Com popularidade em baixa, Zelensky pede encontro com Lula em Nova York

Mundo está atento para postura do ucraniano em relação a negociações para a paz. Lula deve mais ouvir que falar e espera um plano para suspensão do confronto.

Ricardo Stuckert/PR

Está confirmada para esta quarta-feira (20), a reunião bilateral entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente em Nova York para a 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky. Essa reunião marca um momento significativo na agenda de Lula, pois será a primeira vez que ele se encontrará presencialmente com Zelensky desde que assumiu o cargo de presidente do Brasil. O encontro ocorre em um contexto de desafios diplomáticos e uma complexa dinâmica geopolítica, em que a guerra com a Rússia já dura uma ano e meio.

A confirmação desta reunião foi precedida por uma série de desencontros e declarações controversas entre ambos os líderes. O fato de Lula defender uma mesa de negociações com Putin e Zelensky tem desagradado o ucraniano que ignora a hipótese de encerrar a guerra sem uma vitória total. Com isso, tem feito ataques a Lula como quando afirmou: “Para ser sincero, eu achava que ele (o presidente Lula) tinha uma compreensão mais ampla do mundo”.

Quando recusou encontros com Lula em outras cúpulas, como o G7, Zelensky era tratado como um astro de Hollywood por americanos e europeus. Na ocasião, Zelensky estava preparando a contraofensiva à Rússia e buscava abastecer seu arsenal. A contraofensiva teve resultados pífios.

Lula já havia dito que o Brasil não cederia armamentos à Ucrânia. “Nós nem temos armamentos pra ceder”, disse o senador Jaques Wagner (PT-BA) nesta segunda (18), em tom de piada, ao confirmar que a posição do Brasil pela solução diplomática não deve se alterar depois da conversa com o ucraniano. Wagner deverá participar da conversa com Zelensky, além do assessor internacional Celso Amorim e do chanceler Mauro Vieira.

Agora, porém, o momento de Zelensky é diferente em relação a maio. Zelensky encontra-se em sua maior baixa de popularidade desde o início do conflito. Ainda sem resultados militares robustos na contraofensiva à Rússia, tendo tido que demitir seu ministro da defesa recentemente sob alegações de corrupção, que vêem desde o primeiro ano de guerra. A população começa a desconfiar do seu comandante. Ele também tem recebido críticas públicas sobre sua estratégia militar, justamente dos americanos, os maiores financiadores do esforço bélico ucraniano. Zelensky não atravessa uma boa fase e talvez isso tenha aumentado sua disposição para encontrar com Lula e melhorar sua imagem internamente.

Zelensky pede encontro

As negociações para que os dois chefes de Estado e de governo se encontrassem vêm desde a semana passada. O chanceler Mauro Vieira e seu congênere ucraniano, Dmytro Kuleba, vinham ajustando a possibilidade de Lula e Zelensky aproveitarem a passagem por Nova York. O assessor especial e ex-ministro das relações Exteriores Celso Amorim tem dito que “o encontro se dá só agora, porque as agendas permitiram. Foi ele (Zelensky) que pediu o encontro”.

O Brasil, junto com a Índia e a China, tem proclamado publicamente uma postura de neutralidade na guerra entre a Ucrânia e a Rússia. No entanto, a tentativa de conciliar agendas para um encontro entre Lula e Zelensky desde maio deste ano, durante a Cúpula do G7 no Japão, não teve sucesso, devido a problemas de agenda em ambos os lados. Zelensky preferia se encontrar com aliados dispostos a armá-lo com fartos recursos para sua guerra.

A reunião em Nova York é vista como uma oportunidade para uma reaproximação e discussões sobre o papel do Brasil na resolução diplomática do conflito ucraniano. Lula já manifestou interesse em criar um “clube da paz” para buscar uma solução diplomática para o conflito que já dura um ano e meio. Isso, no entanto, gerou preocupações de que o Brasil estaria favorecendo a Rússia em detrimento da Ucrânia. Os aliados da guerra não aceitam o discurso de Lula, se não estiver apoiando amplamente uma derrota da Rússia. No entanto, o prolongamento da guerra tem exaurido a paciência internacional, que sofre com seus efeitos econômicos.

Lula deve mais ouvir do que falar, segundo informações do Planalto, e que será a chance de Zelensky expor um plano de 10 passos para que o confronto seja suspenso. Esta é também oportunidade para Lula reafirmar sua disposição de se colocar como um dos interlocutores — ele integraria um colegiado de países não alinhado a qualquer dos lados no conflito — para a construção de um tratado de paz. Para isso, precisaria ganhar a confiança de Zelensky.

Além do encontro com Zelensky, Lula também está programado para se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para lançar uma iniciativa global para a promoção do trabalho decente. Essas reuniões destacam o papel do Brasil no cenário internacional e sua busca por um equilíbrio diplomático em meio a conflitos globais. A reunião com Biden pode influenciar a postura de Lula no encontro com Zelensky.

Porém, a realização da reunião com o ucraniano ainda é incerta devido à dinâmica instável das agendas durante a Assembleia Geral da ONU. Há preocupações de que um novo desencontro entre os líderes possa causar ruídos políticos. A disposição de Zelensky e a direção das conversas podem influenciar significativamente a relação Brasil-Ucrânia e a participação do Brasil na busca de uma solução para o conflito ucraniano.

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