Conferência em Belém debate “Vozes da Amazônia e a COP 30”

As discussões do evento, que iniciaram na tarde de sexta (15), serão decisivas para o formato que se quer chegar da COP 30, a Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas

Foto: Marcelo Seabra

A conferência “Vozes da Amazônia e a COP 30” acalorou o debate sobre a crise na Amazônia no auditório da Universidade da Amazônia (Unama), centro de Belém (PA), ao final da manhã deste sábado (16), durante o segundo dia da Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. As discussões do evento, que iniciaram na tarde de sexta-feira (15), serão decisivas para o formato que se quer chegar da COP 30, a Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que será realizada pela 1ª vez em 2025 numa cidade da Amazônia, na capital paraense.

Segundo o professor Eron Bezerra, diretor do Centro de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o modo de produção capitalista é a essência da crise ambiental, que vem se intensificando com transferências de responsabilidades, conceitos deturpados sobre o crescimento populacional desproporcional à produção de alimentos, discursos de créditos de carbono, entre outros: “Ao invés de reduzirem a emissão de CO² dos países de capitalismo avançado pagam para outros fazerem a faxina. É também a falsa ideia de que tem terra demais para pouco índio, pois não precisamos usar mais que 2% do território do Pará para produzir alimentos, e sabemos que a lógica é outra”, disse o professor.

Para falar sobre mudança climática, o diretor da UFAM fez um recorte da relação da humanidade com o ambiente desde as tribos iniciais, quando já havia impacto ambiental, porém de menor proporção, até a criação das bombas atômicas e as conferências mundiais ambientais, como a COP e os protocolos de Kyoto, Paris. “Na Revolução Industrial, com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, foi que a humanidade percebeu que estava em risco. Por isso, começaram as surgir as conferências ambientais”.

Entre as medidas concretas adotadas pela Unidade de Pesquisa em Energia, Clima e Desenvolvimento Sustentável da UFAM (UPEC) para enfrentar tragédias maiores, ele cita a construção do Mapa Solarimétrico do Amazonas, edifícios solares, publicação de uma revista sobre sustentabilidade em quatro línguas, inclusive traduzida em língua nativa, além da realização de seminários sobre Clima e Difusão Ambiental e criação do Centro de Mídias e Tradução para facilitar a difusão da língua nativa.

O presidente da Imprensa Oficial do Estado (Ioepa), Jorge Panzera, lembrou de sua trajetória de vida na Amazônia e militância política e social desde a década de 80. “Com esse olhar busco trocar algumas ideias sobre o pensar a Amazônia e observar os caminhos que estamos vivendo a partir de uma linha política e ideológica”.

Resistência – Durante a conferência, Panzera se reportou à história de resistência do povo da Amazônia, ao citar como exemplo o início da fundação da cidade de Belém, em 1616, quando os Tupinambás resistiram à colonização portuguesa, e em 1728, quando o líder Ajuricaba também foi símbolo de resistência das vozes que se levantavam contra a cidade de Manaus. “É uma resistência que precisa ser permanente no sentido de identificar as nossas caminhadas e entender que a nossa luta é para gerar um novo ciclo de sociedade, em que a riqueza que a humanidade produz seja para todo mundo”, disse Panzera.

Segundo ele, é preciso pensar um projeto de país e para a Amazônia dos povos que vivem aqui. “Não se pode pensar a Amazônia com olhar de quem está fora dela. Para ser um grande país, o primeiro caminho do Brasil é ter respeito pela Amazônia, o que significa olhar os interesses do povo da Amazônia e do povo brasileiro. O outro passo é investir em ciência, tecnologia e inovação a partir do que é produzido na Amazônia, porque aqui nas nossas universidades se produz mais ciência com menos dinheiro do que se produz lá fora”, concluiu.

Segundo o professor João Cláudio Tupinambá Arroyo, da Unama, que também participou do debate, a Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável é um divisor na preparação para a COP 30, que será realizada entre 10 a 21 de novembro de 2025. “Nós nos acostumamos a denunciar em todos os fóruns, mas é preciso anunciar além de denunciar, avançar na solução de alguns pontos e pensar numa abordagem para a Amazônia que não pode ser por setor, mas por território”, disse ele.

A conferência “Vozes da Amazônia e a COP 30” ocorreu logo após palestra do Ministério do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia com o secretário nacional dos povos e comunidades tradicionais. O debate foi mediado por Altair Silva, da Universidade Federal do Pará.

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