Daniel Alves é solto após amigos pagarem fiança, segundo jornal espanhol

Acusado de estupro, jogador brasileiro teve fiança estipulada pela Justiça da Espanha na semana passada e poderá aguardar em liberdade até o fim do julgamento dos recursos

Foto: reprodução/redes sociais

Conforme noticiado nesta terça-feira (26), graças à velha “broderagem” que, particularmente no futebol, vem servindo para acobertar abusos sexuais, o jogador Daniel Alves, condenado por estupro, pôde pagar a fiança estipulada pela Justiça da Espanha e foi solto nesta segunda-feira (25). Ao lado do eloquente silêncio do mundo futebolístico sobre o caso, o episódio é mais um a mostrar a tolerância e a banalização que o machismo criou e alimenta em torno da violência contra a mulher. 

O valor estipulado — 1 milhão de euros, ou R$ 5,4 milhões de reais — teria sido pago, de acordo com o jornal espanhol La Vanguardia, por um grupo de amigos do jogador, cujos nomes não foram revelados. 

Apesar de ser dono de um patrimônio estipulado em R$ 300 milhões, Alves teve seus bens bloqueados devido ao caso de estupro, na Espanha, e a uma disputa judicial com sua ex-esposa no Brasil. 

Leia também: Fiança para liberar Daniel Alves ajuda a banalizar violência contra mulher

Com a soltura do jogador — que estava preso desde janeiro de 2023 —ele poderá responder em liberdade até o fim do julgamento dos recursos. Também foi ordenada a retenção de seus dois passaportes (o espanhol e o brasileiro) e ficou determinado que Alves não pode se aproximar a menos de um quilômetro da vítima nem se comunicar com ela. 

Na semana passada, após a Justiça estabelecer a possibilidade de fiança, a vítima teria dito à advogada Ester García López: “Sinto que voltaram a me estuprar. Estou cansada de ser forte, não quero mais ser forte”.

Valores envolvidos

Não foi a primeira vez que cifras vultosas como essa permearam o julgamento e foram usadas na tentativa de atenuar a gravidade da agressão. Alves teve sua pena reduzida pela metade do que fora pedido pelo Ministério Público da Espanha, para quatro anos e meio de prisão, após ter o “atenuante da reparação de danos”, no valor de 150 mil euros (R$ 800 mil), pago à vítima pelo jogador Neymar Jr. e sua família, quando o colega estava sendo julgado. 

No entendimento da Justiça, o pagamento manifestaria o “desejo de reparação” em relação ao crime. Vale lembrar que, nas palavras da própria Corte — que considerou Alves culpado —, “o arguido agarrou abruptamente a denunciante, atirou-a ao chão e, impedindo-a de se mexer, penetrou-a pela vagina, apesar de a denunciante ter dito que não, que queria ir embora”. 

Leia também: Cuca fala sobre acusação de estupro e diz haver acobertamento no futebol 

Mais tarde, após a condenação, foi noticiado que o pai de Neymar teria cogitado pagar a fiança — o caso teve ampla repercussão e, na sequência, ele acabou negando a informação.

Na tentativa de não ser julgado, Alves ainda buscou uma saída negociada com a vítima no ano passado. O acordo foi rejeitado pela acusação e, na ocasião, a advogada da jovem afirmou que “qualquer delito contra a liberdade sexual torna os danos morais e as sequelas irreparáveis”.

Reações

No Brasil, país em que a cada oito minutos uma mulher é estuprada — somando 34 mil apenas no primeiro semestre do ano passado, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública — o caso tem despertado revolta, sobretudo de lideranças e autoridades envolvidas com a luta pelo fim da cultura do estupro e da violência de gênero. 

Entre as vozes que se levantaram contra a fiança está a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após a Justiça espanhola estipular o valor a ser pago, Lula declarou: “O dinheiro que o Daniel Alves tem, o dinheiro que alguém possa ter, não pode comprar a dignidade da ofensa que um homem faz a uma mulher praticando estupro”. 

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, também rechaçou a soltura:  “Condenado por estupro, Daniel Alves deixa prisão após pagamento de fiança. Dinheiro nenhum paga a integridade e a dignidade de uma mulher. Por isso, não há fiança que dê conta da tamanha brutalidade que é o estupro, uma das mais cruéis violações de direitos humanos das mulheres”, declarou, pelas redes sociais. 

A deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS) declarou: “A vítima não quis o dinheiro, quis justiça! Já a justiça não se importou com a vítima. Ela quis o dinheiro. Esse caso é um escárnio com todas as mulheres e expõe como em diversas partes do mundo quem manda são os homens, ricos e poderosos”.