Em São Paulo, plenária debate enfrentamento ao bolsonarismo na eleição

Temas locais como os contratos sem licitação, devem conviver com a polarização nacional durante a eleição paulistana. Nádia Campeão e Alcides Amazonas analisam o debate ocorrido na plenária de Claudio Fonseca com Guilherme Boulos.

Dirigentes do PCdoB destacaram o sucesso da plenária realizada no último sábado (16), que contou com a presença de mais de 800 pessoas, superando as expectativas iniciais dos organizadores. O pré-candidato a vereador e presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (SINPEEM), Claudio Fonseca, e o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSol) participaram da plenária no centro de São Paulo que também contou com a presença do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente do Comitê Municipal do PCdoB em São Paulo, Alcides Amazonas, e a secretária nacional de Organização do PCdoB, Nádia Campeão, ex-vice-prefeita de São Paulo, avaliaram o encontro e como o projeto político do PCdoB e do campo progressista, devem se expressar nesta eleição municipal na maior cidade do país. Embora questões locais centralizem o debate, a polarização nacional deve ser um elemento que comparece na disputa entre o campo progressista expresso por Boulos e o bolsonarismo de Ricardo Nunes (MDB).

A plenária foi descrita por Nádia Campeão como uma reunião poderosa e representativa, com participação diversificada de diferentes setores da sociedade. A energia e entusiasmo demonstrados indicam um forte apoio às pré-candidaturas de Claudio e Boulos, sugerindo que a campanha está ganhando força entre os eleitores.

“Foi uma plenária potente, gente de todas as áreas, de todas as regiões, tinha jovem, predominância de mulheres, muita gente de bairro, numa plenária muito unitária, representativa e muito combativa. É um sinal de que a dupla Claudio e Boulos, empolgou a turma. A dobradinha pegou!”

O professor Cláudio Fonseca e o deputado federal Guilherme Boulos

Amazonas descreve a plenária como um evento animado, com a participação de diversos segmentos da sociedade, incluindo movimentos de moradia, populares, sindicais e juvenis. Destacou a importância de eleger o prefeito progressista para a cidade de São Paulo.

“Foi uma plenária muito alegre, muito pra cima, com a nossa turma muito animada e com o desafio de buscar 50 mil votos, é a nossa meta, pra eleger o Claudio Fonseca vereador aqui na cidade de São Paulo”, diz ele. “O Boulos está bastante empolgado, disse que vai fazer um governo do diálogo, aberto e transparente, combatendo a desigualdade social, que é muito forte aqui em São Paulo, buscando mais geração de empregos e moradia para o nosso povo. Nós consideramos que demos o pontapé inicial na batalha de 2024 com muito entusiasmo”, avalia.

Do tamanho do Brasil

Amazonas e Nádia reconhecem que a polarização na corrida eleitoral de São Paulo é impulsionada, em grande parte, pelo tamanho e importância da cidade de 12 milhões de habitantes. Nádia destaca a magnitude e a relevância da disputa eleitoral na cidade de São Paulo, a maior do Brasil. Ela ressalta que São Paulo não é apenas uma cidade, mas praticamente um estado, dada sua população de quase 12 milhões de habitantes. Ela enfatiza que a cidade é o centro dinâmico do país em termos econômicos, financeiros e culturais, exercendo grande influência sobre o restante do Brasil.

Além disso, Nádia Campeão destaca o embate político em torno da eleição, apontando para a formação de um campo ligado ao bolsonarismo, representado pela reeleição do atual prefeito. Nádia enfatiza que o prefeito, ao buscar apoio desse campo, se torna uma representação desse grupo político, identificando-se com pautas e ideologias extremistas.

A ex-vice-prefeita conta que foi Ricardo Nunes que levantou a famigerada pauta bolsonarista da “Escola Sem Partido” na Câmara. “Ele não é alguém que não se identifique com esse segmento ultraconservador, se pra isso ele ganhar voto. Ele foi pra cima de uma professora de uma escola municipal aqui de São Paulo, dizendo que ela estava levando a ideologia pra dentro da escola. Para enfrentar isso, eu fiz reunião na escola, ele fez discurso na Câmara, naquela fase ainda anterior ao crescimento do Bolsonaro, mas de ascenso do MBL [Movimento Brasil Livre]. Esse aí é o Ricardo Nunes”, relata ela, citando o episódio da Semana de Gênero, promovida pela Escola Amorim Lima, da Vila Gomes.

Nádia também menciona a importância de derrotar esse campo político representado pelo bolsonarismo, destacando Guilherme Boulos como um dos principais candidatos capazes de enfrentar essa alternativa. Ela ressalta a necessidade de apoio de diversos segmentos da sociedade para enfrentar essa ameaça, especialmente no segundo turno das eleições.

Outro ponto levantado pela dirigente do PCdoB é o impacto nacional de uma eventual vitória de Boulos na prefeitura de São Paulo. Ela destaca que gestões progressistas na cidade têm impacto significativo em nível nacional, influenciando políticas públicas e se tornando referência para outras regiões do país. Uma gestão de Boulos seria uma força importante no cenário político para as eleições de 2026.

