Folha abre espaço para Bolsonaro e é detonada nas redes

Jornal publicou artigo assinado pelo ex-presidente em que ele pede, de maneira torta, aceitação de uma democracia que só atende aos seus interesses

Imagem: Transmissão g1

No domingo (10), às 20 horas, a Folha de São Paulo cometeu uma atrocidade contra a população brasileira. Foi na calada da noite, quase no fim do final de semana, que o jornal deu espaço ao ex-presidente Jair Bolsonaro para publicar, ou melhor, assinar, um artigo com o título “Aceitem a democracia”. A repercussão tem sido grande por dois motivos: o primeiro é a Folha se prestar a tal atitude, o segundo é o conteúdo divulgado.

As maiores críticas enxergam como tentativa de normalizar o fascismo por parte do jornal. Também é vista uma afronta ao povo brasileiro, sendo que o texto “Aceitem a democracia” já no título retoma o que Bolsonaro negou nos seus anos à frente da presidência.

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Ao longo dele, além de utilizar da velha receita de Trump de acusar seus inimigos daquilo que você mesmo faz, a ideia fundamental de exaltação do conservadorismo já parte de um erro, pois omite o fato de que ele mesmo foi derrotado nas urnas pela maioria da população em 2022. Ou Bolsonaro ainda acha que houve fraude nas urnas e a Folha está dando espaço para esta fake news?

Assim, atribuir às eleições municipais uma constatação dos desígnios da nação é pueril, tanto que se fosse levar ao pé-da-letra, os principais cabos eleitorais da extrema-direita, sendo Bolsonaro, até então, o principal, não apresentaram grandes feitos.

Ao abrir este espaço, a classe jornalística também é afrontada pelo jornalão, ou os colegas não se lembram do tratamento dispendido por Bolsonaro? O cercadinho em que os jornalistas ficaram confinados ainda permanece na cabeça dos editores da Folha.

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O ex-presidente, inelegível até 2030, veja só, por tramar contra a Democracia, nem mesmo fez uma cortesia à classe ao conquistar, injustamente, espaço no maior jornal do país. Como se não conseguisse esconder os dentes, disse que os valores que defende continuam “sob ataque do grosso dos veículos de comunicação e de seus jornalistas”.

Desse modo, as perguntas que ficam são: a Folha não faz mais parte do “grosso” que ataca o fascismo propalado por ele? E por que o jornal, que foi insistentemente alvo de Bolsonaro, está cedendo a própria casa para ser ataca, ainda que indiretamente, de novo?

Abaixo, lembre de uma das muitas passagens de ataques à imprensa proferidos por Bolsonaro. No caso, um corte da TV Migalhas em que o então presidente xinga a Folha, chama o jornal de canalha, patife e mentiroso por conta de uma reportagem, e ainda manda jornalistas no cercadinho calarem a boca.

Confira a seguir parte da repercussão do artigo publicado.

Repercussão

Nas redes a Folha foi duramente criticada. O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) indicou que Bolsonaro não tem moral nenhuma para falar em democracia, após a tentativa de golpe de Estado, assim como a Folha presta um desserviço com o espaço a ele dedicado.

A deputada e presidenta nacional do PT, Gleise Hoffman, falou que é “repugnante essa tentativa de normalizar um extremista” e que ver Jair Bolsonaro defendendo a democracia “é parecido com ler artigo de um assassino defendendo o direito à vida.”

O jornalista Luis Nassif classificou tal situação como “escárnio, deboche, repugnante, desonesto” e que a Folha “assina atestado de óbito” publicando artigo de Bolsonaro”.

Em coluna no UOL, o jornalista Reinaldo Azevedo, também manifestou insatisfação. O título de seu texto sobre o caso é “Bolsonaro está para democracia como Marcola para liberdade. E Hitler em 33”. Ele ainda lembrou de vídeos em que, abertamente, Bolsonaro discursa em atos que pedem intervenção militar.

A coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Renata Mielli, também criticou o espaço dado pela Folha a Bolsonaro. Para ela o jornal “flerta com a extrema direita ao naturalizar o fascismo” sob a justificativa de “garantir a pluralidade de ideias”.

Além disso, diz que o Jornal erra e induz a sociedade ao erro ao considerar que é democrático dar espaço para Bolsonaro fazer proselitismo contra a democracia usando a própria democracia para isso.

“Ser conivente com um presidente – que só aceita o resultado das urnas quando sua “trupe” sai vitoriosa, que incitou e promoveu uma tentativa de golpe à luz do dia em 2023, que usou seu mandato para minar as bases da própria democracia, usando sua caneta presidencial para fechar os conselhos de participação social, usando sua voz para atacar e promover violência contra jornalistas e veículos de comunicação – entre eles a própria Folha e muitos de seus jornalistas -, que tentou calar os movimentos sociais -, é ser conivente com o discurso extremista dessa direita fascista que emerge mundialmente” coloca Mielli, que diz não se surpreender com o espaço, pois o jornal veste uma roupa progressista para esconder o que de fato é: “um jornal de colaborou com a ditadura militar e que tem as mãos sujas com o que há de pior no país.”