânia. O jornal O Globo contabiliza em US$ 112 bilhões de dólares o total da ajuda em armas prometida ou já enviada por países da União Europeia, OTAN e EUA. Mas esses recursos não são infinitos. A mídia britânica citou, segundo a RT, o secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, segundo o qual a Ucrânia deveria adotar um tom menos exigente ao falar com as nações que a estão armando para lutar contra a Rússia. “Não somos a Amazon”, disse ele. Na Súmula Internacional do dia 21/4, é citado o valor que os EUA gastaram na época para apoiar o Vietnã do Sul: US$ 150 bilhões de dólares. Este valor, corrigido depois de 50 anos, deixaria Zelensky com uma inveja danada, mesmo assim esta fortuna incalculável não foi suficiente para impedir a vitória total dos vietcongs contra um governo corrupto de extrema-direita. Encher a Ucrânia de armas e dinheiro sem dúvida coloca mais lenha na fogueira da guerra e aumenta a já enorme pressão sobre a Rússia, embora cresça a impressão de que esta cúpula pode ter representado “a última chance” de Kiev, pois seus parceiros provaram, na Lituânia, que estão dispostos a muita coisa para derrotar a Rússia, mas não estão dispostos a tudo.

Racismo violento de Ministra finlandesa vem à tona

Há quinze anos, a neofascista Rikka Purra defendia “cuspir em mendigos e espancar crianças negras”

A agência EFE informa que o governo finlandês enfrenta uma nova crise depois que foi divulgado que a atual Ministra das Finanças e líder do partido de extrema-direita “Verdadeiros Finlandeses”, Riikka Purra, deve ser a autora de uma série de violentos comentários racistas publicados há quinze anos na internet. Os comentários, assinados por uma mulher chamada “Riikka”, foram publicados em 2008 no blog do líder de extrema-direita e atual presidente do Eduskunta (parlamento finlandês). A imprensa finlandesa atribui os textos assinados por “Riikka” à Ministra das Finanças devido às coincidências (além do mesmo nome) em muitos dados pessoais entre a autora dos comentários e a atual líder neofascista. Nesses textos, ela se refere aos negros com o termo pejorativo “neekerit”, aos muçulmanos como “paus de moka” (moka – variedade de café originário de países árabes) e aos imigrantes da Turquia como “macacos turcos”. “Se algum de vocês estiver em Helsinque, alguém se apresenta para cuspir em mendigos e espancar crianças negras?”, escreveu “Riikka” no fórum do blog em julho de 2008. Dois meses depois, publicou um “post” no qual assegurava que, se lhe dessem uma arma, “haveria cadáveres até no trem”. A ministra não negou nem admitiu ter escrito estas frases e confirmou que realmente escrevia comentários no blog naquela época, justificando que na ocasião ela estava “muito frustrada” com certos aspectos da imigração na Finlândia e que por conta disso acabava escrevendo “de uma forma estúpida e raivosa”, o que não deixa de ser uma admissão tácita. Riikka Purra, porém, recusou-se a pedir desculpas pelos comentários o que revela que, no fundo, continua pensando exatamente igual e apenas contingências políticas a fazem dar declarações mais “sensatas”. O primeiro-ministro, Petteri Orpo, pressionado a se pronunciar sobre o caso, declarou-se satisfeito com as explicações dadas pelo Partido “Verdadeiros Finlandeses”. Orpo está Vilnius, Lituânia, ao lado de outros líderes “democráticos” na cúpula da “democrática” OTAN, organização a qual a Finlândia recentemente aderiu.

