Coalizão de Scholz desmorona e oposição pressiona por eleições na Alemanha

Líder nas pesquisas, opositor pede para primeiro-ministro antecipar voto de confiança; após esse voto de confiança, cabe ao presidente do país convocar novas eleições

O chanceler alemão Olaf Scholz (C) chega ao lado do ministro da Economia e Proteção Climática, Robert Habeck (E), e do assessor do chanceler, Joerg Kukies, para uma reunião do gabinete alemão Foto: Reprodução

O primeiro-ministro da Alemanha, o social-democrata Olaf Scholz, está sendo pressionado pela oposição a convocar novas eleições, após a sua coalizão desmoronar com a saída do ministro das Finanças Christian Lindner, do partido liberal, nesta quarta (6). Scholz nomeou seu assessor Jörg Kukies, de 56 anos, como novo chefe da pasta no momento de maior instabilidade política do país nos últimos anos.

A demissão de Lindner acionou uma série de pedidos de demissão dos correligionários liberais do Executivo alemão, com a exceção do ministro dos Transportes, Volker Wissing. 

A coalizão de Scholz venceu as eleições em 2021 com 25,7% dos votos no pleito para o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla em alemão), somando forças com  o Partido Verde (Die Grünen), que obteve 14,8% dos votos, e o Partido Democrático Liberal (FDP, na sigla em alemão), que ficou com 11,5%. 

Sem os liberais, no entanto, o gabinete de Scholz não possui mais maioria no Parlamento e não tem mais condições para chefiar o governo.  

Em demonstração de força, Scholz fez duras críticas a Lindner nesta quinta (7), o principal expoente político da FDP. Enquanto os social-democratas e verdes defendem a recuperação da economia por meio de investimento público, os liberais querem cortes e uma disciplina orçamentária severa.

Scholz afirmou que se submeteria a um voto de confiança do Parlamento em janeiro, quando o primeiro-ministro pede pela continuidade do governo.

Em tentativa de costura política, o social-democrata se encontrou com o líder da oposição, Friedrich Merz, da CDU. Após a agenda, no entanto, Merz afirmou ser contrário ao cronograma apresentado por Scholz e disse que o voto de confiança deveria ser submetido ao Parlamento em no máximo duas semanas. “Não há motivos para adiarmos isso. O governo acabou”, declarou o conservador.

Merz e a CDU aparecem à frente nas pesquisas de intenção de voto, o que confere à sua exigência um certo aspecto eleitoreiro. A legislação alemã, porém, deixa o rito nas mãos do chanceler, justamente para desestimular investidas oportunistas de tomada de poder, uma herança dos tempos de guerra. Seria necessário que a oposição agregasse uma maioria em favor de um candidato a primeiro-ministro, algo que parece improvável no Parlamento atual.

Por sua vez, Scholz alega que o país precisa primeiro debater e aprovar projetos importantes, como o Orçamento de 2025, medidas de fortalecimento para a economia, que patina há dois anos e agora terá as prometidas tarifas de Trump pela frente, assim como o pacote de suporte à Ucrânia.

Agora ou em janeiro, após o voto de confiança, cabe ao presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, convocar as novas eleições, medida protocolar, mas que ele toma a partir de sua percepção de governabilidade do país. “O fim de uma coligação não é o fim do mundo”, disse o mandatário, em apoio a Scholz. “É hora de razão e responsabilidade.”

Os partidos que compunham a coalizão de Scholz têm desempenhado abaixo nas pesquisas de intenção de votos. Sociais-democratas, liberais e verdes estão atrás da AfD, a ascendente sigla de extrema direita da Alemanha.

Crise política ameaça Europa a sombra de Trump

A instabilidade política na Alemanha não representa um perigo apenas para os cidadãos daquele país. Para os defensores da União Europeia, o momento de crise é uma péssima coincidência com o momento geopolítico que o mundo atravessa, logo após a eleição do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos.

Maior economia da Europa e fiadora do bloco europeu, a Alemanha está estagnada há dois anos com problemas de infraestrutura defasada em meio a uma guerra tarifária já declarada com a China e uma nova frente com a administração protecionista de Trump, que deve sobretaxar produtos europeus, principalmente o setor automotivo – produto de exportação por excelência da Alemanha.

Com o prenúncio da crise política e econômica da maior economia do bloco, grupos anti-União Europeia, ligados a partidos políticos nacionalistas e de extrema direita, podem ganhar terreno político nos próximos pleitos europeus.

Grupos pró-União Europeia temem que uma instabilidade política na Alemanha tenha impactos nos interesses do bloco em um contexto de crescente animosidade com a Rússia e descredibilidade da OTAN, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Por diversas vezes a aliança ocidental foi criticada por Trump devido ao baixo investimento dos países do bloco europeu em Defesa. A OTAN exige que os países membros invistam no mínimo 2% do PIB (Produto Interno Bruto) no setor. O americano alega que os europeus deveriam investir mais, acusando o velho mundo de usar os americanos como espécie de cão de guarda.

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