Em longa entrevista, presidente Díaz-Canel analisa os principais dilemas de Cuba

Díaz-Canel falou abertamente dos desafios econômicos e da participação privada, assim como dos protestos raros ocorridos em meio a apagões e pandemia.

Havana Velha à noite Data 28 de julho de 2009. Autor Gabriel Rodríguez/WikiMedia Commons

Em uma entrevista nesta quarta-feira (15) conduzida pelo professor e jornalista Ignacio Ramonet, Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez, primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e presidente da República, compartilha opiniões inéditas sobre os desafios enfrentados por Cuba, tanto interna quanto externamente, durante os últimos anos. Ramonet dividiu a entrevista em três blocos: política interna, economia e política internacional.

Díaz-Canel reconhece que Cuba enfrenta dificuldades significativas, especialmente nos últimos anos, com muitas famílias enfrentando escassez de alimentos, inflação e deficiências nos serviços públicos. Ele aponta para o bloqueio econômico dos Estados Unidos como uma causa primária dessa situação difícil, destacando que as mais de 240 medidas impostas pela administração Trump intensificaram o bloqueio e cortaram todas as fontes de renda em moeda estrangeira para Cuba.

Essa intensificação do bloqueio resultou em uma série de consequências adversas, incluindo escassez de combustível, dificuldades para adquirir insumos essenciais e aumento da inflação. Díaz-Canel enfatiza que, apesar desses desafios, Cuba permanece comprometida em priorizar o bem-estar de sua população, especialmente durante a pandemia de covid-19.

O presidente cubano também aborda questões críticas relacionadas aos desafios energéticos enfrentados pelo país. Ele reconhece a necessidade de investimentos significativos na infraestrutura elétrica, destacando o compromisso de Cuba com as energias renováveis, especialmente a energia fotovoltaica.

Além disso, Díaz-Canel discute o papel crescente do setor privado na economia cubana, enfatizando que o país está comprometido com um modelo socialista que valoriza a justiça social e a igualdade, mesmo com o crescimento das micro, pequenas e médias empresas.

Na arena internacional, Díaz-Canel destaca a luta contínua de Cuba contra o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e expressa decepção com a administração Biden por manter políticas agressivas em relação a Cuba.

Ele também discute a importância da cooperação internacional, especialmente durante a pandemia de covid-19, e enfatiza o compromisso de Cuba em compartilhar seu conhecimento e tecnologia com outros países.

Finalmente, Díaz-Canel aborda a situação política na América Latina e no Caribe, alertando para os esforços dos Estados Unidos em desestabilizar governos de esquerda e promover uma agenda de direita na região. Ele enfatiza a importância da soberania, autodeterminação e integração regional na construção de um futuro mais justo e igualitário para todos os países da região.

Miguel Díaz-Canel na entrevista com Ignacio Ramonet. ESTUDOS DA REVOLUÇÃO / CUBADEBATE

Confira os principais pontos da longa entrevista, que pode ser lida NA ÍNTEGRA CLICANDO AQUI:

Díaz-Canel começa abordando a situação interna, reconhecendo que nos últimos anos a vida diária para muitas famílias cubanas tem sido particularmente difícil, marcada por escassez de alimentos, inflação e deficiências nos serviços públicos. Ele destaca que o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos há mais de sessenta anos agora assumiu uma nova intensidade, com medidas adicionais que colocaram ainda mais pressão sobre Cuba.

O presidente cubano explica que até o segundo semestre de 2019, Cuba tinha conseguido manter uma certa estabilidade econômica, com receitas provenientes de exportações, turismo e remessas, além de acordos favoráveis de abastecimento de combustível com países amigos. No entanto, as mais de 240 medidas aplicadas pela administração Trump intensificaram o bloqueio, cortando todas as fontes de renda em moeda estrangeira e pressionando financeiramente o país.

Essa intensificação do bloqueio levou a uma série de consequências adversas, incluindo escassez de combustível, dificuldades para adquirir insumos essenciais e aumento da inflação devido à desestabilização do mercado interno. A inclusão de Cuba na lista de países que supostamente apoiam o terrorismo agravou ainda mais a situação, levando ao corte de crédito por parte de instituições financeiras internacionais.

