Policia de Tarcísio mata mais sete pessoas na Operação Escudo

Mesmo após irregularidades e abusos observados nas 28 mortes anteriores, governo volta a respaldar a violência contra comunidades pobres da Baixada Santista

Policiais da Rota. Foto: Francisco Cepeda / Governo do Estado de SP

No último domingo (4), um homem de 28 anos foi fatalmente baleado por policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) durante uma operação na Baixada Santista, notificando a sétima morte na retomada da Operação Escudo. A ação policial foi intensificada após a morte do policial militar Samuel Wesley Cosmo na última sexta-feira (2). A câmera corporal do uniforme do policial morto chegou a registrar o momento do disparo, mas o autor ainda não foi identificado. 

A Polícia Civil investiga todas as mortes ocorridas durante a Operação Escudo. A Corregedoria da Polícia Militar também acompanha os casos para apurar possíveis abusos. No entanto, o próprio boletim de uma das ocorrências, que terminou com a morte de três pessoas no sábado (3), consta que “o local dos fatos não foi preservado e não foi feita perícia em razão do tumulto causado nas imediações e do eventual risco do novo confronto”, repetindo a falta de protocolos investigativos das polêmicas etapas anteriores da operação.

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Seis das mortes confirmadas aconteceram em Santos, e uma delas em São Vicente. A Secretaria de Segurança Pública afirma que em todos os casos houve troca de tiros entre os policiais e as vítimas.

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), nesta última ocorrência, três policiais da Rota participavam da operação na Baixada Santista quando receberam informações sobre a presença de um suposto traficante do Morro São Bento em um carro próximo ao túnel Rubens Ferreira Martins.

A abordagem ocorreu na Rua Dr. Gastão Vidigal, onde a viatura seguiu o veículo até o acesso ao morro. Ao solicitar a parada, o motorista de aplicativo atendeu, mas o passageiro, no banco da frente, teria apontado uma arma para os policiais. Dois PMs reagiram, disparando cinco e dois tiros, respectivamente, ambos com fuzis.

O suspeito, ferido, foi encontrado com uma pistola contendo seis cartuchos intactos. Além do veículo, uma casa também foi atingida pelos disparos. O motorista de aplicativo relatou que o passageiro pediu uma corrida para buscar uma moça, mas ao avistar a viatura, mudou de ideia e instruiu o condutor a retornar ao morro. Ao ouvir os tiros, o motorista buscou abrigo atrás do carro.

O homem ferido foi encaminhado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a UPA Zona Noroeste, mas não resistiu e veio a falecer. A ocorrência foi registrada como morte decorrente de intervenção policial e homicídio tentado.

Operação letal

A Operação Escudo foi iniciada em julho de 2023, após a morte do soldado da Polícia Militar, Patrick Bastos Reis, em um patrulhamento no Guarujá, litoral de São Paulo.

Ela durou 40 dias, deixou 28 mortos e um rastro de suspeitas de excessos por parte da polícia, como relatos de tortura e execuções. Deixou ainda 958 pessoas presas, sendo que 382 eram procuradas pela Justiça. Além disso, 117 armas de fogo e 977 quilos de drogas foram apreendidos. 

Especialistas e o ouvidor da polícia Claudio Aparecido da Silva foram ouvidos pelo Portal Vermelho, à época, quando apontaram a ineficácia da operação para garantir segurança pública, os abusos de várias ordens denunciados e o respaldo que o Governo Tarcísio Freitas dá à vingança policial contra comunidades pobres.

As irregularidades na operação provocaram intenso debate sobre o uso de câmeras corporais dos policiais. A requisição das imagens pela investigação revelou filmagens interrompidas por supostas falhas nos equipamentos e até mesmo obstrução pelos próprios policiais.

Essa nova etapa é a oitava Operação Escudo desde julho de 2023 e também a sexta deste ano.

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