Dez bilionários são mais ricos que os 40% mais pobres, critica Lula

Lula abre 78ª Assembleia Geral da ONU com forte discurso contra as desigualdades; ele defendeu reformas nos organismos internacionais e criticou o neoliberalismo

Foto: Ricardo Stuckert/ Pr

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso duro contra a desigualdade no mundo, na abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU.

Lula criticou a concentração de riqueza na mão de poucos, enquanto muitos vivem sob as ameaças da fome. “O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe… O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade”, disse Lula.

No púlpito das Nações Unidas, Lula reprovou o modelo econômico neoliberal que criou “uma massa de deserdados e excluídos”.

“O desemprego e a precarização do trabalho minaram a confiança das pessoas em tempos melhores, em especial os jovens. Os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a ‘voz dos mercados’ e a ‘voz das ruas’. O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos.

Para o presidente, além da fome e da precarização, o neoliberalismo produziu personagens políticos autoritários de extrema-direita.

“Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário”.

Lula condenou o gasto excessivo com a indústria bélica ao passo que a fome “atinge hoje 735 milhões de seres humanos”. “Investe-se muito em armamentos e pouco em desenvolvimento. No ano passado os gastos militares somaram mais de 2 trilhões de dólares. As despesas com armas nucleares chegaram a 83 bilhões de dólares, valor vinte vezes superior ao orçamento regular da ONU. Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade”, disse.

Como solução, o brasileiro sugeriu mudanças em órgãos internacionais para que o mundo possa “resgatar as melhores tradições humanistas que inspiraram a criação da ONU”. Para Lula, uma nova organização mundial está surgindo devido à incapacidade das Nações Unidas e outros órgãos de solucionar conflitos.

“O princípio sobre o qual se assenta o multilateralismo – o da igualdade soberana entre as nações – vem sendo corroído. Nas principais instâncias da governança global, negociações em que todos os países têm voz e voto perderam fôlego. Quando as instituições reproduzem as desigualdades, elas fazem parte do problema, e não da solução”, afirmou.

Lula exemplificou a desigualdade nos órgãos internacionais usando o caso do Fundo Monetário Internacional. “No ano passado, o FMI disponibilizou 160 bilhões de dólares em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas 34 bilhões para países africanos. A representação desigual e distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é inaceitável”, disse.

O brasileiro fez menção ao Brics, bloco econômico formado por países emergentes, como uma alternativa para as nações mais pobres conseguirem atingir o desenvolvimento econômico sustentável para a população mais pobre.

“As bases de uma nova governança econômica não foram lançadas. O BRICS surgiu na esteira desse imobilismo, e constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes. A ampliação recente do grupo na Cúpula de Joanesburgo fortalece a luta por uma ordem que acomode a pluralidade econômica, geográfica e política do século 21. Somos uma força que trabalha em prol de um comércio global mais justo num contexto de grave crise do multilateralismo”, concluiu.

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