Lula destaca resistência democrática em artigo no Washington Post

“Melhorar a vida das pessoas é a melhor resposta contra os extremistas que atacaram a democracia”, escreve Lula, no Washington Post

Neste dia 8 de janeiro, completou-se um ano desde que a resiliência da democracia brasileira foi severamente testada. Uma semana após a posse de um governo recém-eleito, grupos extremistas invadiram as sedes dos três poderes da República. Impulsionados por mentiras e desinformação, quebraram janelas, destruíram objetos históricos e obras de arte, transmitindo suas ações pela internet.

Em um artigo publicado no Washington Post neste simbólico 8 de janeiro de 2024, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva destaca que esse episódio assemelhou-se à invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021. No jornal que tem como slogan “A democracia morre nas trevas”, Lula publicou o que foi analisado pela mídia brasileira como um destaque dos principais elementos deste momento histórico, do seu ponto de vista, comparando com o que ocorreu nos EUA, como uma demonstração de um ataque à democracia que não é isolado ou ocasional, mas uma articulação baseada em estratégia calculada.

Felizmente, essa tentativa de golpe falhou. A sociedade brasileira rejeitou a invasão, e, ao longo do último ano, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo dedicaram esforços para esclarecer os fatos e responsabilizar os invasores.

Lula ressalta que a tentativa de golpe foi a culminação de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para desacreditar a democracia em benefício próprio. O sistema eleitoral brasileiro, internacionalmente reconhecido por sua integridade, foi questionado por aqueles que foram eleitos por meio desse mesmo sistema. Sem evidências, criticaram a urna eletrônica brasileira, assim como os negadores de eleições nos Estados Unidos criticaram a votação por correio. O objetivo dessas falsas queixas era desqualificar a democracia para perpetuar o poder de maneira autocrática.

Entretanto, a democracia brasileira prevaleceu e saiu fortalecida. Desde seu retorno à presidência após 12 anos, Lula destaca que a unidade do país e a reconstrução de políticas públicas bem-sucedidas têm sido metas de sua administração. Ele salienta que um governo que melhora vidas é a melhor resposta aos extremistas que atacam a democracia.

Lula compartilha conquistas de seu governo, como a redução em 50% do desmatamento na Amazônia em 2023, a retomada de políticas contra a pobreza, como o Bolsa Família, e o crescimento econômico três vezes maior do que o previsto pelo Fundo Monetário Internacional. Além disso, o Brasil tornou-se o segundo maior destino de investimento estrangeiro direto no mundo, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

O presidente também ressalta o retorno do Brasil à cena internacional com compromissos democráticos, sem a negação das mudanças climáticas e o descaso com a ciência do governo anterior, que custou a vida de centenas de milhares de brasileiros na pandemia de covid-19.

Lula argumenta que o mundo enfrenta um momento contraditório, onde desafios globais exigem compromisso e cooperação entre as nações, mas o diálogo e o respeito às diferenças tornam-se cada vez mais difíceis. Ele destaca problemas como a crise climática, a insegurança alimentar e energética, as tensões geopolíticas e guerras, e o crescimento do discurso de ódio e xenofobia, todos alimentados pela desigualdade global.

O presidente alerta para a interligação entre questões tecnológicas, sociais e políticas, apontando que a erosão da democracia é exacerbada pela mediação de fontes de notícias e interações sociais por aplicativos digitais voltados para o lucro, não para a convivência democrática. Ele expressa preocupação com o fato de a inteligência artificial, além de aumentar a desinformação, poder promover discriminação, desemprego e violações de direitos.

Lula conclui chamando a atenção para a necessidade de transformar a realidade da desigualdade e do trabalho precário, destacando a parceria com o presidente Biden para promover o trabalho decente. Ele enfatiza a importância de ações globais para promover a integridade da informação e o desenvolvimento inclusivo e humanístico da inteligência artificial.

Ao assumir a presidência do G20 no mês passado, Lula colocou o combate às desigualdades no centro da agenda, com o lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”. Ele conclui expressando a esperança de que líderes políticos possam se reunir no Brasil ao longo do ano, buscando soluções coletivas para os desafios que afetam toda a humanidade.

Leia a íntegra do artigo:

O Brasil frustrou uma tentativa de golpe. O que aprendemos, por Luiz Inácio Lula da Silva

Publicado em 08/01/2024

Hoje, dia 8 de janeiro, marca um ano que a resiliência da democracia brasileira foi severamente testada. Uma semana depois da posse de um novo governo, grupos extremistas invadiram as sedes dos três Poderes da República. Impulsionados por mentiras e desinformação, quebraram janelas, destruíram objetos históricos e obras de arte, enquanto transmitiam seus atos pela internet.

