Repatriados denunciam ‘massacre’ em Gaza e são recebidos por Lula em Brasília

Depois de 37 dias, avião presidencial com 32 repatriados pousou em Brasília nesta segunda (13). Lula recebeu o grupo e fez críticas ao massacre em Gaza

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Após mais de um mês de pressão do governo federal, os brasileiros e seus parentes repatriados da Faixa de Gaza pelo governo federal chegaram em Brasília nesta segunda (14). O grupo foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva assim que o avião VC-2 pousou na Base Aérea às 23h24.

Além de Lula, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Flávio Dino (Justiça), Silvio Almeida (Direitos Humanos) e outras autoridades também receberam os repatriados.

As negociações para retirar os brasileiros e seus familiares da Faixa de Gaza exigiu esforços da diplomacia brasileira que envolveram desde o presidente da República até os embaixadores do Brasil em Israel, no Egito, na Palestina e até em Nova York.

Foram semanas de negociações até que as famílias brasileiras pudessem atravessar a fronteira entra Gaza e o Egito através do posto de Rafah. A principal dificuldade para autorizar a saída de estrangeiros tinha relação com a segurança. Os países envolvidos queriam ter certeza de que nenhuma dessas pessoas estava ligada a grupos militantes da Faixa de Gaza.

Além das questões da segurança, Israel passou a dificultar a saída do grupo depois que o Brasil propôs a resolução que cobrava o fim do bloqueio à Faixa de Gaza. A resolução foi vetada pelos Estados Unidos, membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e principal aliado geopolítico de Israel.

No desembarque do grupo, o presidente afirmou que o país continuará tentando buscar todos os que quiserem sair da região do conflito e voltar para o Brasil ou, no caso de estrangeiros, acompanhar os parentes brasileiros.

Lula também criticou a postura israelense desde a escalada de agressões a partir dos ataques do Hamas no dia 7 de outubro.

“Aos 78 anos de idade já vi muita brutalidade, muita violência, mas eu nunca vi uma violência tão bruta, tão desumana contra inocentes. Porque, se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que fez, o estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, as mulheres não estão em guerra”, disse Lula após a chegada do avião.

O primeiro a descer foi Hasan Habee, que ficou conhecido pelos vários vídeos que fazia e encaminhava para a imprensa, com depoimentos frequentes da angústia que passava na Faixa de Gaza, em meio a ataques de Israel.

“Boa noite. Queria agradecer ao presidente, governo federal, Força Aérea e Itamaraty. A gente ficou lá 37 dias, muito sofrimento. Às vezes passamos fome e sede”, disse Habee. “O que está acontecendo lá é um massacre. Minhas filhas ficaram muito chocadas lá. Na primeira e segunda semana a gente mentia [para elas]. A gente falava que essas bombas [jogadas por Israel na Faixa de Gaza] eram de festas de aniversário, mas a gente não conseguiu segurar por muito tempo”, acrescentou ele.

Habee falou que as filhas fechavam a janela para se sentirem seguras sempre que um avião do exército israelense passava. Em seguida, pediu para Lula providenciar também a vinda dos seus parentes, que estariam aguardando a liberação de uma segunda lista de brasileiros ou parentes de brasileiros.

Das 32 pessoas, 22 são brasileiros, sete são palestinos naturalizados brasileiros e três são palestinos parentes próximos de brasileiros. No total, são 17 crianças, nove mulheres e seis homens.

O grupo ficará hospedado por, pelo menos, dois dias no Hotel de Trânsito de Oficiais, na Base Aérea. Eles receberão apoio psicológico, cuidados médicos e imunização.

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