Milhares em Valência protestam pela saída de Mazón após enchentes

Conservador procurou responsabilizar o governo de Pedro Sánchez, mas terminou o sábado (9) sendo alvo de manifestações violentas. Mortos nas cheias chegam a 220 pessoas

Foto: Reprodução

Dezenas de milhares de manifestantes se reuniram, no último sábado (9), na cidade de Valência, para protestar contra a atuação do governo regional nas inundações que mataram mais de 220 pessoas e para pedir a demissão do presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón. A manifestação, com o mote “Mazón demissão”, foi convocada por 40 organizações sociais e sindicatos.

“Estamos manchados de lama, mas vocês estão manchados de sangue”, “Mazón, renuncie” e “Mazón na prisão” foram algumas das frases escritas pelos manifestantes em cartazes e faixas. Apesar da manifestação ter registrado críticas ao governo central, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, a raiva se concentrou contra o executivo de Valência, liderado conservador do Partido Popular (PP).

De acordo com a agência Lusa, o protesto teve incidentes violentos em frente à Câmara Municipal da cidade, onde um grupo de jovens atirou lama. A polícia reagiu através da tropa de choque. Posteriormente, no final da manifestação e nas proximidades da Plaza de la Virgen, lama, cadeiras e outros objetos foram novamente atirados contra os agentes policiais, que reprimiram os manifestantes.

A mídia local – citando informações do governo – informou que cerca de 130 mil pessoas participaram do protesto. De acordo com a agência Lusa, três manifestantes foram presos e 30 policiais ficaram feridos durante os tumultos.

Críticos do governo consideram que a resposta das autoridades à pior catástrofe natural que a região viu em décadas foi lenta demais.

As cheias, que começaram no final de outubro, fizeram com que chovesse o esperado para um ano na região em menos de 8 horas. A chuva desceu pelos rios e afluentes em direção ao mar Mediterrâneo, arrastando carros e destruindo pontes ao longo do caminho.

“O governo regional não avisou a tempo sobre as inundações, não respondeu a tempo”, disse um manifestante à agência Reuters. “Portanto, queremos que eles renunciem e deixem que o novo governo assuma a responsabilidade de limpar a bagunça que eles deixaram.”

Outro manifestante disse: “A única coisa que quero dizer é que este abandono e negligência institucional devem ser responsabilizados”.

Mazón alegou que não foi avisado com antecedência suficiente sobre a gravidade da chuva pelas autoridades centrais, enquanto o governo espanhol afirma que tentou ligar para Mazón pelo menos quatro vezes antes de conseguir entrar em contato com ele. 

O presidente regional, que, segundo alguns relatos da mídia espanhola, estava num restaurante durante as enchentes, negou ter perdido qualquer ligação antes que as inundações se tornassem catastróficas.

O governo espanhol e as agências locais continuam a procurar mais de 70 pessoas que continuam desaparecidas. Mais de 8.400 soldados participam nos esforços, segundo o governo espanhol, juntamente com mergulhadores que procuram perto da costa de Valência.

A agência meteorológica espanhola, Aemet, emitiu um alerta vermelho para o mau-tempo às 7h30 da manhã de terça-feira, perante a iminência de uma catástrofe. Alguns municípios estavam inundados às 18:00 enquanto a administração de Mazón esperou até às 20:00 para enviar alertas para os telemóveis dos cidadãos.

Milhares de pessoas perderam as suas casas e as ruas continuam cobertas de lama e detritos, 11 dias após um dilúvio sem precedentes que bateu vários recordes de precipitação, segundo os especialistas.

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