Juros altos aumentam inadimplência e sufocam famílias de baixa renda

Estudo da CNC revela que metade das famílias endividadas têm contas atrasadas há mais de 90 dias; baixa renda é a mais afetada pelo crédito caro e restritivo

Imagem: Freepik

A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que as famílias brasileiras estão com dificuldades para pagar suas dívidas devido às altas taxas de juros.

Segundo o estudo, no último mês, 29,3% dos consumidores tinham contas em atraso por mais de 30 dias, enquanto, em setembro, esse índice era de 29,0%. Além disso, metade das famílias endividadas (50,4%) já estava com as contas atrasadas há mais de 90 dias, o maior nível desde fevereiro de 2018, evidenciando o prolongamento das dificuldades financeiras. Isso acontece “porque o aumento das taxas de juros leva a um encarecimento das dívidas”, diz a pesquisa.

Com os juros altos, muitas famílias precisam de prazos mais longos para quitar seus débitos, mas isso ainda não tem sido suficiente para reduzir a inadimplência. “O percentual de comprometimento da renda mais exige ajuda a explicar o aumento do percentual de famílias que não têm condições de pagar as contas atrasadas, mostrando que os prazos mais longos das dívidas e o menor endividamento não estão sendo suficientes para compensar a alta do nível de juros.”

Famílias de baixa renda são as mais afetadas

O impacto é ainda maior para famílias que ganham até três mínimos. Em outubro, a inadimplência para este grupo chegou a 37,7% “refletindo o impacto dos juros elevados e das condições de crédito mais restritivas sobre o orçamento dos mais vulneráveis”. Isso significa que mais de um terço dessas famílias não conseguiram pagar as contas no prazo, prejudicando ainda mais o orçamento doméstico.

O estudo ainda mostra que, mesmo com as famílias tentando usar menos crédito muitas ainda precisam dele para fechar as contas do mês. Porém, com os juros elevados, essa dependência se torna um problema, pois o valor das dívidas cresce e fica cada vez mais difícil de pagar.

Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, a situação é preocupante. Ele acredita que a solução passa pela redução dos gastos públicos, o que poderia abrir caminho para uma queda nos juros. “Acreditamos que, com medidas externas para a redução de gastos públicos, é possível abrir espaço para uma possível queda dos juros, o que traria um problema significativo para os consumidores e para a economia como um todo”, disse.

Esses dados são coletados mensalmente pela CNC desde 2010 em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal, ouvindo cerca de 18 mil pessoas.

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