Díaz-Canel enfatiza que, apesar desses desafios, Cuba manteve uma postura resiliente, priorizando o bem-estar da população, especialmente durante a pandemia de covid-19. Ele destaca os esforços significativos do país para enfrentar a crise de saúde, incluindo o uso de medicamentos e produtos biotecnológicos desenvolvidos localmente, bem como o papel crucial dos cientistas cubanos.

No entanto, Díaz-Canel ressalta que os desafios persistem, com a situação sendo complicada ainda mais pela continuidade das políticas hostis dos Estados Unidos, independentemente da mudança de administração. Ele descreveu essa abordagem como sendo carregada de “uma tremenda perversidade”, evidenciando a complexidade da situação enfrentada por Cuba.

Soluções energéticas

Díaz-Canel aborda questões críticas relacionadas aos desafios energéticos enfrentados pelo país e as perspectivas de solução. Ramonet levantou a preocupação dos cidadãos cubanos sobre os frequentes apagões, desafiando o presidente a avaliar a situação energética do país e a oferecer uma visão sobre possíveis soluções. Díaz-Canel reconhece a complexidade da situação, destacando que o sistema elétrico enfrenta instabilidade devido à falta de manutenção, problemas tecnológicos e escassez de combustível.

Ele explica que o sistema de geração termoelétrica, que depende do petróleo bruto nacional, necessita de investimentos significativos para manutenção regular, mas o financiamento tem sido insuficiente. Além disso, os grupos geradores distribuídos, que operam em horários de pico, enfrentam escassez de diesel e óleo combustível.

Diante desses desafios, Díaz-Canel destaca o compromisso de Cuba com as energias renováveis, especialmente a energia fotovoltaica. Ele revela que o país assinou acordos para instalar mais de 2.000 megawatts de capacidade fotovoltaica nos próximos dois anos, visando atingir mais de 20% de energia renovável até 2030.

O cubano enfatiza que a transição para energias renováveis não apenas melhoraria a estabilidade do sistema elétrico, mas também reduziria a dependência de combustíveis importados, permitindo que mais combustível fosse direcionado para a economia, especialmente para a produção alimentar e agrícola.

Além disso, Díaz-Canel menciona medidas adicionais, como investimentos em refinarias para processar petróleo bruto nacional e programas de conservação de energia, incluindo a troca de luminárias por modelos LED mais eficientes.

Ele assegura que o plano para enfrentar os desafios energéticos está bem definido e programado, apesar dos obstáculos enfrentados no momento. O presidente expressa confiança de que Cuba superará os efeitos do bloqueio e alcançará uma situação energética mais sustentável e estável no futuro próximo.

Protestos sociais em Cuba

Díaz-Canel fala abertamente e de forma incisiva sobre os recentes protestos sociais no país e oferece uma análise sobre sua natureza e origem. Ramonet questionou-o sobre os protestos, destacando que, embora não tenham sido massivos, foram surpreendentes devido à raridade desse fenômeno em Cuba. Díaz-Canel contextualiza os protestos dentro do cenário de dificuldades econômicas e privações causadas pelo bloqueio econômico dos Estados Unidos, que tem impactado o povo cubano ao longo de décadas.

Ele enfatiza que os protestos são parte de uma estratégia de guerra não convencional, cujo objetivo é minar a Revolução Cubana através da asfixia econômica e da incitação à eclosão social. Díaz-Canel refere-se ao Memorando de Mallory, uma estratégia do Departamento de Estado dos EUA dos anos 1960, que delineava ações para derrubar a Revolução Cubana.

O presidente destaca que, apesar das dificuldades enfrentadas pelo povo cubano, os protestos não representam uma ruptura com a Revolução. Pelo contrário, muitos dos manifestantes buscavam explicações para as dificuldades enfrentadas e recorreram às instituições do governo e do partido para expressar suas preocupações.

Ele aponta que alguns protestos foram financiados por projetos subversivos dos EUA e envolveram atos de vandalismo contra propriedade pública, mas ressalta que o direito à manifestação é protegido pela Constituição cubana. Díaz-Canel compara a resposta do governo cubano à repressão policial em protestos nos Estados Unidos e em outros países contra a solidariedade aos palestinos, destacando a diferença violenta na abordagem.

