“Se não tiver acordo, paciência”, diz Lula sobre europeus e Mercosul

Sobre a posição contrária as negociações do presidente da França, Emmanuel Macron, o brasileiro disse que já era uma opinião “historicamente conhecida”

Lula durante conversas com jornalistas (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Em entrevista neste domingo (3), em Dubai (Emirados Árabes Unidos), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os países da América do Sul não serão os responsáveis pela eventual falta de negociação com a União Europeia.

O presidente, que participou da conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, falou com jornalistas antes de embarcar para a Alemanha.

“Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão”, cobrou o presidente.

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Lula acusou os países ricos de “sempre ganhar mais”. “E nós não somos mais colonizados. Nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes, que temos coisas para vender e as coisas que nós temos para vender tem preço. O que nós queremos é um certo equilíbrio”, defendeu.

Sobre a posição contrária ao acordo do presidente da França, Emmanuel Macron, o brasileiro disse que já era uma opinião “historicamente conhecida”.

“A França sempre foi o país que criou o obstáculo no acordo do Mercosul com a União Europeia, porque a França tem milhares de pequenos produtores e eles querem produzir os seus produtos. É isso. Agora, o que eles não sabem é que nós também temos 4 milhões e 600 mil pequenas propriedades, até 100 hectares, que produzem quase 90% do alimento que nós comemos e que são alimento de qualidade e que nós também queremos vender”, observou.

O presidente disse que os países ricos precisam saber que o país tem indústria e precisa crescer. “Nós não vamos facilitar as compras governamentais porque nós queremos que a nossa indústria cresça”, disse.

“Então a posição do Macron já era conhecida por mim. Ontem, eu fiz uma reunião com o Macron para tentar mexer com o coração dele. Eu falei: ‘Macron, quando você voltar para a França, abre o seu coração, cara. Pensa um pouco na América do Sul, pensa no Mercosul. Nós somos países pobres, temos países pequenos. Bom, me parece que ele não pensou. Ele não deu nem tempo pro coração dele, porque ele já foi comunicar vocês”, disse.

Lula diz que o diálogo vai continuar. “Então, eu acho que nós vamos ter uma conversa. Eu tive uma grande conversa com a Ursula von der Leyen, que é a presidenta da Comissão Europeia, e vamos ver como é que vai acontecer na sexta-feira. Se não der acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo. Agora, o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo”, considerou.

“Eu volto agora para Alemanha, e depois para o Rio de Janeiro, para reunir o Mercosul, e eu volto muito feliz. Muito feliz porque nós estamos saindo de um encontro internacional que a cada ano que passa ganha mais envergadura, ganha mais responsabilidade, e ganha mais representatividade”, avaliou o presidente.

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