Para sindicalistas, greve na Argentina foi forte e com apoio social

Com alta adesão, a greve paralisou todo o sistema de transporte em Buenos Aires. A CGT diz que manterá seu plano de mobilização contras as perdas trabalhistas

Pablo Moyano, Héctor Daer e Carlos Acuña, triunvirato de comando da CGT, ao avaliar a greve

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) realizou nesta quinta, 9, uma greve geral que foi descrita como “forte” e “bem-sucedida”, marcando a segunda manifestação em cinco meses contra o governo de Javier Milei. Os sindicalistas, reunidos na histórica sede do sindicato dos trabalhadores na rua Azopardo, avaliam que a greve foi contundente e teve apoio social e político. Sugeriram que o governo que “tomasse nota” e alterasse sua política de ajustamento.

Na sede da CGT chegaram avisos das diferentes regiões sindicais explicando o alcance da medida nas províncias. A média ficou entre 80% e 90% de adesão. O governo de Javier Milei tentou, sem sucesso, repetir o velho argumento de que os sindicatos impedem as pessoas que não aderem à medida de se deslocarem aos seus locais de trabalho, os milhões que o país perde, os atos violentos ou o uso de pregos para furar pneus, como disse o Ministro da Segurança. Foi a segunda greve nacional em cinco meses de um governo de ultradireita que aplica um ajuste feroz que destrói a segurança social e enfraquece a estrutura do Estado. Tudo indica que pode haver mais pressão desse tipo.

“Hoje, realizamos uma greve política porque estamos discutindo todas as ações que estão prejudicando o tecido do nosso país. O governo deve tomar nota para retificar sua política de ajustamento”, afirmou Héctor Daer, um dos membros do comando do movimento. Ele se referia às desqualificações repetitivas do governo de que “a greve é política”. Daer destacou que indicadores como a queda real nas rubricas orçamentárias para aposentadorias, obras públicas, subsídios de transporte, transferências para as províncias e cortes para universidades e programas sociais justificavam a necessidade da greve.

Daer lista alguns indicadores: queda real de 31% nas rubricas orçamentárias para aposentadorias e pensões, 87% em obras públicas, 39% em subsídios de transporte, 76% em transferências para as províncias, 18% em cortes para universidades e 13% em programas sociais. O dirigente do sindicato da Saúde mostrou um recorte de jornal onde era evidente a queda do poder de compra dos salários e o colapso da indústria e da construção.

“E agora existe uma meia sanção nos Deputados (à Lei de Bases) que dá poderes ao Poder Executivo para dissolver entes públicos sem justa causa. Não está claro que limite vão impor (ao governo)”, lamentou Daer. Aí falam que por conta da legislação trabalhista existem trabalhadores informais, mas com esse projeto de lei 600 mil trabalhadores passam da formalidade para um esquema formal de ilegalidade. É por isso que a agenda de greves é contundente.”

Os sindicatos reforçaram a rejeição à Lei de Bases e ao pacote fiscal que obteve meia sanção na Câmara dos Deputados. Os sindicatos planejam se reunir com senadores radicais para tentar convencê-los a rejeitar a iniciativa, enquanto a CGT não descarta uma mobilização ao Congresso no dia 23 deste mês, quando os projetos deverão ser votados no Senado.

Na conferência de imprensa liderada por Héctor Daer, os sindicalistas destacaram o “apoio político e social” da greve, ressaltando a queda do poder de compra, o declínio do setor industrial e a escassez de insumos nas cozinhas comunitárias. Em resposta às tentativas do governo de criminalizar a greve através de um decreto, os sindicatos reafirmaram o direito constitucional à greve e ameaçaram com mais medidas contundentes se não houver mudanças nas políticas.

Um episódio que marcou o dia foi quando a ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, protagonizou logo cedo, num gesto que procurava apoiar os ônibus que circulavam em plena greve, subiu numa das linhas que passavam pela estação Constitución. No entanto o cartão que ela usou não tinha créditos para pagar a passagem. Para Daer, o “sucesso” da medida de força foi visto neste fiasco: “Não havia ninguém dentro do ônibus”, insistiu o dirigente cegetista, em referência aos passageiros. O resultado foi uma entrevista coletiva da ministra numa estação de trens vazia, em que ela gaguejava atordoada a expressão “paralisação da fraqueza”. Milei, por sua vez, se reduz a desqualificar a cobertura da imprensa sobre a greve.

Os sindicalistas apontaram para um alto nível de adesão à greve, com Pablo Moyano, líder dos caminhoneiros, destacando que nenhuma forma de transporte circulou. No entanto, a empresa DOTA, que controla uma parte significativa dos ônibus que circulam pela Área Metropolitana de Buenos Aires, não aderiu à greve.

“A greve os prejudicou”, disse Pablo Moyano, secretário adjunto dos Caminhoneiros, e destacou que se o presidente Javier Milei mantiver o corte, a confederação dos trabalhadores manterá o plano de luta.

A conferência da CGT, marcada por um ambiente descontraído e tranquilo, destacou a disposição dos sindicatos para discutir cada questão com o governo, apesar das tensões políticas evidentes. A greve da CGT, embora tenha causado alguma interrupção em atividades comerciais e de transporte, ressaltou a determinação dos trabalhadores em fazer ouvir suas vozes contra políticas que consideram prejudiciais ao país.

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