Ele critica a narrativa distorcida da mídia internacional sobre os protestos em Cuba e questiona por que outros protestos em todo o mundo não recebem a mesma atenção. Ele reitera o compromisso de Cuba com a autodeterminação, independência e soberania, apesar das tentativas dos EUA de minar a Revolução Cubana.

Fortalecer a economia cubana

O presidente cubano discutiu o estado atual da economia cubana e as medidas que seu governo está implementando para enfrentar os desafios econômicos. Díaz-Canel explicou que a economia cubana está funcionando em condições de complexidade devido ao bloqueio econômico e apresenta uma série de desequilíbrios. Para enfrentar esses desafios, o governo cubano desenvolveu um Programa de Estabilização Macroeconômica, que será implementado até 2030 e inclui políticas para lidar com a inflação, a dolarização parcial e a falta de investimentos diretos estrangeiros significativos.

Uma das principais estratégias é estimular a produção nacional, visando alcançar a soberania econômica e reduzir a dependência de importações. O presidente destaca a importância da agricultura para a soberania alimentar do país e informou sobre uma Política de Soberania Alimentar e uma Lei correspondente, que visam aumentar a produção nacional de alimentos e reduzir a necessidade de importações.

Díaz-Canel compartilha suas observações de visitas recentes a diferentes regiões do país, onde testemunhou tanto boas práticas quanto áreas que ainda precisam de melhorias. Ele enfatiza a importância da ciência, da inovação e do Sistema de Gestão Governamental baseado nesses princípios para enfrentar os desafios econômicos.

Além disso, destaca o compromisso do governo cubano em garantir que as medidas adotadas não afetem negativamente as pessoas em situação de vulnerabilidade, buscando reduzir as desigualdades sociais.

Transformações econômicas profundas

Díaz-Canel fala das mudanças significativas ocorridas na economia cubana nos últimos anos, especialmente no que diz respeito ao surgimento e expansão do setor de micro, pequenas e médias empresas (MPME).

O presidente esclarece que, embora tenha havido um aumento na presença de atividades de mercado, a economia cubana continua sendo predominantemente planificada, com um forte compromisso com a justiça social. Ele destaca que, embora a eficiência econômica seja por vezes criticada, é importante reconhecer as conquistas sociais alcançadas, que são consideradas direitos dentro do país.

Sobre o surgimento das MPMEs, Díaz-Canel enfatiza que este setor não se limita apenas ao privado, pois inclui também empresas estatais. Ele mencionou que o setor privado já existia em Cuba, mas agora se expandiu, especialmente no campo agrícola, com a participação de agricultores privados e cooperativas agrícolas. O presidente observou que o autoemprego evoluiu para além da simples atividade individual, transformando-se em pequenas organizações e empresas, mesmo antes de serem oficialmente reconhecidas como tais.

Quando questionado sobre o papel atual do setor privado na economia cubana, Díaz-Canel destaca que, embora as MPMEs estejam crescendo, o peso da economia ainda está nas mãos do Estado, conforme previsto pelo modelo socialista cubano. Ele ressalta que a contribuição do setor não estatal é reconhecida e que ambos os setores devem colaborar dentro do Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

O presidente expressa a importância de corrigir distorções nas relações entre empresas estatais e não estatais, garantindo que todas contribuam de forma coerente para o desenvolvimento econômico do país. Ele mencionou a atualização de regulamentos para promover essa cooperação e destacou a importância de empresas inovadoras e de alta tecnologia, tanto no setor estatal quanto no privado.

Ao discutir o futuro do setor privado em Cuba, Díaz-Canel expressa confiança de que ele continuará a se expandir e a contribuir para o progresso do país, rejeitando tentativas externas de instrumentalizá-lo contra a Revolução Cubana. Ele ressalta que as MPMEs são parte integrante do tecido empresarial necessário para avançar na construção socialista de Cuba, comprometidas com o plano nacional de desenvolvimento e vigilantes contra qualquer distorção nesse esforço.

Contribuições da Ilha no combate à covid-19

As lições aprendidas e as contribuições significativas da ilha no combate à pandemia de covid-19 também foram apontadas na entrevista. Destacando o sucesso da vacinação em massa da população cubana, Díaz-Canel sublinha a importância do investimento em sistemas de saúde públicos e resilientes.

