Milei aumenta o próprio salário em 48% e recua após repercussão negativa

O ultraliberal responsabilizou Cristina Kirchner, mas foi desmentido. O reajuste recebeu críticas da sociedade argentina que viu seu poder de compra ser reduzido em 20% em 2024

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O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta uma nova crise ocasionada pelo aumento de até 48% dos salários que ele mesmo concedeu ao Executivo. Após a repercussão negativa da medida (pouco austera), o líder da Liberdade Avança recuou e responsabilizou a ex-presidente Cristina Kirchner.

Apesar de todas as críticas de Milei contra o que classifica como “casta”, o decreto 206/2024, com os aumentos salariais, foi assinado pelo presidente argentino no dia 28 de fevereiro, junto com o seu chefe de Gabinete, Nicolás Posse, e a ministra de Capital Humano, Sandra Pettovello.

No mês anterior, o presidente havia assinado um decreto similar, mas que vetava o aumento para a Presidência e sua vice-presidente, Victoria Villaruel, e dos nove ministros, além de secretários e subsecretários.

Em janeiro, Milei recebeu como salário a quantia de 4.068.738 milhões de pesos (R$23.729,16, na cotação atual). Após a assinatura do decreto de fevereiro, no entanto, seu salário deu um salto de quase 50%, e foi para 6.025.801,32 de pesos (R$35.142,88, na cotação atual).

A sociedade argentina reagiu de forma dura à medida, uma vez que a velocidade da queda do poder de compra dos salários da população atingiu 20% nos primeiros dois meses da gestão ultraliberal.

Os salários “estáveis”, medidos por um indicador do ministério do Trabalho do país, indicaram que esta é a porcentagem do poder de compra perdido devido à aceleração dos preços no início de 2024, que combinou uma inflação de 25,5% em dezembro e 20,6%. em janeiro, as mais altas desde 1991.

O índice Ripte, que mede a variação nominal dos salários de um grupo de trabalhadores que apresentam estabilidade no emprego, mostrou que, em fevereiro, o rendimento dessas famílias subiu 14,7%, quase seis pontos percentuais atrás do ritmo inflacionário daquele mês.

Ou seja, mesmo entre as famílias com maiores rendimentos, o poder de compra está minguando a cada mês.

Em janeiro, o consumo de embalados (bebidas e alimentos e bens de consumo em geral, como produtos de higiene e cosméticos) sofreu uma retração de 3,8% na comparação com o mesmo mês em 2023, segundo a consultora Scentia. O levantamento registrou que as vendas nos supermercados caíram 8% no mesmo período.

A crise no país vizinho acontece após o governo Milei liberalizar os preços dos produtos e serviços em meio ao cenário de inflação galopante.

O mandatário argentino correu para as redes sociais, campo de batalha favorito de Milei, para responsabilizar a ex-presidente Cristina Kirchner. Segundo Milei, o aumento havia sido adotado de forma automática por causa de um decreto da administração de Cristina Kirchner de 2010.

Os dois trocaram farpas no X, antigo Twitter, e Kirchner negou que o decreto assinado por ela há 14 anos esteja ligado ao aumento do salário do presidente.

“Acabo de ser informado que em decorrência de um decreto assinado pela ex-presidente Cristina Kirchner em 2010, que estabelecia que os dirigentes políticos deveriam ganhar sempre mais que os funcionários da administração pública, foi concedido um aumento automático aos quadros políticos deste governo”, Milei escreveu em sua conta X.

“Não conseguem pensar em desculpa melhor do que me culpar por um decreto que assinei há 14 anos? É melhor nem te dizer quem isso me lembra, culpar uma mulher. Você não conseguiria ser mais casta e menos original”, disse Cristina Kirchner, em resposta.

A ex-presidente chegou a republicar dois decretos assinados e publicados por Milei e seu gabinete. No primeiro (90/2024), publicado em janeiro deste ano, o “incremento salarial não se estende ao Poder Executivo Nacional”, enquanto o segundo (206/2024), de fevereiro, define que o aumento “se estenderá para o Poder Executivo Nacional”.

“Oh presidente… você quer brigar comigo para que não falemos sobre o decreto que você assinou dando um aumento de 48% para você e seus funcionários enquanto destrói as pensões e salários dos argentinos… e das mulheres argentinas também. Admita que você assinou, foi pago e foi pego. Olha, aqui reproduzo os dois decretos que ela assinou com a amiga e ministra do Desenvolvimento Social e com a sua Chefe da Casa Civil, porque… quero pensar que você leu o que assina, né? No de Janeiro o senhor não incluiu expressamente as autoridades, e no de Fevereiro o senhor e os seus funcionários foram incluídos. Como verão, o decreto que assinei há 14 anos não tem nada a ver com isso. Atenciosamente para você e seu gabinete” concluiu Kirchner.

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