Krenak critica a bioeconomia e lembra que capitalismo devora o planeta

O escritor e ativista ambiental Ailton Krenak, primeiro indígena imortal pela ABL, criticou a condução de temas ambientais no Brasil e no mundo em entrevista para site

Foto: Fernando Frazão - Agência Brasil

O escritor e ativista ambiental Ailton Krenak, que se tornou o primeiro indígena eleito para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), concedeu uma entrevista a DW Brasil em que faz uma análise de como o capitalismo devora o planeta terra.

Sobre as mudanças climáticas, que tem feito com que eventos ambientais catastróficos sejam cada vez mais presentes, o ativista observa que os cientistas e responsáveis por articularem respostas que evitem que a humanidade entre em um novo ciclo de extinção não conseguem agir, uma vez que o “capitalismo predatório” que devora o planeta abrange tudo. Assim não é possível tratar as questões atuais fora desse sistema.

Neste aspecto critica o governo Lula, que credita ser possível conciliar a complexidade climática com economia. Sua visão é de que Lula voltou em um momento difícil, pois o Congresso é fascista e a classe econômica – com bancos e agronegócio – se vampiriza ao só buscarem vantagens, sendo que um dia irão se autoconsumir.

Leia também: Amazônia terá recuperação lenta por fenômenos cllimáticos

Para ele, a classe dominante enxerga no capitalismo a única forma de sobreviver no planeta. Com isso irão matar qualquer ideia de desenvolvimento e o governo ficará refém do que chamou de “receita medíocre”, ao contrário do que deveria ocorrer, com o impulsionamento da diversidade étnico-cultural.

Bioeconomia e Povos indígenas

Neste ponto o que enxerga é a bioeconomia ganhando relevo como engodo. A classificação atribuída a ministra Marina Silva, para uma tecnológica, tecno-industrial, técnico-ambiental, chamada de bioeconomia, segundo Krenak é uma nomenclatura ao gosto do capitalismo em que não há nada de novo, muda-se o nome, mas a perversão capitalista continua. Para exemplificar diz que antes se comprava turbinas para hidrelétricas e agora serão bobinas para a bioeconomia – ou seja, mais do mesmo.

Em referência à criação do Ministério dos Povos Indígenas pelo atual governo, acredita que os indígenas não estão sendo admitidos dentro da estrutura de poder. Na verdade, esta é uma cooptação feita pelo governo dentro da democracia liberal como forma de se adequar ao sistema capitalista atual, que exige um mínimo de diversidade e participação social como forma de não ser taxado como ditadura.

Esta atualização dentro do capitalismo que coopta os indígenas – não os inclui em definitivo – é a mesma que se prega desenvolvimentista e visa a exploração de petróleo da Foz do Amazonas, acusa.

Conferência do clima e guerras

Segundo o escritor, a Conferência do Clima realizada neste final de 2023 (COP28), em Dubai, deveria se comprometer em calcular os danos ambientais causados pelos países que promovem as guerras pelo mundo para verificar como os confrontos impactam o clima global. Na sua visão, não adianta discutir mudanças climáticas enquanto “senhores da guerra” comprometem continentes ao fazerem o que bem entendem, sem responsabilidades ao não ter o dano ambiental calculado como dano à humanidade.

Leia também: Brasil perde 15% de suas florestas em 38 anos, revela MapBiomas

Nesse sentido, sobre a contribuição dos países ricos quanto ao controle da exploração predatória do meio ambiente, o ambientalista não espera nada, principalmente da Europa. Para ele, os europeus continuam a se julgar o centro do mundo e somente prometem auxílios, mas não admitem um modelo de corresponsabilidade pelo caos ambiental, uma governança global.

O imortal coloca se portam como salvadores dos que estão afundando, sendo que são eles que afundam o mundo. Por isso, um modelo de corresponsabilidade seria mais justo do que o cinismo da caridade internacional.

Marco temporal e religião capitalista

Sobre o Marco Temporal, classifica que a ação faz parte da “fúria capitalista” que não vai acabar, pois as comunidades que querem seus territórios livres de veneno, crime e droga persistem, assim como o assédio sobre elas.

Leia também: Pesquisador vê relação entre seca no Rio Negro e aquecimento global

Por fim, Krenak ainda lembra que o capitalismo se tornou uma religião planetária. Dessa maneira, a sociedade não indígena se tonou a sociedade da mercadoria. Isto é o que oferece sentido a vida das pessoas no sistema capitalista, reforçando que o capitalismo não é economia, mas sim uma religião.

*Informações DW Brasil. Edição Vermelho, Murilo da Silva

Autor