O presidente enfatiza que a crise global da covid-19 destacou a necessidade urgente de recursos adicionais para fortalecer os sistemas de saúde em todo o mundo, enfatizando a importância de sistemas de saúde públicos acessíveis a todos, não apenas a uma minoria privilegiada. Ele expressou preocupação com a falta de cooperação internacional durante a pandemia, observando que, em vez de solidariedade, o mundo testemunhou um aumento de discursos de ódio, extremismos e divisões.

Díaz-Canel ressalta que Cuba se preparou antecipadamente para enfrentar a pandemia, seguindo uma estratégia nacional concebida pelo General de Exército Raúl Castro. Ele destacou a importância da cooperação internacional, com Cuba enviando brigadas médicas a mais de 46 países, incluindo a Lombardia, na Itália, durante o pico da pandemia.

Além disso, o presidente cubano enfatiza o papel da ciência e inovação no enfrentamento da pandemia. Cuba desenvolveu sua própria rede de laboratórios de pesquisa molecular e biologia molecular, permitindo o processamento rápido e eficiente de amostras. Ele também menciona o papel da epidemiologia e da atenção primária à saúde na abordagem da doença.

Destacando as conquistas científicas de Cuba, Díaz-Canel revela que a ilha desenvolveu cinco vacinas candidatas contra a covid-19, três das quais comprovadamente eficazes. Ele enfatizou o compromisso de Cuba com a cooperação internacional ao compartilhar tecnologia e conhecimento com outros países.

Além de suas contribuições no combate à covid-19, Díaz-Canel anuncia que Cuba está trabalhando em pesquisas para desenvolver uma vacina contra a dengue, que seria eficaz contra várias cepas do vírus.

Avanço rumo à transformação digital e IA

No contexto da rápida evolução tecnológica que revoluciona nossas sociedades, Cuba está dando passos ousados em direção à transformação digital. O presidente Díaz-Canel delineia três prioridades de Gestão Governamental, com destaque para a Transformação Digital da Sociedade. Ele explica que o objetivo não é apenas transferir processos para plataformas digitais, mas também cultivar uma mentalidade digital abrangente entre os cidadãos.

Atualmente, cerca de 7,7 milhões de cubanos estão cadastrados em serviços de telefonia móvel, enquanto aproximadamente 8 milhões têm acesso à internet. Embora reconheça os desafios financeiros associados à expansão das redes móveis, Díaz-Canel enfatiza que Cuba supera a média mundial nesse aspecto.

O presidente destaca a importância da União dos Cientistas da Computação de Cuba e seu papel no fomento do debate e apoio à transformação digital. Ele também mencionou os esforços para fortalecer a cibersegurança em meio à crescente digitalização.

Além disso, Cuba está desenvolvendo suas próprias aplicações e sistemas operacionais de computador, além de explorar a robotização. Um exemplo notável foi a rápida resposta dos jovens cientistas cubanos durante a pandemia covid-19, que resultou na criação de ventiladores pulmonares de alto desempenho.

A inteligência artificial (IA) desempenha um papel central nesse processo de transformação digital. Díaz-Canel destaca a importância de uma abordagem abrangente da IA, não apenas focada em eficiência, mas também em considerações éticas.

Projetos como o Portal do Cidadão Cubano, que permitirá aos cidadãos acessar uma variedade de serviços online, demonstram o compromisso de Cuba com a modernização e a eficiência administrativa. A integração latino-americana nessas iniciativas também é uma prioridade, com Cuba oferecendo cooperação e compartilhamento de conhecimento.

Persistência do bloqueio

Ao tratar de política internacional, Díaz-Canel destaca a crônica batalha de Cuba na Assembleia Geral das Nações Unidas contra o bloqueio ilegal dos EUA. Apesar das repetidas condenações globais, a persistência desse bloqueio evidencia a arrogância do império e seu desprezo pelas vozes do mundo.

O presidente enfatiza que a oferta de diálogo com os Estados Unidos permanece aberta, mas ressalta a necessidade de um tratamento igualitário, sem imposições ou condições. Ele enfatiza que, enquanto Cuba não prejudicou os Estados Unidos, é o governo americano que unilateralmente impôs o bloqueio e, portanto, deve ser responsável por sua remoção.