Exibiam desprezo pela democracia similar ao dos invasores do Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.

Felizmente, a tentativa de golpe fracassou. A sociedade brasileira rechaçou as invasões e, durante o último ano, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo dedicaram esforços para esclarecer os fatos e responsabilizar os invasores.

Essa tentativa de golpe foi a culminação de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para gerar descrédito na democracia para benefício próprio. O sistema eleitoral brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua integridade, foi posto em dúvida por quem se elegeu por esse mesmo sistema. No Brasil, reclamavam da urna eletrônica como nos Estados Unidos reclamavam do voto pelo correio, sem nenhuma evidência. O objetivo dessas ilações falsas era desqualificar a democracia, para sua perpetuação no poder de forma autocrática.

Mas a democracia brasileira prevaleceu e saiu mais forte.

Neste meu retorno à Presidência depois de 12 anos, a união do país e a reconstrução de políticas públicas bem-sucedidas têm sido os objetivos do meu governo.

Melhorar a vida das pessoas é a melhor resposta contra os extremistas que atacaram a democracia.

O desmatamento da Amazônia, que crescia no governo anterior, retrocedeu mais de 50% em 2023. Retomamos políticas de combate à pobreza como o Bolsa Família, que garante renda para as mães que mantém seus filhos na escola e vacinados. Nossa economia cresceu 3 vezes mais em 2023 do que o previsto pelo FMI e se tornou o segundo maior destino de Investimento Externo Direto no mundo, segundo dados da OCDE.

O Brasil, com seus compromissos democráticos, voltou ao cenário internacional sem a negação das mudanças climáticas e o desprezo pela ciência do governo anterior, que custou a vida de centenas de milhares de brasileiros na pandemia Covid-19.

O mundo vive hoje um momento contraditório. Os desafios globais exigem comprometimento e cooperação entre as nações. Nunca estivemos tão integrados e conectados. Ao mesmo tempo, temos cada vez mais dificuldades de dialogar, de respeitar as diferenças e conduzir ações conjuntas.

As sociedades estão tomadas pelo individualismo e as nações se distanciam umas das outras dificultando a promoção da paz e o enfrentamento de problemas complexos: crise climática; insegurança alimentar e energética; tensões geopolíticas e guerras; crescimento do discurso de ódio e xenofobia.

Estes são problemas alimentados pela desigualdade em escala global – entre as nações e dentro de cada uma delas.

Nas últimas décadas, um modelo de desenvolvimento econômico excludente tem concentrado renda, fomentado frustrações, reduzido direitos dos trabalhadores e alimentado a desconfiança em relação às instituições públicas.

A desigualdade serve como terreno fértil para a proliferação do extremismo e a intensificação da polarização política. Quando a democracia falha em proporcionar bem-estar às pessoas, extremistas promovem a negação da política e a descrença nas instituições.

A erosão da democracia é exacerbada pelo fato de as principais fontes de informação e interação das pessoas serem hoje mediadas por aplicativos digitais que foram desenvolvidas para obter lucro, não convivência democrática. O modelo de negócio das Big Tech, que prioriza o engajamento e a captura de atenção, promove conteúdo inflamatório e fortalece discursos extremistas, favorecendo forças antidemocráticas que atuam em redes internacionalmente coordenadas.

É ainda mais preocupante que novas aplicações de inteligência artificial, além de agravar o cenário de desinformação, possam promover discriminação, gerar desemprego e afetar direitos.

Essas questões tecnológicas, sociais e políticas estão integradas. Fortalecer a democracia depende da capacidade dos Estados de enfrentar desigualdades estruturais e promover o bem-estar da população, mas também de avançar no enfrentamento aos fatores que alimentam o extremismo violento.

Outros 6 ou 8 de janeiro só serão evitados se transformando a realidade de desigualdade e de precarização do trabalho. Essa preocupação motivou a parceria de promoção do trabalho decente que lancei com o Presidente Biden em setembro último, com apoio da Organização Internacional do Trabalho.

Também precisamos de ações globais pela promoção da integridade da informação e pelo desenvolvimento e uso inclusivo e humanista da inteligência artificial. Há, neste momento, esforços promovidos pela Organização das Nações Unidas, UNESCO e outros organismos internacionais para enfrentar esses problemas.

O Brasil assumiu a presidência do G20 em dezembro passado, e colocamos a luta contra as desigualdades em todas as suas dimensões no centro da nossa agenda sob o lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”. Espero que os líderes políticos possam se reunir no Brasil ao longo deste ano, buscando soluções coletivas para esses desafios que afetam toda a humanidade.

Artigo publicado no Washington Post

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