Guerra deixa rastro de destruição na economia da Palestina, diz relatório da ONU

Um país ocupado que já sofria de “antidesenvolvimento”, com o prolongamento da guerra, 12% da economia palestina desaparecerão – um nível de dano econômico só atingido após três anos de guerra civil na Síria.

Palestinos passam por edifícios destruídos em al-Zahra, nos arredores da cidade de Gaza, em 20 de outubro de 2023.

Tem sido devastador e sem precedentes o impacto do conflito entre Israel e os palestinos na Faixa de Gaza, embora os bombardeios sejam frequentes contra este território, há décadas. A guerra provocou danos sem precedentes na economia e nas infra-estruturas civis, revertendo anos de lento progresso na saúde e na educação. Foram necessários quatro anos de guerra na Síria para causar danos similares aos ocorridos em um mês na Palestina.

Uma nova análise do PNUD prevê um revés significativo para a economia palestina, que poderá durar décadas. O impacto econômico é descrito como “sem precedentes”, exigindo uma abordagem igualmente sem precedentes para a reconstrução. Este relatório fornece uma visão abrangente da terrível situação na Faixa de Gaza resultante do conflito Israel-Hamas, enfatizando a necessidade urgente de assistência humanitária e de esforços de reconstrução a longo prazo.

O conflito em curso resultou na destruição de 90% a 100% do Produto Interno Bruto (PIB) anual da Faixa de Gaza em apenas um mês. O diretor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para os Estados Árabes, Abdallah al-Dardari, sublinha que as perdas não têm precedentes, causando graves reveses econômicos.

A guerra levou à perda de 182 mil empregos em Gaza, constituindo 61% do emprego total.
Os indicadores de qualidade de vida, incluindo as taxas de emprego e o PIB, diminuíram acentuadamente tanto em Gaza como na Cisjordânia. Mais de 10.700 pessoas foram mortas, e 45% do parque habitacional foi destruído, deixando centenas de milhares de pessoas desabrigadas.

Os danos já são perceptíveis na infraestrutura, no aumento da pobreza e no deslocamento da população, na crise humanitária e no impacto na qualidade de vida com consequências econômicas no longo prazo.

O conflito empurrou 96% da população de 2,3 milhões em Gaza para a pobreza. Aproximadamente 1,5 milhões de pessoas em Gaza foram deslocadas devido aos combates. A escassez de alimentos é generalizada, com empresas fechadas e pessoas recorrendo à pilhagem para obter produtos básicos.

“Há 30 anos que acompanho conflitos e escrevo sobre eles. Nunca vi um choque tão dramático em tão pouco tempo”,, diz Al Dardari. Os hospitais estão em dificuldades devido à escassez de combustível e de abastecimento, e muitos foram forçados a suspender as operações.

A crise econômica estende-se para além de Gaza até à Cisjordânia, afetando a agricultura, o turismo e os salários. Se a guerra persistir até o final do ano, os poucos avanços conquistados em 19 anos de lento progresso na qualidade de vida dos palestinos serão perdidos e poderá levar décadas a recuperar. O relatório prevê que a economia palestina poderá sofrer uma queda adicional de 8,4% do PIB se o conflito se estender por dois meses.

Foram feitos apelos para pausas humanitárias no conflito. Israel concordou com pausas diárias de quatro horas nos combates no norte de Gaza, segundo a Casa Branca que pede pausas de três dias. Essas medidas chegam tarde demais, após pressão de todos os países e manifestações por todo o mundo. Até então, tanto Israel quanto EUA, rejeitaram qualquer possibilidade neste sentido. Até o momento, as tréguas ainda são uma incerteza com os bombardeios incessantes.

Antidesenvolvimento

Já em 2022, antes do conflito, um relatório da Unctad, concluia que 2022 foi mais um ano ruim para os palestinos, citando, entre os motivos, a ocupação de Israel. “Num contexto de tensões políticas crescentes, de aprofundamento da dependência da potência ocupante e de um processo de paz estagnado, a economia palestina continuou a funcionar abaixo do potencial em 2022, à medida que outros desafios persistentes se intensificavam”, afirma o relatório.

O texto também afirmava que a Faixa de Gaza viveu 16 anos de “antidesenvolvimento”. “Gaza viveu 16 anos de ‘antidesenvolvimento’ e supressão do potencial humano e do direito ao desenvolvimento. Os esforços internacionais para a recuperação continuam inadequados e abaixo do nível das necessidades prementes”, diz o relatório, sinalizando o que já deveria ser um aumento do tensionamento no território que levou à insurgência atual.

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