Turquia está se tornando um país hostil, diz chefe da Comissão de Defesa Russa

O chefe da Comissão de Defesa e Segurança do Conselho da Federação Russa (Câmara Alta, equivalente ao Senado brasileiro), General Viktor Bondarev, alertou nesta segunda-feira (10) que, com as últimas decisões adotadas por Ancara, a Turquia está gradualmente se transformando em um “país hostil” em relação à Rússia. “Os eventos das últimas semanas, infelizmente, demonstram claramente que a Turquia continua a se converter gradual e constantemente de um país neutro para um país hostil“, disse Bondarev à agência russa TASS, citado pela Europa Press. O general criticou as autoridades turcas por “decisões provocativas” de Ancara depois da visita do presidente ucraniano, Zelensky, como a transferência de prisioneiros de guerra para Kiev. Bondarev lembrou que esses prisioneiros de guerra ucranianos estavam em território turco em virtude de acordos anteriores alcançados por Kiev e Moscou. “A Turquia ignorou isso deliberadamente e também defendeu a entrada acelerada da Ucrânia na Otan e a construção de uma fábrica de drones de ataque na Ucrânia“, disse Bondarev, que atribui essa nova posição adotada por Ancara à pressão das potências ocidentais, bem como ao fim iminente do acordo de grãos. O senador censurou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, por ter tomado uma série de “decisões estúpidas e impulsivas”. “Tal comportamento não poderia ser chamado de nada além de uma facada nas costas“, acrescentou Bondarev. Mais tarde, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, observou que a Rússia e a Turquia mantêm comunicações abertas no mais alto nível diplomático, com as quais esperam que Ancara dê uma explicação para a decisão de permitir a transferência de comandantes ucranianos de volta ao seu país. “Isso é uma violação do acordo existente, e vamos discuti-lo com o lado turco, como já começamos a fazer. É muito importante que, ao contrário de vários países do Ocidente coletivo, a Turquia mantenha um diálogo conosco”, disse Peskov. Durante uma conferência de imprensa, o porta-voz do Kremlin alertou que a Rússia terá em conta os últimos acontecimentos ao abordar futuros acordos, embora tenha garantido que o tratado para promover um centro de gás comum entre Moscou e Ancara não será afetado. “Pretendemos continuar nossas relações com a República da Turquia, que são de fato multifacetadas”. No entanto, embora as comunicações entre a Rússia e a Turquia estejam abertas, Peskov informou que uma conversa entre o presidente russo Vladimir Putin e Erdogan não é esperada no momento, embora tenha deixado a porta aberta para tais contatos caso fossem necessários.

Cuba protesta contra presença de submarino nuclear dos EUA na baía de Guantánamo

O Ministério das Relações Exteriores de Cuba manifestou sua “rejeição categórica” à entrada na Baía de Guantánamo, em 5 de julho de 2023, de um submarino de propulsão nuclear dos EUA que permaneceu até 8 de julho na base militar estadunidense ali localizada, o que “constitui uma escalada provocativa por parte dos Estados Unidos, cujas motivações políticas ou estratégicas são desconhecidas. Como se sabe, a base militar estadunidense ocupa há 121 anos aquele território de 117 quilômetros quadrados, contra a vontade do povo cubano e como remanescente colonial da ocupação militar ilegítima do nosso país iniciada em 1898, após a intervenção expansionista na guerra de independência dos cubanos contra o poder colonial espanhol” diz a nota da chancelaria cubana, denunciando que a permanência da ocupação da base de Guantánamo “apenas responde ao objetivo político de tentar violar os direitos soberanos de Cuba. A sua utilidade prática nas últimas décadas reduziu-se a servir de centro de detenção, tortura e violação sistemática dos direitos humanos de dezenas de cidadãos de vários países”.

Primárias da oposição são uma fraude, diz PSUV

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) qualificou, nesta segunda-feira, como fraude o processo eleitoral interno promovido pela oposição daquele país caribenho, por meio de uma “Comissão Nacional de Primárias”. Segundo o primeiro vice-presidente da organização política Diosdado Cabello, a oposição está mentindo para o povo. “Estão mentindo para você e estão te falando, ‘registre-se aqui que você vai votar nas primárias’, eles estão mentindo, estão te enganando de novo“, detalhou o importante dirigente durante a conferência de imprensa semanal do PSUV. Cabello lembrou que o ex-governador Henrique Capriles e a ex-deputada María Corina Machado, ambos da oposição, estão inabilitados por crimes administrativos. “Quero lembrar que Capriles está inabilitado por corrupção, não está inabilitado porque o perseguem como fazem o mundo acreditar”, disse ele. Cabello destacou que as inabilitações não se devem a uma medida estabelecida pelo presidente Nicolás Maduro, mas pelo órgão estatal correspondente. Ao mesmo tempo, o deputado considerou ilógico que estes líderes da oposição tenham pedido a aplicação de sanções contra o país e agora promovam a sua candidatura às eleições presidenciais de 2024.

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