Petrobras reduz lucro de acionistas, mas aumenta investimentos em 23,7%

A decisão da empresa de não pagar dividendos extras aos acionistas, como fez Bolsonaro, levou a empresa a priorizar investimentos e reiterar seu compromisso com o crescimento sustentável

Sede da Petrobras no Rio. Tania Rego ABr

Após um ano de recordes em 2022, a Petrobras terminou o ano de 2023 com um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, o segundo maior da história da empresa. Embora represente uma queda de 33,8% em relação ao ano anterior, esse resultado demonstra a resiliência da companhia em um ambiente desafiador.

O desempenho da Petrobras em 2023 refletiu principalmente o fim do programa de privatizações (venda de ativos) e o preço mais fraco do petróleo no mercado internacional. No entanto, os recordes operacionais e a estratégia comercial bem-sucedida contribuíram para garantir à estatal o segundo melhor resultado da história. A produção doméstica de petróleo e gás aumentou 2% em relação ao trimestre anterior, impulsionada pelo crescimento em diversos campos.

A estatal divulgou nesta quinta (7) seus resultados financeiros do quarto trimestre, revelando um lucro líquido de R$ 31 bilhões de reais, uma queda de 28,4% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa diminuição foi atribuída ao impacto de despesas com baixas contábeis e abandono de áreas. A dívida bruta aumentou, chegando a US$ 62,6 bilhões, aproximando-se do limite máximo de US$ 65 bilhões.

Durante o último ano do governo Bolsonaro, a estatal anunciou o pagamento de R$ 215,7 bilhões em dividendos aos acionistas. Entretanto, com o governo Lula, a Petrobras optou por uma postura diferente em relação aos dividendos, priorizando investimentos em detrimento de pagamentos elevados aos acionistas. O volume de dividendos caiu 66,4% no ano passado, totalizando R$ 72,4 bilhões. Embora essa decisão tenha frustrado investidores que esperavam uma distribuição adicional, a empresa reiterou seu compromisso com o crescimento sustentável.

Os investimentos da Petrobras aumentaram significativamente em 2023, refletindo sua estratégia de expansão e modernização. Apenas no quarto trimestre, os investimentos subiram 23,7% em relação ao mesmo período de 2022, atingindo US$ 3,55 bilhões.

Lucro acima das expectativas

Desconsiderando itens não recorrentes, o lucro líquido seria de R$ 41 bilhões de reais, uma redução de 6,3% na mesma comparação. No acumulado do ano, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, representando um recuo de 33,8% em relação ao ano anterior.

O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) ajustado totalizou R$ 66,9 bilhões de reais entre outubro e dezembro, uma queda de 8,5% em comparação com o mesmo período do ano anterior. A receita de vendas da petroleira somou R$ 134,3 bilhões de reais no trimestre, registrando uma queda de 15,3% na comparação anual.

Apesar desses números, o lucro recorrente veio acima das expectativas dos analistas, que previam um resultado de R$ 35,3 bilhões de reais, em média, conforme pesquisa da LSEG.

Os analistas da XP ressaltam que a falta de pagamento de dividendos extras vai fazer com que os investidores reavaliem os riscos associados à Petrobras, enquanto o Itaú BBA classifica a decisão como “a notícia que ninguém gostaria de ouvir”.

O Goldman Sachs, que projetava espaço para dividendos extras de até US$ 8 bilhões, espera uma reação negativa do mercado e destaca que a administração da Petrobras deverá abordar essa decisão na teleconferência agendada.

O mercado reage de forma variada à decisão da Petrobras, com recomendações neutras de bancos como Bradesco BBI e Santander, e uma recomendação de compra mantida pelo Morgan Stanley e Goldman Sachs.

Enfrentando desafios globais

Jean Paul Prates, presidente da estatal, destacou que o resultado foi alcançado mesmo diante dos desafios globais, como a queda de 18% no preço do petróleo Brent. Ele ressaltou os recordes de produção, o aumento dos investimentos e a redução da dívida financeira, além da colocação em operação de quatro novas plataformas no primeiro ano de gestão.

Prates destacou que os dividendos distribuídos pela empresa representam um retorno para a sociedade brasileira, além de ressaltar a contribuição da estatal para a arrecadação de impostos. Ele também enfatizou os recordes de valor de mercado alcançados desde o início de sua gestão em janeiro de 2023.

A Petrobras adotou uma abordagem de longo prazo, priorizando investimentos que garantam o crescimento rentável da empresa. Essa estratégia tem sido bem-sucedida, como evidenciado pelo retorno das ações preferenciais da companhia na Bolsa de Nova York, que alcançou 112% em 2023.

Distribuição de R$ 72,4 bilhões

Entretanto, as ações da companhia registraram queda de 1,1% no Ibovespa, pressionando o principal índice do mercado doméstico, que encerrou o dia com perda de 0,43%. O mercado também aguarda possíveis sinalizações sobre mudanças na política de dividendos da empresa após falas recentes do presidente Jean Paul Prates.

No fim de fevereiro, Prates indicou uma postura mais conservadora em relação à remuneração aos acionistas, o que gerou uma forte queda nas ações. A empresa posteriormente emitiu um comunicado ao mercado informando que ainda não foram tomadas decisões sobre a política de dividendos.

Em outra frente, o conselho de administração da Petrobras autorizou o encaminhamento à Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para 25 de abril de 2024, da proposta de distribuição de dividendos equivalentes a R$ 14,2 bilhões, segundo fato relevante divulgado pela empresa. Com a aprovação da AGO, os dividendos totais do exercício de 2023 alcançarão R$ 72,4 bilhões de reais, considerando os dividendos antecipados ao longo do ano, ajustados pela Selic.

Com uma visão de longo prazo e um compromisso com o crescimento sustentável, a Petrobras continua a consolidar sua posição como uma das principais empresas do setor energético global.

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