Votos de El Salvador devem ser recontados, decreta Tribunal Eleitoral

Em meio a acusações de farsa pela oposição de esquerda, eleição se complica com problemas técnicos na apuração.

Bukele é o segundo da direita para a esquerda, se autodeclarando reeleito, mesmo antes da finalização da apuração.

Após as eleições presidenciais em El Salvador no domingo passado (4), onde o atual presidente Nayib Bukele reivindicou uma vitória decisiva, o país enfrenta agora um novo capítulo de incertezas e contestações. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) anunciou na segunda-feira que uma recontagem dos votos é necessária devido a problemas técnicos significativos que surgiram durante o processo de apuração.

O presidente do TSE afirmou que muitos dos votos expressos nas eleições presidenciais e parlamentares precisam ser revisados devido a problemas técnicos. Embora Bukele tenha proclamado sua vitória com uma vantagem aparentemente confortável, a contagem dos votos encontrou obstáculos, deixando uma parcela significativa dos eleitores em suspense.

Com cerca de 70% dos votos apurados, Bukele, de 42 anos, liderava com 83% dos votos na manhã seguinte às eleições. No entanto, uma interrupção no sistema eletrônico de contagem levantou preocupações sobre a integridade dos resultados. Como resultado, aproximadamente 30% das urnas terão que passar por uma verificação adicional.

Os problemas não se limitaram às eleições presidenciais. Nas eleições parlamentares simultâneas, apenas 5% dos votos foram contados antes que problemas graves, como a duplicação de votos no processo de carregamento de dados, surgissem.

Além da presidência, o partido conservador de Bukele, Nuevas Ideas (Novas Ideias), reivindicou uma vitória esmagadora, alegando ter conquistado pelo menos 58 dos 60 assentos no parlamento de El Salvador.

No entanto, a oposição, representada pelo bloco esquerdista do BPR, denunciou as eleições como uma “farsa” e rejeitou a autoproclamação de Bukele como vencedor. O BPR condenou a reeleição de Bukele, alegando que houve modificações ilegais no sistema eleitoral e violações das leis eleitorais.

Eduardo Escobar, diretor do grupo de campanha Ação Cidadã, destacou que houve “irregularidades” no processo eleitoral que precisam ser esclarecidas para garantir a transparência e a legitimidade dos resultados.

Enquanto isso, a missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) expressou preocupação com a lentidão na apuração dos votos e descreveu a campanha eleitoral como atípica e desigual. Apesar dos contratempos no processo de apuração, a OEA afirmou que os dados confirmam a diferença significativa entre o vencedor e os demais candidatos, reforçando a legitimidade dos resultados eleitorais.

Governo autoritário

Aos 41 anos, Bukele continua a moldar o cenário político salvadorenho com uma abordagem que tem sido criticada por muitos como autoritária e antidemocrática.

Em 2019, Bukele tornou-se o presidente mais jovem da América Latina ao reunir 53% dos votos, representando uma onda de mudança no país. No entanto, sua ascensão ao poder não foi isenta de controvérsias. Em 2021, a Assembleia Legislativa, controlada pelo partido de Bukele, substituiu cinco juízes do Supremo Tribunal de Justiça e o procurador-geral por aliados leais, permitindo que Bukele concorresse às eleições presidenciais de 2024 após um afastamento temporário do cargo.

Essa manobra política, que contornou as restrições constitucionais de mandatos presidenciais consecutivos, reflete o controle exercido por Bukele sobre os órgãos de soberania do país. Com uma Assembleia Legislativa dominada por seu partido, Bukele conseguiu consolidar seu poder e moldar o cenário político à sua vontade.

Bukele, conhecido por suas políticas de repressão ao crime e abordagem autoritária, tem sido objeto de críticas tanto internas quanto externas. Embora tenha sido creditado por reduzir a violência de gangues em El Salvador, sua reeleição levantou preocupações sobre a continuidade de suas políticas controversas.

Durante seu primeiro mandato, Bukele não hesitou em usar táticas questionáveis para impor sua agenda. Em 2020, ele enviou as forças armadas para intimidar a Assembleia Legislativa a aprovar um empréstimo para as forças de segurança, um movimento que gerou preocupações sobre o uso de métodos autoritários para alcançar seus objetivos.

Apesar das críticas e da contestação, Bukele continua popular entre uma parte significativa da população salvadorenha. Nas eleições de 2024, seu partido obteve uma vitória esmagadora, conquistando a grande maioria dos assentos na Assembleia Legislativa e consolidando ainda mais o controle de Bukele sobre o governo.

A vitória de Bukele representa a consolidação de um modelo autoritário de governo em El Salvador, com um partido hegemônico e um líder todo-poderoso no comando. Enquanto Bukele defende suas políticas como a chave para resolver os problemas de longa data do país, críticos apontam para violações dos direitos humanos, intimidação da imprensa e erosão da democracia sob seu governo.

À medida que Bukele se prepara para assumir seu segundo mandato, o futuro político de El Salvador permanece incerto. Enquanto alguns veem sua liderança como uma solução para os problemas do país, outros alertam para os perigos de um governo cada vez mais autoritário e repressivo. A comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, expressou preocupação com a situação em El Salvador e pediu o respeito aos direitos humanos e às normas democráticas.

Autor