Nações Unidas apelam por solução de dois estados, Palestina e Israel

No Dia de Solidariedade ao Povo Palestino, ONU reitera apelo por uma solução de dois Estados no conflito, enfatizando que Jerusalém deve servir como a capital de ambos

O secretário-geral da ONU, António Guterres (3º da esq. para a dir.), visitou cidade que abriga centenas de caminhões com produtos para serem entregues à população da Faixa de Gaza. Foto Mohamed Elkoossy/ONU Egito - 20.out.2023.

Na última quarta-feira (29), as Nações Unidas reiteraram seu apelo à comunidade internacional para avançar em direção a uma solução de dois Estados no conflito palestino-israelense, enfatizando que Jerusalém deve servir como a capital de ambos os Estados. Tatiana Valovaya, diretora-geral do escritório da ONU em Genebra, expressou a urgência de avançar de maneira determinada e irreversível com base nas resoluções das Nações Unidas e no direito internacional.

As palavras de Tatiana basearam-se no discurso escrito por António Guterres, secretário-geral da ONU, que instou a comunidade internacional a usar sua influência para encerrar o conflito e os ataques israelenses contra os palestinos. Ele reforçou o apelo pela solução de dois Estados, com Jerusalém como capital de ambas as partes, e pediu o fim da ocupação e do bloqueio israelenses em Gaza.

Guterres condenou os ataques do Hamas, classificando as ações de Israel como uma “punição coletiva”. Ele solicitou pressão internacional para pôr fim aos ataques israelenses e defendeu uma trégua de longo prazo para permitir a chegada completa de ajuda humanitária a Gaza, juntamente com a libertação de reféns israelenses pelo Hamas.

O conflito palestino-israelense permanece no centro das atenções internacionais, e a busca por uma solução de dois Estados continua sendo a abordagem defendida pela ONU e outros países, destacando a necessidade de paz e segurança duradouras na região.

Controvérsia

O apelo ocorreu durante o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino das Nações Unidas, marcando a aprovação, pela Assembleia Geral da ONU, de um plano para dividir a Palestina em Estados árabes e judeus e estabelecer o domínio internacional sobre Jerusalém. Depois desta resolução que foi considerada uma Nakba (catástrofe) para milhões de palestinos, que foram obrigados a se espalhar pelo mundo ou viver sob a brutal ocupação israelense, a ONU faz seu eterno mea-culpa tentando convencer os EUA a tirar seu apoio ao massacre étnico naquela região.

O aumento dos apelos por uma solução de dois Estados veio à tona após os ataques a Israel em 7 de outubro, nos quais combatentes do Hamas mataram 1.200 pessoas. Isso desencadeou uma resposta israelense com bombardeios e uma ofensiva terrestre contra Gaza, governada pelo Hamas, resultando em mais de 15 mil mortes, de acordo com autoridades de saúde palestinas.

Um acordo de dois Estados proposto criaria um Estado para os palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza ao lado de Israel, com a condição de que o Estado palestino seja desmilitarizado para garantir a segurança de Israel. Muitos árabes consideram esta solução ingênua diante da história de mais de 70 anos de ocupação e violência enraizada na memória palestina.

Os palestinos aspiram que Jerusalém Oriental, com seus locais sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos, seja a capital de seu Estado, enquanto Israel insiste que Jerusalém permaneça sua capital “indivisível e eterna”.

No dia anterior à criação do Dia Internacional da Solidariedade ao Povo Palestino em 1977, a Assembleia Geral da ONU exigiu a retirada de Israel das Colinas de Golã, considerando nula e sem efeito a jurisdição que Israel afirma ter sobre a área. A resolução, aprovada com 91 votos a favor, 62 abstenções e oito países contra, também declarou como ilegais os assentamentos construídos por Tel Aviv, destacando que sua ocupação é um obstáculo para alcançar uma paz justa e duradoura na região. As Colinas de Golã fazem parte do território da Síria, com uma pequena reivindicação do Líbano, e a ONU já havia, em 1981, classificado como “nula” e “sem efeito” a anexação do território por Israel.

Ibrahim Khraishi, embaixador palestino na ONU em Genebra, destaca que o atual conflito serve como um alerta para a comunidade internacional apoiar a solução de dois Estados, acrescentando que “agora é o momento” e que a aceitação da ideia é crucial. Mesmo com toda a controvérsia em torno do tema, esta parece ser a única abordagem diplomática possível para o tema.

Reforço chinês

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, enfatizou que a solução de dois Estados é a única maneira fundamental de abordar a questão palestina. Ele pediu uma conferência internacional de paz mais ampla e eficaz para promover um consenso e elaborar um cronograma para uma solução abrangente, justa e duradoura.

Em uma coletiva de imprensa após liderar uma reunião de alto nível do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito palestino-israelense, Wang enfatizou que esta solução é a única saída viável.

Membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China, Wang destacou a necessidade de coragem e ações concretas para defender a justiça em meio a uma questão que não carece apenas de grandes planos ou slogans.

“A solução de dois Estados é a linha de fundo para a justiça internacional. Não há como recuar nisso. A independência do Estado é um direito nacional inalienável do povo palestino, um direito que não pode ser negociado”, declarou Wang com firmeza.

Diante da injustiça histórica enfrentada pelo povo palestino, Wang enfatizou que nenhum país tem desculpa para procrastinar ou justificativa para a inação. Ele sublinhou que nenhum país tem o direito de veto quando se trata do futuro do povo palestino.

O ministro chinês ressaltou a centralidade da questão palestina no contexto do Oriente Médio e instou a comunidade internacional a priorizá-la em vez de marginalizá-la em suas agendas. Ele argumentou que apenas com a plena implementação da solução de dois Estados o Oriente Médio poderá desfrutar de uma paz genuína, enquanto Israel asseguraria uma segurança duradoura.

Além disso, a China pediu a convocação de uma conferência internacional de paz com uma base mais ampla, autoritária e eficaz. Wang destacou a necessidade de construir um consenso sólido para promover a paz e elaborar um cronograma e roteiro concretos, visando uma solução abrangente, justa e duradoura para a questão palestina.

O posicionamento firme da China reflete seu compromisso contínuo com a estabilidade e resolução pacífica do conflito, destacando a urgência de ações decisivas para alcançar uma solução que atenda às aspirações do povo palestino por justiça, paz e dignidade.

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