Para 69%, juros altos contribuem muito para o aumento do custo de vida

Pesquisa feita com 32 países coloca o brasileiro entre os mais preocupados. Enquanto isso, queda da Selic segue vagarosa e atual patamar pode ser mantido até o final do ano

Foto: reprodução/Canva

Num país cujos juros estão entre os maiores do mundo, os movimentos da Selic deixaram de ser assunto apenas de economistas para constar entre as preocupações dos brasileiros. Pesquisa do instituto Ipsos mostra que 69% dos entrevistados acreditam que os juros contribuem muito para o aumento do custo de vida. 

O percentual indica um alto patamar de compreensão sobre o peso da Selic no bolso e converge com a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e segmentos sociais e da economia têm feito para que haja uma redução mais acentuada e célere da Selic. 

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Marcos Calliari, CEO do Ipsos Brasil, lembra, no entanto, que a avaliação já foi pior. “O número brasileiro vem caindo a cada nova medição do estudo. Em novembro de 2022, chegou a atingir 83% – mês em que o país era o segundo mais preocupado com o tema entre todas as nações pesquisadas”, explica. 

Essa mudança de percepção parece ter acompanhado, em certa medida, os movimentos da Selic no período. O Copom elevou a taxa por 12 vezes consecutivas de março de 2021 a agosto de 2022. Depois, entre agosto de 22 e de 23, o índice foi mantido por sete reuniões seguidas, quando, finalmente teve início a trajetória de queda, também por sete vezes, chegando ao patamar atual. 

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Nesta terça-feira (18) começa a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a nova taxa de juros. O encontro termina nesta quarta (19) com o anúncio da decisão, mas a tendência é de que ela seja mantida em 10,5% ao ano.

Apesar do patamar alto de preocupação com os juros, o brasileiro está atrás de cidadãos de países como Coreia do Sul (81%), África do Sul (80%) e Turquia (78%), que figuram no topo da lista. 

A pesquisa “Monitor do Custo de Vida”, da Ipsos, engloba 32 países e quase 25 mil entrevistados e é feita semestralmente.

Pressão por maior queda

Desde que chegou à presidência pela terceira vez, Lula e setores políticos e econômicos pressionam o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para rever a política de juros altos que limita o crescimento do país e prejudica a população. 

Em sua mais recente crítica, feita durante entrevista à rádio CBN nesta terça (18), o presidente destacou: “Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”. 

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Disse, ainda, que “nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país”. 

Considerando o patamar da Selic de 10,75% em março, o Brasil figura na segunda posição entre os países com maior juros reais (descontada a inflação), com 5,9%, ficando atrás apenas do México (7,46%), segundo análise da consultoria MoneYou, que usa como base dados do FMI e do BC.  

No ranking dos juros nominais, aparece na sexta posição, abaixo da Argentina (80%); Turquia (45%); Rússia (16%); Colômbia (12,75%) e  México (11,25%).