Em último comício, Luisa González convoca equatorianos às urnas
No encerramento da campanha, candidatos do movimento Revolução Cidadã conclamaram o povo a “derrotar nas ruas e nas urnas o retrocesso neoliberal”
Publicado 13/10/2023 13:41 | Editado 16/10/2023 07:32
Em meio a um festival de relâmpagos, frio e sob forte chuva, a advogada Luisa González e o economista Andrés Arauz, encerraram a campanha presidencial do movimento Revolução Cidadã (RC) nesta quarta-feira (11) à noite, no sul de Quito, convocando os equatorianos a “construírem uma Pátria próspera, de solidariedade e de direitos”.
Protegidos do enorme aguaceiro no terraço de uma casa ao lado do palanque, ladeados por franco-atiradores do Exército e jornalistas europeus vestidos com coletes à prova de balas, registramos testemunhos eloquentes. O compromisso nacionalista e progressista do RC de que tanto nos havia falado – e emocionado – o motorista do Uber que fez a viagem de 15 quilômetros até o local era confirmado pela massiva presença do povo, que não se abalou com a tormenta que caiu durante todo o comício.
“Aqui há convicção de Pátria e por isso resistimos a toda adversidade”, saudou a candidata à presidência, frisando que o próximo domingo (15) “não será mais uma eleição, pois nunca tivemos um Equador tão destroçado”. “Nunca tivemos os níveis de insegurança que temos hoje [se multiplicaram por cinco nos últimos seis anos], nunca fomos tão excluídos. Por isso estamos aqui resistindo para transformar a Pátria, uma Pátria onde uma mãe não tenha que ver o seu filho migrar, onde pais e mães não vejam os seus filhos dormir com fome por não ter um prato de comida, porque não há emprego. Uma Pátria onde nossos jovens brinquem livres e realizem os seus sonhos, em que possam estudar o curso que queiram”, ressaltou. Por isso, construiremos aqui a Universidade do Sul, explicou, “porque serão os jovens quem construirão o país de amanhã, por isso ampliaremos os recursos e as cotas”.
Ex-secretária nacional da Administração Pública do Equador, coordenadora dos Ministérios durante o governo de Rafael Correa, Luisa se comprometeu a voltar a devolver os recursos para que as administrações estaduais e municipais enfrentem as adversidades. “Somos o terceiro pior país em índice de desnutrição crônica infantil e precisamos dar atenção aos nossos idosos, às suas aposentadorias, à sua saúde. Neste domingo, estaremos votando pelo emprego formal, com filiação ao IESS (Instituto Equatoriano de Seguridade Social), para que nos atendam com qualidade, com carinho, mas sobretudo para que haja os medicamentos necessários”, disse.
Reativação produtiva e ampliação do crédito
ntre as medidas emergenciais no curto mandato de um ano, Luisa anunciou que priorizará “gerar empregos mediante a reativação produtiva, que vai começar com investimentos públicos eficientes, mas também com a ampliação de linhas de crédito”.
A candidata repudiou o comportamento das elites que tomaram de assalto o poder e deram as costas ao país. “Não entenderam o que sentimos diante de tanto esquecimento e acharam que iríamos aguentar para sempre tamanho abandono, desemprego e insegurança. Mas temos voz e a Pátria que colocaram de joelhos agora se levanta e vai andar, com vocês, e construir um país justo. Daí a importância de cuidar o voto, que é o seu direito e de suas famílias a um futuro melhor”, esclareceu.
Noboa, menino do nunca
Sobre o governista Daniel Noboa, menino rico cuja família detém 5% do Produto Interno Bruto do Equador, Luisa González foi bastante crítica. “Quem nunca sentiu o que sentimos não pode mudar este país. Quem nunca passou fome, quem nunca pegou um ônibus, quem nunca batalhou por um aluguel, quem nunca foi procurar trabalho, quem nunca ficou de plantão esperando para fazer quimioterapia em um hospital público, não sabe da necessidade da contratação de médicos, não sabe da necessidade da mudança. Quem nunca pisou nas nossas terras e nos nossos bairros desconhece como vivemos. Nós sabemos das necessidades porque somos gente como vocês. Nós temos vocês, que terão sua presidenta e que fará com que sejam respeitados”, acrescentou.
