Fiesta de los Abrazos: participação brasileira e união das esquerdas

O Brasil marcou a sua participação na festa em um ato especial no domingo voltado ao fortalecimento dos laços entre a esquerda latino-americana

Foto: Tiago Alves Ferreira

Terminou no domingo (14), em Santiago, a maior e mais antiga festa das esquerdas nas Américas, organizada pelo Partido Comunista do Chile. A 35ª edição da Fiesta de los Abrazos anualmente movimenta a capital chilena logo no mês de janeiro, sendo reconhecida no país como o primeiro festival do ano.

Além das dezenas de atrações culturais, gastronômicas, dos muitos debates políticos sobre os temas mais urgentes para o campo progressista no continente, a Fiesta de los Abrazos, neste ano, também acontece quando o Chile relembra os 50 anos do golpe militar que atingiu o país e promoveu quase 20 anos da mais violenta das ditaduras na América do Sul. A festa também foi marcada por homenagens ao camarada Guillermo Teillier, que faleceu em 2023 no exercício da presidência do PCCh.

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O Brasil marcou a sua participação na festa em um ato especial no domingo voltado ao fortalecimento dos laços entre a esquerda latino-americana. A mesa de debate “Os desafios de integração dos governos de esquerda e progressistas na América Latina” contou com a secretária de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Prestes, além de outros representantes de partidos e movimentos da Colômbia, Guatemala, Argentina, Cuba e Venezuela. A situação de tensionamento das forças políticas no continente, com a ascensão da extrema direita e a necessidade de integração e resistência popular foi o principal assunto do debate.

Para Ana Prestes, mais do que a necessidade de unidade popular e de maior diálogo entre as bases sociais da região, o momento pede maior coordenação entre os governos alinhados. Em entrevista à Prensa Latina, ela pontuou o esforço atual dos comunistas em fortalecer o trabalho do presidente Lula: “Nosso objetivo imediato é apoiar e trabalhar para o sucesso do governo Lula, que sofreu uma tentativa de golpe exatamente há um ano, em 8 de janeiro de 2023”.

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A dirigente ainda destacou que o PCdoB ocupa hoje o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil tendo como ministra a camarada Luciana Santos, que também é presidente nacional do PCdoB.

A secretária do PCdoB elogiou a centralidade de dois temas na programação da Fiesta de los Abrazos, a condenação do embargo financeiro que os Estados Unidos ainda mantêm de forma covarde contra Cuba e a urgência na denúncia do genocídio praticado pelo estado sionista de Israel contra o povo palestino.

“Obviamente, solidariedade ao povo palestino face às novas agressões israelenses que já provocaram a morte de quase 25 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças”, declarou. O domingo de atividades do festival também teve rodas de conversa sobre os direitos das mulheres, a democratização dos transportes no Chile e os desafios das campanhas de esquerda em tempos de inovações nas formas de comunicação.

Esquerdas

Durante os dois dias deste fim de semana, a Fiesta de los Abrazos mostrou porque se consolidou com tanta força – e de forma longeva – como o principal evento cultural das esquerdas no continente americano. Criada em 1988, ainda em plena ditadura militar e em caráter de resistência, a festa foi brutalmente reprimida em sua primeira edição.

Ainda assim, o Partido Comunista do Chile e os diversos setores da população atingidos pelo regime encontraram no evento o espaço necessário para se unirem, se abraçarem e visualizarem um novo tempo para além das nuvens fechadas do autoritarismo. Esse é o espírito que ainda se encontra, até hoje, na confraternização dos diversos públicos, de diversas idades, que anualmente constroem a festa no tradicional Parque Bernardo O’Higgins, no centro de Santiago.

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A atividade se encerrou com o discurso da Deputada Nacional e Presidenta da JJCC – Juventudes Comunistas de Chile – Daniela Serrano seguida de dois grandes momentos culturais, o primeiro uma celebração cênica com o tema “Victor sem Victor”, relembrando um dos mais icônicos cantores e compositores chilenos preso e brutalmente assassinado no Estádio Nacional logo nos primeiros dias do golpe de 1973. Ao início do anoitecer, a banda Inti Illimani levou os presentes aos abraços e junto com o público entoou suas mais tracionais músicas enchendo o parque de esperança por um Chile unido rumo ao futuro.

Para o PCdoB, a participação no evento também foi de grande aprendizado para a formulação do 2º Festival Vermelho que acontecerá nos próximos dias 22 e 23 de março na cidade de Salvador, na Bahia, em que se espera a participação de partidos amigos de todo o mundo. Após o seu nascimento no ano de 2022, em comemoração aos 100 anos do PCdoB, o Festival Vermelho agora cresce e trilha o seu percurso para consolidar o Brasil na rota das principais festas de esquerda do planeta e somar forças à Fiesta de los Abrazos na união das forças populares das Américas.