Díaz-Canel expressa decepção com a administração Biden, que manteve as políticas agressivas de seu antecessor e cedeu às pressões da poderosa máfia cubano-americana. Ele questionou por que o governo dos EUA mantém uma atitude hostil em relação a Cuba, apesar de oportunidades passadas para melhorar as relações.

Quando questionado sobre possíveis mudanças nas próximas eleições nos EUA, o presidente expressou cautela, observando que a incerteza política e econômica interna nos EUA torna difícil prever os resultados. Ele sugeriu que um anúncio como a candidatura de Michelle Obama poderia gerar interpretações diversas, mas enfatizou que Cuba está focada em enfrentar o bloqueio com determinação e resiliência.

Novas alianças econômicas: BRICS

Após uma viagem à Rússia, onde participou de eventos significativos e discutiu possíveis alianças econômicas, o presidente de Cuba compartilhou sua visão sobre o futuro das relações internacionais. Díaz-Canel destaca sua participação na cerimônia comemorativa da Vitória sobre o Nazismo e na posse do presidente Vladimir Putin, bem como sua intervenção na Sessão Plenária do Conselho Econômico Supremo da Eurásia. Ele esclareceu que a presença em eventos como esses não representa uma busca por novas alianças, mas sim um fortalecimento dos laços já existentes.

A Eurásia, uma região onde Cuba é um observador, oferece oportunidades econômicas significativas. Díaz-Canel enfatiza o potencial de cooperação em áreas como biotecnologia, indústria farmacêutica, soberania alimentar e energia renovável. Ele destaca a importância da integração regional para o desenvolvimento sustentável e a complementaridade entre os países membros.

Quanto ao BRICS, Díaz-Canel expressou interesse na possibilidade de Cuba integrar o bloco. Ele elogiou a abordagem inclusiva e equitativa do BRICS, que desafia a hegemonia dos Estados Unidos nas relações internacionais. O presidente cubano enfatizou a vontade dos BRICS de estabelecer relações com países do Sul e promover o comércio em moedas locais.

A próxima cúpula dos BRICS, que ocorrerá em outubro em Kazan, Rússia, pode ser uma oportunidade para Cuba explorar sua possível adesão. Díaz-Canel observou que a criação de uma categoria de membro associado pode abrir espaço para Cuba no bloco, sujeito ao consenso dos países membros.

Soberania na América Latina e Caribe

Questões prementes que afetam a América Latina e o Caribe, destacam o papel de Cuba na promoção da soberania, paz e progresso na região, de acordo com o entrevistado.

Díaz-Canel enfatiza que as crises que assolam a região são reflexos das contradições globais e da persistência do imperialismo norte-americano em manter sua influência através da Doutrina Monroe. Ele critica a visão dos Estados Unidos de considerar a América Latina e o Caribe como seu “quintal”, subjugando os interesses dos países da região aos seus próprios.

O presidente cubano destaca que a região conta com governos que resistem a pressões externas e mantêm processos revolucionários, como Cuba, Venezuela e Nicarágua. Além disso, menciona governos progressistas que buscam estabilidade e cooperação, como os da Bolívia, Brasil, Honduras, Chile e Colômbia.

No entanto, Díaz-Canel alerta para os esforços constantes dos Estados Unidos em desestabilizar governos de esquerda e promover a agenda da direita na região. Ele destacou a importância de defender a soberania, autodeterminação e integração latino-americana, seguindo os ideais de líderes como José Martí e Simón Bolívar.

A contribuição de Cuba para a região é enfatizada pelo presidente, mencionando a solidariedade através do envio de médicos, professores e colaboradores em diversas áreas para países latino-americanos e caribenhos. Ele ressalta a importância do diálogo e respeito mútuo na resolução de desentendimentos e na construção de relações solidárias.

Díaz-Canel expressa preocupação com a situação no Haiti e defende a manutenção da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz. Ele enfatiza a necessidade de integração regional baseada na cooperação e no respeito mútuo, e destaca o potencial histórico e cultural da região para alcançar uma verdadeira emancipação.

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