“Vamos trabalhar juntos com nossos assembleístas (membros do parlamento unicameral), nossos prefeitos, nossos vereadores, em cada rincão da Pátria, pelas obras que o país necessita e vamos pôr o país de pé. Vamos levantar a Pátria em unidade, levantar este Equador maravilhoso, com a bandeira tricolor nacional (amarela, azul e vermelha). Vamos juntos demonstrar que queremos outro país. Que estamos cansados de que nos tratem como se fôssemos sua empresa privada. Até a vitória sempre”, concluiu Luisa sob aplausos.
Candidato à vice-presidente, Andrés Arauz destacou que “este encerramento de campanha entrará para a história do Equador, pois dará o triunfo ao povo”. “Serão tempos de vitórias e alegrias, de investimentos no país”, anunciou, se contrapondo aos governos de arrocho salarial e precarização de direitos dos governos de Lenin Moreno (2017-2021) e do banqueiro Guillermo Lasso, que diante do impeachment, decidiu antecipar as eleições para este ano.
“Nós estamos aqui lutando pelos direitos das grandes maiorias, de todos e de todas, para que possamos preservar a essência do que nos faz humanos: a solidariedade, a convivência e a vida em comunidade. Nossa sociedade depende destes valores coletivos”, frisou Arauz, defendendo “um projeto de desenvolvimento de país que está cristalizado na Constituição da nossa República”. “Constituição pela qual lutamos por várias gerações, e que logo após ter derrotado o neoliberalismo conseguimos implementar e concretizar. Algo do qual se beneficiou o nosso povo, com educação e saúde públicas, com remédios para todos, com investimentos em obras que melhoraram nossa infraestrutura, que nos permitiram dar um salto de qualidade”, assinalou.
Ministro da Economia e do Talento Humano de 2015 a 2017 durante o governo do presidente Rafael Correa, Arauz recordou que, a partir de então, o país foi tomado por “políticas de ódio e de desinstitucionalização, o que nos custou a segurança e a justiça”. Assim, seguindo o receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI), fizeram com que as políticas públicas ficassem “desordenadas e desmanteladas”, criticou.
Candidato a presidente contra Guillermo Lasso em 2021, Arauz denunciou a trama da oligarquia e dos setores vende-pátria da mídia, que contando com apoio internacional, investiram na capitulação: “lamentavelmente não me equivoquei sobre o que iria ocorrer, com o abandono e a expulsão. E as consequências estão aí: são quase 300 mil irmãos e irmãs, compatriotas, que tiveram de abandonar a Pátria desde que chegou Lasso ao poder”.
Luisa enfrentou os interesses oligárquicos
“Todos sabemos que este segundo turno teve um dia chave, quando frente a todos os canais e rádios do país tivemos uma mulher valente e aguerrida, com conhecimento e experiência, com capacidade e sagacidade. Ela enfrentou os interesses oligárquicos, a minha companheira, amiga e revolucionária Luisa González”, apontou Arauz, comemorando o desmascaramento da outra candidatura.
Agradecendo a presença de todos na noite fria e chuvosa, Arauz pediu para que todos conversem com seus amigos, parentes e vizinhos, fazendo de “domingo um dia chave para retificar e corrigir o caminho da história”. Diante da possibilidade de qualquer armação de fraude golpista, reiterou que é preciso estar unido e mobilizado, “nas urnas e nas ruas”, para que a vontade popular prevaleça. “Não permitamos que este governo indolente tente nos enganar”, enfatizou.
Um pouco menos enfático que o motorista do Uber, o taxista que nos trouxe para onde estamos hospedados expressou sua definição pelo voto em Luisa, da mesma forma que o atendente do pequeno restaurante no qual encerramos a jornada.
Nas capas dos jornais da chamada grande mídia desta quinta-feira (12), a mediocridade e o cinismo são a manchete. Para não ter de reconhecer que o seu candidato, o arquibilionário Daniel Noboa, sequer fez comício, limitando-se a fazer uma inexpressiva carreata de conclusão de campanha, simplesmente ignorou o ato da Revolução Cidadã.
O jornal La Hora, um dos poucos a noticiar a manifestação estampou: “Entre a esperança com dúvidas e a certeza do populismo estatista: como os investidores internacionais veem as eleições no Equador”, criticando Luiza por ”representar a reedição do governo de Correa”.
Nesta quinta, a candidata finalizará sua campanha em Guayaquil e Manta.
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