Magnatas dos EUA fazem campanha para melhorar imagem de Israel

Intenção de investir US$ 50 milhões em mídia tem esbarrado na crescente oposição do público americano em aceitar Israel como vítima do conflito

O magnata bilionário do setor imobiliário nos Estados Unidos, Barry Sternlicht, está liderando uma iniciativa multimilionária para melhorar a imagem de Israel e desacreditar o grupo armado Hamas em meio aos protestos globais de solidariedade pró-Palestina. A campanha, denominada “Facts for Peace,” busca doações de US$ 1 milhão de 50 grandes nomes dos setores de mídia, finanças e tecnologia. As informações são do portal Semafor, que teve acesso a um email restrito da campanha.

A campanha avaliada em até US$ 50 milhões envolve bilionários influentes de Wall Street e Hollywood. Conta com o apoio de personalidades influentes, como o proprietário da CNN, David Zaslav, e o CEO da Endeavor e agente de talentos, Ari Emanuel, este último concordando em coordenar a campanha. Porta-vozes de ambos negam o envolvimento citado no email, assim como Sternlicht optou por não comentar sobre o assunto.

“A opinião pública certamente mudará à medida que as cenas, reais ou fabricadas pelo Hamas, de sofrimento civil palestino certamente corroerão a atual empatia [de Israel] na comunidade mundial”, escreveu Sternlicht no e-mail enviado a mais de 50 influentes, incluindo David Geffen, Michael Milken, Nelson Peltz, Eric Schmidt e Michael Dell, cujos patrimônios líquidos combinados ultrapassam os 500 bilhões de dólares.

Alguns, como o investidor Bill Ackman, ameaçaram publicamente listar estudantes pró-Palestina que criticam Israel, acusando-os de antisemitas. Marc Rowan criticou as universidades pelas manifestações pró-palestinos. No final de outubro, Michael Bloomberg enviou US$ 44 milhões para ricos hospitais israelenses. Outros abordados, como Ari Emanuel denunciou Netanyahu poucos dias após os ataques, declarando: “Acho que é hora de nos livrarmos deste homem.”

Embora não esteja claro o alcance atual do esforço ou quem aderiu, a campanha já arrecadou milhões de dólares, contratou Josh Vlasto, ex-assessor de políticos influentes como o senador Chuck Schumer e o governador Andrew Cuomo, para aconselhar o projeto e lançou discretamente um site.

Em um contexto em que gigantes das redes sociais são acusados de censurar vozes pró-Palestina, a campanha pretende reverter a favor de Israel. No entanto, especialistas e organizações internacionais, incluindo a ONU, têm concluído que Israel pratica apartheid nos territórios ocupados, contrariando a narrativa apresentada pela campanha.

Contranarrativa

A iniciativa, liderada pelo bilionário Barry Sternlicht, tem como objetivo arrecadar US$ 50 milhões em doações privadas, combinadas com contribuições de instituições de caridade judaicas. A campanha já angariou pelo menos alguns milhões de dólares, segundo fontes familiarizadas.

Barry Sternlicht argumenta que a campanha ajudará Israel a “se antecipar à narrativa” à medida que o mundo reage aos recentes ataques intensos na Faixa de Gaza. Ele expressou preocupações de que as cenas de sofrimento civil palestino corroam a empatia global por Israel.

Desde 7 de outubro, Israel tem realizado ataques aéreos na Faixa de Gaza, resultando em milhares de mortes e a destruição significativa da infraestrutura. O ataque surpresa do Hamas em território israelense matou cerca de 1.200 pessoas.

A campanha “Facts for Peace,” liderada por Sternlicht, visa rotular o Hamas como uma “organização terrorista” inimiga não apenas de Israel, mas dos Estados Unidos. O objetivo é publicar vídeos culpando o Hamas pela situação dos palestinos e negando alegações de violações do direito internacional por Israel.

Impotência e desespero

A iniciativa surge em um momento em que o apoio público nos EUA a Israel está enfrentando críticas, com quase metade dos democratas desaprovando a maneira como o presidente Joe Biden gerencia o conflito, de acordo com uma recente pesquisa.

Apesar dos esforços, a crise humanitária em Gaza persiste, e o papel dos EUA, aliado crucial de Israel, permanece central. O Congresso dos EUA recentemente aprovou um pacote de ajuda militar de emergência de 14,3 bilhões de dólares para Israel, mas o apoio público à posição dos EUA parece estar diminuindo. É o que revela pesquisa recente da Universidade de Maryland com o Instituto Ipsos.

Segundo analistas do Semafor, até as figuras mais poderosas da comunicação social, como Zaslav e Emanuel, parecem sentir-se impotentes diante da cobertura midiática do conflito no Oriente Médio, sinalizando uma mudança geracional na política e nos meios de comunicação dos EUA em relação ao apoio automático e bipartidário a Israel.

Embora queiram enfatizar as 1.200 vítimas israelenses, as imagens de palestinos sofrendo não saem das televisões e redes sociais. Muitos desses magnatas que sempre foram expressivos publicamente em relação ao apoio a Israel, e outros temas da geopolítica, estão silenciosos e fora da mídia.

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