Marta volta nesta sexta ao PT com boa avaliação da periferia

Morador de Guaianazes, Roger Bezerra afirma que as melhorias em seu bairro é “um papo recorrente” entre os amigos. Marta enfrentou a “máfia dos transportes” e criou os CEUs na sua gestão

Foto: Reprodução/ Instagram

Morador de Guaianazes “desde sempre”, o designer de animações Roger Bezerra, 33 anos, em entrevista ao Portal Vermelho, afirma que as melhorias no bairro do extremo leste da capital paulista a partir da prefeitura de Marta Suplicy (2001-2004) é “um papo recorrente” entre ele e seus amigos.

“Tenho boas lembranças da gestão da Marta porque antes Guaianazes era nojento, abandonado. Ela botou árvores para todo lado, fez praças, quadras esportivas. A prefeitura da Marta transformou meu bairro para sempre, mesmo que depois dela as coisas tenham degringolado um pouco”, diz Bezerra.

Em breve, o PT deve confirmar Marta Suplicy como candidata a vice na chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) na corrida pela prefeitura de São Paulo, neste ano.

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Nesta sexta (2), Marta volta a se filiar ao Partido dos Trabalhadores na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados políticos, como o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Verde (PV), membros da Federação Brasil da Esperança, além de dirigentes e militantes do Psol e da Rede Sustentabilidade.

Marta Suplicy foi eleita, em 2000, a segunda prefeita da história de São Paulo após vencer o então candidato a reeleição Paulo Maluf, à época no Partido do Povo Brasileiro (PPB) – que mais tarde se tornaria o Progressistas.

No segundo turno da disputa eleitoral, Marta obteve 3,25 milhões de votos, 58,51% do eleitorado, enquanto Maluf conseguiu 2,3 milhões de votos ou 41,49% dos votos.

Marta foi eleita prefeita sendo a mais votada no primeiro turno em 39 das 41 zonas eleitorais existentes àquele momento — perdeu só nos Jardins e em Pinheiros, bairros de classe média-alta, para Geraldo Alckmin, então no PSDB.

Segundo números compilados pela Fundação Seade, as maiores votações de Marta naquele ano foram registradas em São Mateus, Sapopemba e Itaim Paulista, bairros periféricos da Zona Leste, onde obteve mais de 40% dos votos válidos.

Marta é lembrada de forma positiva pelas pessoas de renda mais baixa especialmente por causa da instituição do Bilhete Único e da criação dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) durante seu mandato.

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Quando Marta assumiu a prefeitura, em janeiro de 2001, as viagens entre terminais de ônibus eram exaustivas. Os passageiros tomavam longos caminhos a fim de baratear a viagem, já que não havia custo na baldeação feita nesses locais.

Foi então que Marta Suplicy criou o Bilhete Único, que garantia ao usuário do transporte o pagamento de apenas uma passagem, mesmo que ele usasse até quatro ônibus para se locomover até seu destino. Em uma cidade como São Paulo, com mais de 20 mil km de vias existentes, a implementação do Bilhete Único foi um revolução para os moradores da megalópole.

Para além da facilidade de locomoção, a adoção do Bilhete Único também fez despencar o número de assaltos a ônibus em São Paulo, que cobravam a passagem em dinheiro ou bilhete. Em 2003, foram 11.394. Em 2004, ano em que o cartão foi adotado, este número caiu para 6.426.

“Não foi só o Bilhete Único, que já ajudou muito. Ela organizou também o transporte público aqui na Zona Leste”, diz o designer. “Antes, o transporte por ônibus era totalmente desregulamentado e com vários veículos clandestinos. Com a Marta, veio aqueles microônibus que fizeram toda a diferença para nós moradores”, lembrou Roger.

Outra iniciativa na área dos transportes da gestão de Marta Suplicy, foi o enfrentamento a chamada “máfia dos transportes”, grupos paralelos ao estado que controlavam o fluxo de vans clandestinas que atendiam áreas não cobertas pelo transporte público.

