Bukele prendeu mais de 21 mil inocentes em El Salvador, apontam ativistas

Política do presidente do país centro-americano já levou cerca de 78 mil para a prisão, cerca de 2% de toda a população. É a maior porcentagem de encarceramento do mundo

Cecot, a prisão que é símbolo da agressão aos direitos humanos patrocinado pelo governo Bukele Foto: Reprodução

O governo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, prendeu mais de 21 mil inocentes desde que declarou regime de exceção como justificativa para combater as gangues. A estimativa é de ativistas dos direitos humanos e foi veiculada pelo Fantástico, neste domingo (3).

O país centro-americano possui a maior porcentagem de encarceramento do mundo, somando 78 mil prisões. Tendo em vista sua população de 6,3 milhões habitantes, a massa carcerária gira entorno de 2% dos salvadorenhos.

El Salvador adota o regime de exceção desde março de 2022, quando a Assembleia Legislativa aprovou a medida, a pedido de Bukele, por um mês. Com a guerra declarada às facções criminosas, o país conseguiu reduzir drasticamente sua taxa de homicídios de 107 por 100 mil habitantes em 2015 para apenas 2,4.

Por isso, Bukele foi reeleito com mais de 80% dos votos, ainda quem tenha cooptado a Justiça e o Legislativo do país.

A suposta paz que o governo salvadorenho atingiu, no entanto, é acompanhada de uma série de denúncias, copiladas por entidades dos direitos humanos, tal como a ONG Cristosal.

Ao Fantástico, a diretora Zaira Navas, especialista em Direitos Humanos, afirmou que os pobres deixaram de ser vítimas das gangues e passaram a ser alvo do Estado.

“Os pobres eram vítimas das quadrilhas. Agora, com o regime de exceção, são vítimas do Estado. Com tantas pessoas na cadeia, muitas crianças estão crescendo sem pai, sem mãe… Se o governo não implantar programas sociais duradouros, se ficar só na repressão, esses jovens vão ser recrutados por novas organizações criminosas, porque os problemas de base continuam. São econômicos, políticos, sociais e culturais”, disse Navas.

A diretora da Cristosal lidera uma equipa que entrevistou centenas de detidos que sofreram graves violações dos direitos humanos durante os meses que passaram na prisão.

Além de conversar com eles, Navas e sua equipe do programa de direito e segurança da organização de direitos humanos Cristosal entrevistaram familiares, especialistas, médicos e funcionários do necrotério que manuseavam os corpos de pessoas que morreram sob custódia.

Um novo relatório de Cristosal, baseado em parte nestes testemunhos, fornece provas convincentes de que o governo de El Salvador cometeu graves crimes de Estado, incluindo, diz Navas, crimes contra a humanidade.

Segundo os relatos, o regime de exceção é tão duro que uma pessoa pode ser presa qualquer banalidade. Tal como ficar nervoso na abordagem policial, ter tatuagens, mesmo que não sejam das facções, ser delatado no Disque Denúncia e praticar “agrupações ilícitas”, uma expressão genérica que pode significar qualquer coisa.

Uma vez custodiado pela polícia, o cidadão desaparece no sistema prisional e sobra para família tentar encontrar. Como os presos são pobres, não podem pagar advogado. Na Defensoria Pública, os parentes madrugam na fila.

“Meu filho está na cadeia há dois anos. Não tem antecedentes criminais. Simplesmente o levaram, sem dizer por quê. Não posso mais viver sem ele. Ele trabalha, me ajuda nas contas de casa”, lamenta a mãe de um preso à reportagem do Fantástico.

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