“Durante quatro anos, é uma nova força no cenário nacional. Porque toda vez que nós ganhamos, fizemos gestões muito impactantes. A gente desequilibra muito, porque são gestões avançadas, inclusivas, como a da [Luisa] Erundina, da Marta [Suplicy] e do [Fernando] Haddad. Isso impacta nacionalmente, são novas políticas que são feitas e referenciam todo o país. Se vence o Boulos aqui, vamos ter 4 anos de uma gestão que faz muita diferença no cenário dos executivos municipais, com muita articulação internacional, nacional e novas políticas públicas”, analisa Nádia.

Temas nacionais e urbanos

Tanto Nádia, quanto Amazonas ressaltam que, embora haja temas de âmbito nacional que possam ter impacto na disputa municipal, como a polarização entre líderes políticos como o presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também citada como elemento que influencia a nacionalização da eleição, os temas locais têm uma relevância significativa. Ambos os dirigentes do partido mencionaram problemas como segurança pública, infraestrutura urbana e serviços básicos, que afetam diretamente a vida dos paulistanos e devem estar no centro do debate eleitoral.

“Aqui em São Paulo está se decidindo o que vai acontecer em 2026. Essa é a disputa que está em jogo. Então, São Paulo tem uma responsabilidade muito grande para derrotar os bolsonaristas, os fascistas e todos aqueles que estiveram na Paulista comemorado o golpe recentemente”, diz Amazonas.

Um dos problemas que se destacam em pesquisa de opinião é a questão da concessionária de energia, da Enel, que tem gerado frequentes quedas de energia na cidade, especialmente durante as chuvas, o que acaba trazendo o tema da privatização para o debate. A falta de manutenção adequada das vias públicas também é um ponto sensível, com ruas esburacadas em diversas regiões da cidade, especialmente nas periferias.

Quanto à economia, a ex-vice-prefeita de São Paulo expressa dúvidas sobre seu papel como elemento central na disputa eleitoral, sugerindo que outros problemas locais podem ter mais peso na escolha dos eleitores. Em relação à influência de Bolsonaro e Lula na campanha, ela argumentou que esses temas podem servir mais como pano de fundo do que como questões centrais. Ela observou que os candidatos, como Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, serão mais propensos a explorar as questões municipais em suas campanhas, utilizando a conexão com líderes nacionais como parte de estratégias políticas, mas não como foco principal.

Nádia destaca a privatização de serviços básicos como um tema central que deve surgir nos debates eleitorais, citando especificamente a comparação entre a Sabesp, empresa estatal de saneamento, e a Enel, concessionária privada de energia elétrica. A população paulistana enfrenta questões sobre a qualidade e o custo dos serviços após a privatização, tornando esse tópico um ponto de interesse para os eleitores.

Além disso, problemas locais como a situação da população em situação de rua, a Cracolândia e o custo de vida também devem estar em pauta. A segurança pública emerge como um assunto importante segundo pesquisa Datafolha, com a discussão sobre abordagens ideológicas e a eficácia das políticas de segurança ao longo dos anos. Ela ressalta que a polarização sobre esse tema é recorrente na política paulistana, com diferentes abordagens entre os candidatos.

“Tem a vertente de quem relaciona a segurança com N fatores da sociedade, da educação, da cultura, das oportunidades, da moradia digna. E tem quem defende ‘pau em bandido’, armar muito bem a polícia, a Rota do Maluf e do Jânio, e o Tarcísio é uma versão atualizada disso. Então o problema de segurança pública sempre teve essa polarização. Nosso campo sempre defendendo que precisa
ter inteligência policial, e eles criticando a defesa dos direitos humanos. Eu acho que isso aí é um tema permanente”, pondera Nádia.

Alcides Amazonas também menciona o assunto, apontando que a Prefeitura também tem seu papel no combate à insegurança a população. “A Prefeitura pode contribuir fortalecendo a Guarda Civil Metropolitana, ampliando o número de agentes, iluminando mais a cidade de São Paulo, colocando mais policiamento, mais Guarda Civil nas escolas”, sugere ele.

Ao comentar sobre a gestão atual da prefeitura, Nádia levanta preocupações sobre o uso de contratos de emergência para obras públicas, em detrimento dos investimentos nos serviços essenciais à população. Essa abordagem levantada pelo candidato Guilherme Boulos durante a plenária recente foi destacada como uma denúncia importante, revelando uma possível falta de transparência e prioridades questionáveis na administração municipal.

“Essa dinheirama do superávit faz com que a prefeitura seja de esquema. Não está investindo nos serviços mais essenciais, mas tem um monte de contrato de emergência para asfalto. Imagina a escala de bilhões que só interessa a quem está sendo contratado pelo contrato de emergência! É uma situação duvidosa, porque ele não abre concursos, contratações, investimentos em obras sociais”, critica Nádia.

