Bukele se autoproclama vencedor das eleições em El Salvador

O candidato à reeleição e atual presidente de El Salvador, Nayib Bukele, se proclamou neste domingo (4) o vencedor do pleito “com mais de 85% dos votos e no mínimo 58 dos 60 deputados da Assembleia”. Nesta segunda (5), o Tribunal Superior Eleitoral do país havia contabilizado apenas 31,49% dos votos da eleição.

De acuerdo a nuestros números, hemos ganado la elección presidencial con más del 85% de los votos y un mínimo de 58 de 60 diputados de la Asamblea.

El récord en toda la historia democrática del mundo.

Nos vemos a las 9pm frente al Palacio Nacional.

Dios bendiga a El Salvador.

— Nayib Bukele (@nayibbukele) February 5, 2024

Segundo o TSE, o resultado parcial dá 83% dos votos para o líder de extrema-direita, com 1.295.888 votos. seguido por Manuel Flores, com 110.244 (7%), e Joel Sánchez, com 96.700 (6%).

A corte emitiu uma nota durante a madrugada mencionando “múltiplas ações que dificultaram o desenvolvimento das atividades de transmissão dos resultados preliminares”.

Apesar da não oficialização da vitória de Bukele, alguns países se adiantaram e parabenizaram o presidente pela vitória virtual. “Estendemos nossas mais sinceras congratulações ao presidente Nayib Bukele e seu partido Novas Ideias por sua vitória histórica nestas eleições”, escreveu a embaixada da China em San Salvador no Twitter.

O presidente da vizinha Guatemala também o cumprimentou. “Uma saudação cordial ao presidente Nayib Bukele. O povo salvadorenho escolheu e fez ouvir a sua vontade”, afirmou Bernardo Arévalo, que há alguns meses enfrentava uma ameaça de golpe.

Países da América Central, como Honduras e Panamá também parabenizaram o líder.

Bukele é o primeiro presidente reeleito mesmo com a Constituição de El Salvador vetando a reeleição. Em 2021, no entanto, a Corte Suprema do país decidiu que ele poderia disputar um segundo mandato neste ano.

Se confirmado o êxito, o publicitário de formação se tornará o primeiro líder em 80 anos a ser reconduzido ao cargo no país. O candidato da Nuevas Ideias negou estar acabando com a democracia. “Esta é a primeira vez na história que temos democracia”, declarou. “E não sou eu quem diz isso, é o povo.”

A enorme vantagem apresentada por Bukele é mais um evidência na troca de hegemonia política que ocorreu em El Salvador nos últimos anos. Desde 1994, apenas dois partidos governaram o país, sendo a Arena até 2009 e a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), entre 2009 e 2019.

Com 90% de aprovação, a gestão Bukele vem sendo marcada pela tentativa de combate ao crime organizado, executando ações diretamente tomadas contra as chamadas pandilhas, grupos criminosos do país.

Desde 2022, El Salvador está em estado de exceção com mais de 70 mil pessoas presas sob suspeita de pertencerem a gangues. Além disso, Bukele inaugurou uma prisão de segurança máxima onde mais de 100 detentos são mantidos nas suas celas sem colchões.

Sob o governo Bukele, El Salvador passou, de fato, a ser um dos países que mais prende no mundo. A taxa de homicídios, que girava acima dos cem a cada 100 mil habitantes em meados da última década, caiu para 2,4 a cada 100 mil no ano passado.

Especialistas apontam, no entanto, que o governo não contabiliza eventuais homicídios ocorridos em confronto com a polícia.

Ainda que a política punitivista e anti-direitos-humanos tenha alçado o atual presidente para uma reeleição tranquila, o segundo mandato de Bukele deverá ser mais desafiador, uma vez que as questões econômicas foram o grande fiasco da sua gestão.

Parcialmente dolarizada, no entanto, o gerenciamento da economia beira ao desastre. Com o déficit comercial e fiscal, o governo está vulnerável a uma crise no balanço de pagamentos. O maior ingresso de dólares no país é por meio das remessas dos salvadorenhos no exterior, que respondem por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 40% do consumo interno.

Além disso, o mercado de trabalho permaneceu estagnado e a implementação do bitcoin como moeda oficial alternativa não superou a resistência da população.

Bukele deve enfrentar uma provável recessão econômica, seguida de um arrocho fiscal que tende a piorar a vida da população.