Desmatamento cai 11,6% em 2023, mas Cerrado ultrapassa Amazônia em degradação

Relatório MapBiomas revela que o Cerrado foi o bioma mais devastado, com 61% da área desmatada, impulsionado pela expansão agropecuária

Devastação do Cerrado | Foto: Climate Policy Initiative

O desmatamento no Brasil apresentou uma queda de 11,6% em 2023, segundo a edição mais recente do Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do MapBiomas, lançada nesta terça-feira (28). No ano passado, a área de vegetação nativa suprimida resultou na validação e refinamento de 83.353 alertas, totalizando 1.829.597 hectares desmatados, distribuídos pelos seis biomas brasileiros. Em 2022, esse total chegou a 2.069.695 hectares. A Amazônia e Cerrado são os dois maiores biomas do Brasil e juntos somam mais de 85% da área total desmatada no país, ou seja, cerca de 8,56 milhões de hectares de vegetação nativa.

Cerrado ultrapassa Amazônia em desmate

Pela primeira vez desde o início da série histórica do MapBiomas Alerta em 2019, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em área desmatada. Em 2023, o Cerrado respondeu por 61% do desmatamento total, com 1,11 milhão de hectares devastados – mais de sete vezes o território da cidade de São Paulo – enquanto a Amazônia representou 25%. Em comparação com 2022, o desmatamento no Cerrado cresceu 68%. O bioma da Amazônia, por outro lado, registrou uma redução de 62,2% na área desmatada, somando 454,3 mil hectares.

A ocupação do Cerrado tem causado a eliminação de coberturas vegetais nativas, modificando a paisagem natural e impactando os ecossistemas. Estudos mostram que a monocultura intensiva nesse bioma resulta na destruição de florestas e da biodiversidade, interferindo no ciclo das águas, qualidade do solo, clima e manutenção da biodiversidade. A curto prazo, monoculturas podem estabilizar a produção vegetal, mas a longo prazo, esgotam os recursos naturais e não sustentam a produtividade.

Pressão da agropecuária

Ainda segundo o RAD, o desmatamento impulsionado pela agropecuária responde por mais de 97% de toda perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos cinco anos. A expansão da agricultura irrigada no Cerrado aumenta a demanda por água, afetando importantes bacias hidrográficas. Além disso, o uso indiscriminado de agroquímicos polui rios e córregos, alterando a qualidade da água e causando a morte de organismos aquáticos. Entre 1985 e 2020, o Cerrado perdeu 1,3% de sua superfície de água.

Um estudo publicado em fevereiro de 2023 na revista científica Sustainability, feito pelo cientista florestal Yuri Salmona com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), mostra que o bioma pode perder 34% de seu volume de água – o equivalente à vazão de oito rios Nilo – até 2050. A causa principal é o uso do solo pela agropecuária.

Matopiba no foco

Os quatro estados que formam a região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foram responsáveis por quase metade (47%) de toda a perda de vegetação nativa no país em 2023. Foram 858.952 hectares desmatados, um aumento de 59% em relação a 2022. Três em cada quatro hectares desmatados no Cerrado em 2023 (74%) foram no Matopiba.

O estado que mais desmatou em 2023 foi o Maranhão, com 331,2 mil hectares suprimidos, um aumento de 95,1%. Em seguida, Bahia (290,6 mil hectares) e Tocantins (230,2 mil hectares) também tiveram grande destruição de Cerrado. Esses estados fazem parte da região considerada o novo vetor de desmatamento no país. Com 73 milhões de hectares, o Cerrado é uma região de extrema importância para a agricultura brasileira sendo responsável por aproximadamente 10% da produção de grãos e fibras no país, destacando-se a soja, milho e algodão.

Monocultivos de pastagens e o uso inadequado do solo, como o uso indiscriminado do fogo e de práticas de calagem, degradam o solo e diminuem sua fertilidade. A emissão de gases de efeito estufa (GEE) aumenta com a derrubada e queima da vegetação nativa, contribuindo significativamente para o aquecimento global.

O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, destacou que a “cara do desmatamento está mudando no Brasil, se concentrando nos biomas onde predominam formações savânicas e campestres e reduzindo nas formações florestais”. A área de reserva legal no cerrado é de, no mínimo, 20%, conforme o Código Florestal, mas a necessidade de ações de comando e controle permanece evidente para combater a ilegalidade no desmatamento.

A biodiversidade é afetada pela substituição da vegetação nativa por monoculturas e pelo uso de agrotóxicos, que causam desequilíbrios ecológicos. A invasão de espécies exóticas, como gramíneas africanas (capins africanos), compete com espécies nativas, levando à sua extinção.

Além disso, o desmatamento em áreas indígenas no Cerrado aumentou 188% em 2023, e houve um aumento de 665% em território quilombola. A Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Preto foi a mais desmatada, com 13.596 hectares de mata nativa suprimida.

O relatório do MapBiomas reforça a necessidade urgente de políticas públicas eficazes e sustentáveis para proteger a vegetação nativa e controlar o avanço do desmatamento, especialmente no Cerrado, que tem se tornado o foco principal dessa degradação ambiental.

__
com agências e MapBiomas

Autor