Índia escolhe oposição para conter terceiro mandato de Modi

Perdas significativas da coalisão governista foram um recado claro da sociedade dividida pelo ódio. Modi depende de terceiros para manter o poder.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, exibe uma carta do presidente da Índia, Draupadi Murmu, convidando-o para formar o próximo governo central, fora do Rashtrapati Bhavan em Nova Delhi, Índia, sexta-feira, 7 de junho de 2024

Narendra Modi será empossado neste domingo (9) como primeiro-ministro da Índia para um terceiro mandato histórico, numa cerimônia marcada pela presença de líderes de países vizinhos, incluindo Bangladesh, Sri Lanka, Butão, Nepal e Maldivas. No entanto, a vitória do Partido Bharatiya Janata (PBJ) nas maiores eleições gerais do mundo, com 640 milhões de votos, não foi tão expressiva quanto se esperava, resultando em uma dependência significativa de aliados para manter a maioria no parlamento.

A vitória menos expressiva do PBJ é vista por muitos como um sinal de correção de rumo. As pessoas parecem ter escolhido uma oposição, não um governo, ao votar desta vez. O que se fala pelas ruas e gabinetes é que a Índia realmente precisava disso. Apesar do sucesso econômico do governo Modi, seu crescente autoritarismo, especialmente contra os muçulmanos. Os ativistas muçulmanos comemoraram o resultado, expressando a esperança de que as perdas do mandato do PBJ sirvam como um limite a sua arrogância.

Comparado aos 303 assentos de 2019, o BJP conquistou 240 assentos, abaixo da maioria necessária de 272 no Lok Sabha, a câmara baixa do Parlamento indiano, que possui 543 assentos. Com o apoio de seus aliados na Aliança Democrática Nacional (ADN), o PBJ alcançou 293 assentos. A aliança de oposição ÍNDIA, liderada pelo Congresso Nacional Indiano de Rahul Gandhi, conquistou 232 assentos, com o Congresso sozinho obtendo 99, um aumento significativo em comparação com 2019.

Formação do novo governo

Cerca de 30 futuros ministros também prestarão juramento, incluindo deputados do Partido Telugu Desam (PTD), o maior aliado do PBJ, e do Janata Dal (United), que já fizeram duras exigências ao BJP, como cargos de destaque no gabinete e um programa de governança comum. São dois partidos que dizem ter uma forte base de apoio muçulmana, embora não haja representação dessas populações no no Lok Sabha. Relatos indicam que os ministérios mais poderosos – Interior, Relações Exteriores, Finanças e Defesa – permanecerão sob controle do PBJ.

Lalan Singh, deputado do Janata Dal, comentou sobre a configuração do gabinete: “Narendra Modi e o ministro-chefe de Bihar, Nitish Kumar, expressaram sua confiança em mim e tentarei corresponder às suas expectativas. Não exigimos nenhum ministério, é direito do primeiro-ministro escolher [ministros].”

O BJP insiste que o terceiro mandato será tranquilo. “Esses são medos infundados e equivocados”, disse Zafar Islam, porta-voz nacional do PBJ. “Todos na NDA confiam na liderança do primeiro-ministro Modi.”

Desafios pela frente

Apesar das conquistas na política externa, Modi enfrenta desafios significativos, especialmente com a China, após o confronto fronteiriço de 2020. As relações com o Canadá também se deterioraram após acusações de envolvimento indiano em um complô para assassinar um separatista sikh.

O desemprego foi uma questão central durante a campanha eleitoral. A taxa de desemprego na Índia subiu para 8,1% em abril, refletindo o descontentamento com a falta de empregos e a inflação. O Congresso acusou o governo do PBJ de não fazer o suficiente para criar oportunidades de trabalho.

Analistas sugerem que a dependência de aliados pode servir como um controle sobre Modi, impedindo-o de governar unilateralmente como em mandatos anteriores. No entanto, eles apontam que seria ingenuidade pensar que a eleição resolveu a crise de ódio na sociedade indiana.

Modi, que se tornará apenas o segundo líder indiano a retornar ao poder após uma terceira eleição consecutiva, enfrenta um futuro incerto. A colaboração com aliados será essencial para a estabilidade de seu governo e para enfrentar os desafios internos e externos que a Índia encara.

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