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Relator do projeto que criou o novo modelo de transporte para a cidade de São Paulo, o hoje presidente municipal do PCdoB/SP e vereador à época, Alcides Amazonas (PCdoB), em entrevista ao Portal Vermelho, comentou a dificuldade em combater esses grupos.

“O que chamava bastante a atenção é que naquele período nós tínhamos 12 mil peruas clandestinas na cidade que não tinham nenhuma regulamentação, não respeitavam horários. Eles andavam que nem doido pela cidade e quase todo dia tinha acidente grave com vítimas fatais”, disse o militante do PCdoB.

Amazonas, que era vice-líder do governo na Câmara dos Vereadores, afirma que a então prefeita precisou até colocar colete a prova de balas para enfrentar a máfia dos transportes.

“Marta teve que colocar um colete aprova de bala e foi para o enfrentamento. Uma das medidas, por exemplo, foi sancionar uma lei de minha autoria que garantiu o emprego dos cobradores de ônibus”, disse Amazonas.

De acordo com Roger Bezerra, este foi o “pulo do gato” para mudar o transporte na periferia paulistana para sempre.

“Teve isso, ela tirou as lotações clandestinas e meteu o buzão da prefeitura fazendo itinerário. Acho que isso ajudou muito também, porque retirou motoristas e cobradores da informalidade e deu trampo de verdade. Foram dois ganhos, melhorou o transporte e ainda empregou um monte de gente”, elogiou Roger.

Para o Alcides Amazonas, esta foi uma das marcas que a ex-prefeita alcançou durante aquele mandato.

“Marta deixou muitas marcas importantes na cidade. Na área da educação ela criou os CEUs, na área dos transportes criou o Bilhete Único. Ampliou e muito os corredores de ônibus na cidade. Além de tudo isso, ela conseguiu moralizar o sistema de transporte na maior cidade da América Latina. Teve que andar com colete a prova de bala, mas no final ela teve sucesso”, diz o ex-vice líder de Marta.

A aposta em Marta como catalisadora de votos nas regiões mais pobres se justifica nos números dos últimos pleitos que disputaram. No primeiro turno de 2020, Boulos teve quase o dobro de votos válidos de Marta em 2016 (1,08 milhão a 587 mil).

Ainda assim, o deputado conquistou menos apoiadores que a ex-ministra em seis zonas eleitorais, todas elas na periferia: Cidade Dutra, Jardim Ângela, Parelheiros e Capela do Socorro (Zona Sul), e em Guaianases (bairro da Zona Leste que abriga duas zonas eleitorais).

“Nos anos seguintes, tudo seria destruído pelos dois prefeitos que a sucederam”, lamentou Roger.

Apesar da gestão histórica, Marta Suplicy não conseguiu a reeleição em 2004 devido a criação de dois novos impostos: a Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares (TRSD), que incidia sobre a produção de lixo, e a Contribuição Para Custeio da Iluminação Pública (Cosip), que tributava o acesso à energia.

Os dois novos impostos fizeram a arrecadação da Prefeitura com impostos saltar 24%, pulando de R$ 4,97 bilhões, em 2000, para R$ 6,16 bilhões, em 2004. Rendeu também o apelido de “Martaxa” para a ex-prefeita. A alcunha foi levada para a urna e derrubou sua candidatura.

Marta foi sucedida pelo ex-candidato à Presidência, José Serra, que naquele momento polarizava com o então eleito presidente Lula, que chegava pela primeira vez ao cargo em 2003.

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No entanto, pesquisa realizada pela Quaest em dezembro apontou Marta como a melhor prefeita que a cidade de São Paulo já teve, com 24% dos votos. A deputada federal Luiza Erundina (Psol) e o ex-deputado Paulo Maluf (PP) ficaram em segundo lugar, com 9%.

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