Brasil se fortaleceu como “mediador” na presidência de Conselho da ONU

País presidiu o Conselho num dos mais tensos momentos da política internacional, liderando tentativas de acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza

Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, monitora a operação de resgate de brasileiros da área de conflito em Israel e Palestina, durante uma coletiva de imprensa no Itamaraty, ao lado do ministro da Defesa, José Mucio, e do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno - Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

Durante os 31 dias em que ficou à frente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), o Brasil atuou como mediador e árbitro em meio ao conflito no Oriente Médio – e não como ator político. É o que avaliam especialistas ouvidos pela Agência Brasil. 

O País presidiu o Conselho de Segurança em um dos mais tensos momentos da política internacional, liderando as tentativas de acordo entre seus membros para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Quatro propostas de resolução sobre o conflito foram rejeitadas, mas o País se fortaleceu.

O professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernando Rocher é um dos especialistas que destacam a ação moderadora do Brasil na ONU. “A diplomacia se manteve firme tentando construir um acordo de cessar-fogo e de criação de um corredor humanitário para a população de Gaza, que está sendo bombardeada”, afirma. “Esse foi o ponto de destaque – não buscar conflito, não aprofundar as tensões, agindo como um gerente da causa, e não como um ator político.”

Segundo Rocher, com esse comportamento, o Brasil saiu bem visto pelos países árabes, mas acabou por desgastar um pouco as relações com Estados Unidos e Israel. “Para o mundo árabe, o Brasil agiu com justiça e com equilíbrio, tentando resolver um problema, e não o ampliando.”

Em relação a Israel e aos Estados Unidos, o professor ressaltou que “arestas foram criadas porque o Brasil apontou para um caminho independente e soberano”. Para ele, Israel exige uma submissão total ao ponto de vista deles. “O Brasil confere legitimidade ao Estado de Israel, mas não nos termos absolutos que eles querem”, diz. Já os Estados Unidos, a seu ver, “não conseguem suportar muito o protagonismo e a liderança que a diplomacia brasileira tenta construir em vários campos”.

Gustavo Mendes de Almeida, pesquisador do Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb), considera que o Brasil acertou ao não se vincular diretamente a Israel e ao condenar os ataques do Hamas. “A gente vê isso pela resolução, que teve ampla aceitação”, pondera.

“Ela foi vetada pelos Estados Unidos, o que era de se esperar por conta das relações históricas que os Estados Unidos têm com Israel. Mas o fato de países como a França, que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, ter votado favoravelmente à resolução brasileira demonstra como ela foi bem planejada e articulada pela diplomacia do Brasil”, agregou. 

Para Almeida, a atuação do País fortalece o pleito brasileiro por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. “O Brasil, historicamente, atua de maneira pacífica no sistema internacional por não ter confrontação aberta com nenhum outro país. Com isso, o Brasil segue bem como esse agente moderador que tenta pacificar as relações”, analisa. “O Brasil demonstrou para o mundo a importância que a diplomacia brasileira tem em tentar promover a paz.”

Com informações da Agência Brasil

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