Amazonas também citou o fato de Ricardo Nunes estar com mais de RS$ 30 bilhões de superávit em caixa. “Mas isso não é porque ele planejou ter uma boa gestão. Ele tem recurso em caixa porque não conseguiu gastar, não tem projeto, nem planejamento. A cidade está com um monte de obras eleitoreiras de última hora. Está fazendo um grande programa de recapeamento, com este ‘asfalto sonrisal’, que na primeira chuva já derrete”, descreve ele.

Diante dessas considerações, Nádia enfatiza a complexidade da disputa eleitoral municipal e a necessidade de dar tempo para observar como os temas se desenvolverão ao longo da campanha, destacando a importância de questões locais na escolha dos eleitores.

Mediocridade inoperante

Amazonas também ressaltou a presença de figuras políticas como Lula e Bolsonaro, destacando a importância de derrotar o bolsonarismo e fortalecer a democracia. O presidente do comitê paulistano ressalta que líderes do campo progressista como Lula e Haddad obtiveram vitórias eleitorais na capital mesmo após derrotas em outras partes do estado. Por outro lado, Bolsonaro busca influenciar a eleição através de alianças políticas e indicações para cargos-chave, intensificando a polarização.

A gestão do atual prefeito Ricardo Nunes é criticada por Amazonas, que a descreve como medíocre e inoperante. Ele enfatiza a falta de projetos e planejamento, além do uso de obras eleitoreiras para tentar obter apoio. Para ele, Nunes rivaliza com Celso Pitta (1998-2001) na disputa como pior prefeito da cidade. “Vários prefeitos que passaram por aqui deixaram a sua marca, mas o Ricardo Nunes não tem uma marca, senão a mediocridade e inoperância”.

A presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na batalha eleitoral é mencionada como um fator que contribui para a nacionalização do debate político. Uma presença que traz à tona as diferentes abordagens sobre a segurança pública, com o governador apoiando o extermínio de suspeitos na Baixada Santista, que já ultrapassa os 50 mortos em poucos meses.

“Ele está também com um programa arrojado de privatizações na Assembleia Legislativa de São Paulo, como a privatização da Sabesp, a maior empresa de saneamento da América Latina. Ele quer agora fazer a aprovação desse projeto nas câmaras municipais, principalmente aqui na cidade de São Paulo”, aponta Amazonas.

Amazonas ressalta a importância de pautas como a reindustrialização da cidade e o combate à desigualdade social como temas centrais da campanha do PCdoB. Ele enfatiza o compromisso de Guilherme Boulos e Cláudio Fonseca em enfrentar esses desafios e buscar uma vitória nas eleições municipais, visando contribuir para um cenário político mais favorável em nível nacional.

“A necessidade de ter um novo programa de reindustrialização para gerar mais emprego, mais indústria aqui na cidade, no estado de São Paulo, que outrora era o carro-chefe da indústria nacional e se transformou numa cidade de serviços, o que ajuda a nacionalizar o debate. De uma certa forma, é a marca maior que a gente está procurando imprimir aqui: um governo que ajude na atração de novas empresas para gerar empregos e renda para o nosso povo e combater a desigualdade social que se expressa nos quase 60 mil moradores em situação de rua, uma calamidade que nós vivemos na cidade”, explica Amazonas, destacando também a capacidade de Boulos para o diálogo com os movimentos sociais.

Em meio a um cenário de desigualdade e desafios econômicos, Amazonas expressa otimismo em relação às condições atuais da campanha eleitoral, destacando a importância de ganhar eleições em nível municipal como um passo crucial para fortalecer a oposição ao bolsonarismo e pavimentar o caminho para futuras vitórias em 2026. “Nas últimas duas eleições, a gente não conseguia nem entregar panfleto na rua. Se eu saísse com a camisa vermelha na rua eu corria o risco de ser agredido. Hoje as condições são mais favoráveis”, compara.

Diante desses desafios, a batalha eleitoral em São Paulo se torna não apenas uma disputa local, mas também uma arena onde se definem os rumos políticos do país nos próximos anos. Finalmente, Amazonas expressou confiança na capacidade do PCdoB de alcançar uma importante vitória em São Paulo, marcando o início de um novo ciclo para o partido na cidade.

Coroamento pela base social

Durante o evento, as presenças de Fonseca, Boulos, Nádia e Orlando representam um coroamento da primeira fase da campanha, na opinião de Amazonas. Nádia também ressalta a representatividade do evento pela diversidade de bases militantes presentes.

O dirigente paulistano do PCdoB ressalta que Fonseca realizou um extenso giro de 40 dias nas organizações do partido, dialogando com a direção em todas as áreas, incluindo distritais, comitês de empresas e a base sindical. Destacou-se também a realização de uma plenária sindical com lideranças de 20 sindicatos da capital.

O dirigente enfatiza a importância dada ao movimento sindical pelo partido, destacando o desafio de coordenar o comitê de campanha na área sindical, sob o comando de Nivaldo Santana. Além disso, mencionou o papel relevante de Fonseca, que, além de ser professor e líder sindical, foi recentemente reeleito para presidir o sindicato dos professores municipais de São Paulo (Sinpeem).

Autor