Lula discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça
Discurso deve criticar a governança global das Nações Unidas e defender mais participação e representatividade dos países emergentes.
Publicado 18/09/2023 14:56 | Editado 19/09/2023 12:34
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve defender a reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas em seu discurso de abertura na Assembleia Geral da ONU, nesta terça (19), em Nova York.
Será a oitava vez em que Lula faz o pronunciamento. Em seus dois primeiros mandatos, ele deixou de comparecer apenas em 2010.
Lula desembarcou em Nova York no sábado (16) após participar da reunião de líderes do G77, grupo que reúne países em desenvolvimento, em Havana (Cuba). Os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fazem parte da delegação brasileira.
Lula deve voltar ao púlpito da ONU com um discurso voltado a reforma da governança global, na defesa de um maior comprometimento dos países ricos com a pauta ambiental, além da tentativa de colocar em marcha uma campanha mundial contra a desigualdade.
O eixo central da fala de Lula deve ser mesmo a crítica ao modelo atual do sistema de governança da ONU, que permite que as potências afastem o Sul Global das grandes decisões.
“Não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as crises múltiplas que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global”, afirmou o presidente, durante participação no G7, em maio.
“Sem a reforma do Conselho de Segurança, com a inclusão de novos membros permanentes, a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século XXI. Um mundo mais democrático na tomada de decisões que afetam a todos é a melhor garantia de paz, de desenvolvimento sustentável, de direitos dos mais vulneráveis e de proteção do planeta. Antes que seja tarde demais”, completou.
Atualmente, o Conselho de Segurança tem duas categorias de membros: os cinco países permanentes, que, entre outros poderes, podem usar o direito de veto, bloqueando as decisões do grupo. Entre eles, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. E os membros não permanente, escolhidos em eleição na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Recentemente, o ministro das Relações Internacionais, Mauro Vieira, disse que todo os membros do Brics estão alinhados com o pensamento do governo brasileiro.
“Todo os países que fazem parte do Brics estão de acordo que a governança mundial precisa ser reformada, sobretudo no Conselho de Segurança das Nações Unidas, aumentando o número de membros permanentes e não permanentes”.
Para o chanceler, os assentos no Conselho precisam ser mais representativos. “Que seja mais representativo do mundo de hoje. Precisamos adaptar e trazer um número maior de países, como a Índia, Brasil, no mínimo dois países da África, onde está uma grande massa populacional e que não tem voz neste órgão.
Meio ambiente e desigualdade
Lula também deve voltar a cobrar os países ricos pela promessa de US$ 100 bilhões para financiar uma rede de proteção aos biomas ainda preservados pelo mundo e que contribuem de forma decisiva para o equilíbrio climático.
Recentemente, na Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), Lula disse que o montante prometido já não é mais suficiente. “Desde a COP 15, o compromisso dos países desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático novo e adicional nunca foi implementado. Esse montante já não corresponde às necessidades atuais. A demanda por mitigação, adaptação e perdas e danos só cresce”, disse.
“Recursos não faltam. Ano passado, o mundo gastou US$ 2,24 trilhões em armas. Essa montanha de dinheiro poderia estar sendo canalizada para o desenvolvimento sustentável e a ação climática”, completou.
O brasileiro também deve provocar as nações unidas por uma campanha contra desigualdade. Na Cúpula do G20, no começo de setembro, em Nova Déli (Índia), Lula discursou contra a fome e criticou o modelo capitalista. “A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram às mãos dos mais vulneráveis”, disse Lula.
“Apesar de todos os esforços, nossa família está cada vez mais desunida. O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer”, afirmou. Lula contextualizou que, há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior do que a dos mais pobres. “Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres”, lamentou.