Biden critica Japão, Índia, China e Rússia por políticas xenófobas de imigração

Em evento de doadores milionários de origem asiática, ao querer elogiar os imigrantes, Biden ofendeu aliados estratégicos, como Japão e Índia.

Fumio Kishida com Joe Biden na Casa Branca em 10 de abril.

O presidente Joe Biden, em um evento de arrecadação de fundos em Washington, D.C., para marcar o início do Mês do Patrimônio Asiático-Americano, Nativo Havaiano e das Ilhas do Pacífico, na quarta-feira (1º), chamou o Japão, aliado próximo dos Estados Unidos, de “xenófobo”, poucas semanas depois de elogiar a aliança entre os dois países em um jantar de Estado. Durante o evento reservado, Biden argumentou que o Japão e a Índia, assim como China e Rússia, teria um desempenho econômico melhor se adotassem uma política mais receptiva à imigração.

“Você sabe, uma das razões pelas quais nossa economia está crescendo é por sua causa e por muitos outros. Por que? Porque acolhemos imigrantes”, disse Biden, de acordo com uma transcrição oficial da Casa Branca divulgada na quinta-feira (2). “A razão – pense nisso. Por que a China está tão estagnada economicamente? Por que o Japão está tendo problemas? E por que a Rússia também? Porque eles são xenófobos. Eles não querem imigrantes. Os imigrantes são o que nos torna fortes.”

As críticas de Biden ocorrem em um momento em que ele enfrenta pressão política interna sobre suas próprias políticas de imigração, com o governo dos Estados Unidos lidando com um fluxo de imigrantes e enfrentando críticas dos republicanos sobre a gestão da situação. O discurso do presidente é controverso de diversas formas, afinal, seu país tem algumas das imagens mais dramáticas de desrespeito aos direitos humanos de imigrantes que atravessam a fronteira do México.

Em resposta à indignação dos republicanos e democratas com os surtos históricos de migrantes na fronteira sul, o presidente aprovou a legislação de imigração mais restritiva dos últimos anos. Essa legislação ficou paralisada no Congresso , mas agora Biden está a considerar se deve usar o seu poder executivo para decretar sozinho uma repressão severa ao asilo.

Ele também argumenta em torno da situação econômica de países que não é compatível com a realidade. Exceto pelo Japão, os demais países são considerados por organismos internacionais os que mais crescem economicamente, apesar das adversidades que enfrentam, como sanções econômicas e guerras. Índia e China também são países com pouca dependência de imigração, considerando a alta taxa demográfica de sua população jovem e ativa.

O Japão, principal aliado americano deste grupo, é o único com forte tendência de envelhecimento da população e economia não apenas estagnada, mas também em decrescimento. O Japão enfrenta há muito tempo uma crise demográfica, e sua população em declínio tem impactos significativos na força de trabalho e na economia do país. Apesar dessa crise, o Japão e outros países do leste asiático têm relutado em adotar políticas de imigração para reforçar suas populações.

Os observadores sugerem que Biden está tentando equilibrar sua posição sobre a imigração, especialmente à luz da pressão política crescente para adotar políticas mais restritivas na fronteira sul. Enquanto isso, o presidente também busca diferenciar-se de seu antecessor, Donald Trump, cuja abordagem à imigração foi amplamente criticada por ser discriminatória e xenófoba.

Diplomacia ambígua

Essa não foi a primeira vez que Biden fez críticas semelhantes. Em uma entrevista a uma estação de rádio de língua espanhola em março, ele classificou Japão, China e Rússia como “xenófobos”, afirmando que não desejam a presença de pessoas que não sejam nativas em seus territórios.

Essas observações surpreenderam, especialmente porque Biden fez questão de estreitar os laços com o Japão e a Índia desde que assumiu o cargo em 2021. Apenas três semanas antes, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, esteve na Casa Branca para um jantar de Estado, durante o qual ambos os países celebraram sua parceria “inquebrável”. O presidente também recebeu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para uma visita de estado no ano passado, e ambos os países fazem parte do grupo de segurança Quad, uma aliança para contenção da China.

A Casa Branca procurou minimizar os comentários do presidente, argumentando que Biden estava defendendo o papel fundamental da imigração nos Estados Unidos. “Os nossos aliados sabem muito bem o quanto o presidente os respeita, valoriza a sua amizade, valoriza as suas contribuições”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

Enquanto isso, os defensores dos direitos dos imigrantes esperam que as declarações de Biden durante o evento de campanha indiquem uma possível reconsideração de algumas das propostas mais duras em relação à imigração. No entanto, as políticas concretas que a administração Biden adotará permanecem incertas, enquanto o debate sobre imigração continua a ser uma questão central na política interna e externa dos EUA.

Até o momento, nem o Japão nem a Índia responderam aos comentários de Biden. Diferente de Rússia e China, são países importantes nas estratégias diplomáticas e de segurança dos EUA.

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