Protestos pró-Palestina nas universidades dos EUA levam a confrontos e prisões

Fora dos EUA, os protestos já alcançaram universidades de excelência no Canadá, na Austrália, Reino Unido, França e Itália.

Foto reprodução das redes sociais de estudantes da Columbia University

Manifestações e protestos pró-Palestina estão tomando conta dos campi universitários nos Estados Unidos e em várias partes do mundo, com estudantes e membros do corpo docente exigindo ações concretas em resposta à guerra de Israel em Gaza, que já dura mais de seis meses. Os protestos têm resultado em aproximadamente 900 prisões nos últimos 10 dias, com envolvimento de professores, jornalistas e até políticos, como a candidata presidencial dos EUA, Jill Stein.

Na Universidade de Columbia, em Nova York, uma das instituições mais prestigiadas dos EUA, protestos pró e contra a guerra têm se intensificado, culminando na prisão de mais de 100 manifestantes em 19 de abril, quando a polícia dispersou um acampamento montado por estudantes. A situação se agravou em 24 de abril, quando o presidente republicano da Câmara, Mike Johnson, instou a presidente da universidade a demitir-se se não conseguisse controlar os protestos.

Os acontecimentos na Universidade de Columbia evocaram memórias sombrias de conflitos passados, como o tiroteio fatal pela Guarda Nacional de Ohio contra estudantes da Universidade Estadual de Kent, em 1970, durante protestos contra a Guerra do Vietnã.

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Em meio aos protestos, os administradores da Columbia anunciaram que as aulas seriam ministradas em formato híbrido até o final do semestre da primavera. Os estudantes pró-Palestina da universidade estão exigindo que a instituição corte laços com empresas que lucram com a guerra em Gaza.

Esses protestos não se limitam à Columbia. Mais de 50 outros campi universitários em todo o mundo testemunharam manifestações em massa, incluindo universidades proeminentes como Yale, Harvard, Virginia Tech, University of Texas em Austin e University of California em Berkeley.

Na Austrália, as manifestações ocorrem nas Universidades de Melbourne e Sydney. No Canadá, nas Universidades McGill e Concordia. Na França, o final de semana foi marcado por barricadas no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) e na Universidade Sorbonne, dois centros de excelência europeia. Na Itália, os estudantes estão mobilizados na Universidade Sapienza e no Reino Unido, nas Universidades de Leeds, na College London e na Warwick.

Confrontos e prisões

Os confrontos entre manifestantes pró-Israel e pró-Palestina têm sido relatados em várias universidades, com episódios de violência ocorrendo na UCLA (Los Angeles) e na Northeastern University (Boston), entre outros locais. A polícia foi chamada para intervir em várias dessas situações, resultando em dezenas de prisões. Em Boston, a repressão foi motivada por gritos de “morte aos judeus”. No entanto, vídeos provaram que os gritos vinham de manifestantes empunhando bandeiras de Israel.

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Na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), embora a polícia de Los Angeles não tenha sido chamada e nenhuma prisão tenha sido feita, policiais de outras partes do país foram enviados aos campi no sábado, com alguns fazendo uso de irritantes químicos e Tasers para dispersar os estudantes.

Em Boston, aproximadamente 100 pessoas foram detidas pela polícia enquanto era realizada a limpeza de um campo de protesto na Northeastern University. Imagens nas redes sociais mostraram forças de segurança equipadas com material antidistúrbio e agentes carregando tendas em um caminhão. Em comunicado, a Northeastern anunciou que a área do campus onde ocorreram os protestos estava agora “totalmente protegida” e que “todas as operações do campus voltaram ao normal”.

Em Bloomington, no Centro-Oeste, o Departamento de Polícia da Universidade de Indiana prendeu 23 pessoas enquanto desmantelava um campo de protesto no campus, conforme relatado pelo jornal Indiana Daily Student.

Já na Universidade Estadual do Arizona, no lado oposto do país, 69 pessoas foram presas por invasão de propriedade após o grupo montar um “acampamento não autorizado” no campus. Autoridades do estado do Arizona afirmaram que a maioria dos manifestantes não eram estudantes, professores ou funcionários da universidade.

Em St. Louis, na Universidade de Washington, pelo menos 80 pessoas foram presas, incluindo a candidata presidencial dos EUA, Jill Stein, e seu gestor de campanha.

Os líderes universitários têm lutado para conter os protestos, mas até agora tiveram pouco sucesso. As manifestações continuam a ganhar força, com estudantes e professores exigindo um cessar-fogo em Gaza e o desinvestimento de empresas ligadas a Israel.

Consequências e riscos

Os protestos estudantis em universidades têm gerado não apenas visibilidade para diversas causas, mas também repercussões significativas para aqueles que optam por levantar suas vozes. Em meio a manifestações por todo o mundo, estudantes enfrentam suspensões, liberdade condicional e até mesmo expulsões de suas instituições de ensino.

Momodou Taal, um dos quatro estudantes da Universidade Cornell, no estado de Nova York, temporariamente suspensos por montarem um acampamento no campus, descreveu a pressão enfrentada pelos manifestantes. Além das medidas disciplinares, esses estudantes têm sido alvos de ameaças e doxxing, a publicação não autorizada de suas informações pessoais na internet.

No Canadá, o primeiro campo de protesto em solidariedade à Palestina apareceu na Universidade McGill, em Montreal, destacando a internacionalização do movimento estudantil. Na Austrália, tendas foram montadas no gramado da Universidade de Sydney, demonstrando a disseminação global das preocupações e mobilizações estudantis.

Em comunicado, a vice-reitora da Universidade de Sydney, professora Annamarie Jagose, reiterou o compromisso da instituição com o direito dos manifestantes de se expressarem pacificamente, mas enfatizou a política de “tolerância zero” para qualquer forma de discriminação ou discurso de ódio.

Os protestos universitários têm uma longa história de eficácia na promoção de mudanças sociais, como evidenciado pelo movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos e pela luta anti-apartheid em diversas partes do mundo. No entanto, os estudantes que participam dessas manifestações assumem grandes riscos.

O preço dos protestos pode ser alto. Se violarem as regras da universidade, podem ser expulsos. As mensalidades custam mais de US$ 50 mil por ano. Para muitos deles, é uma educação pela qual se prepararam durante toda a vida.

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