Brasil firma acordo com concorrente chinesa de Elon Musk em internet via satélite
O acordo Brasil-China pode colocar domínio da Starlink de Elon Musk em xeque, ao atrair ambicioso investimento da chinesa SpaceSail em inclusão digital
Publicado 20/11/2024 15:37
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta quarta-feira (20) um memorando de entendimento com a SpaceSail, empresa chinesa de satélites e concorrente direta da Starlink, de Elon Musk. A parceria, que envolve a estatal brasileira Telebras, busca ampliar a conectividade em áreas isoladas do país, promover a inclusão digital e fortalecer a soberania tecnológica brasileira.
O acordo foi assinado durante a visita de Estado do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, reforçando os laços estratégicos entre as duas nações. O evento contou com a presença de delegações dos dois países e mais de 40 acordos bilaterais, em áreas como tecnologia, telecomunicações e infraestrutura.
Um passo estratégico para reduzir a dependência da Starlink
O memorando destaca o interesse da SpaceSail em desenvolver no Brasil um sistema de satélites de órbita terrestre baixa (LEO, na sigla em inglês), com previsão de início de operações em 2026. A companhia se comprometeu a trabalhar com a Telebras em projetos que reduzam a desigualdade digital, especialmente em áreas rurais e regiões remotas da Amazônia.
A iniciativa também busca enfrentar a dependência do mercado brasileiro em relação à Starlink, que atualmente domina 45,9% do segmento de internet via satélite no país. A empresa de Elon Musk foi alvo de críticas do governo Lula devido a sua proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua atuação irregular, incluindo a presença de seus equipamentos em garimpos ilegais na floresta amazônica.
Lula chegou a criticar Musk publicamente, afirmando que o bilionário “precisa respeitar as leis brasileiras”. O governo vê na diversificação de fornecedores uma forma de proteger a soberania nacional e evitar vulnerabilidades estratégicas em um setor tão crucial como o de telecomunicações.
Plano ambicioso de expansão da SpaceSail
A SpaceSail, sediada em Xangai, opera atualmente com 18 satélites, mas pretende expandir sua constelação para até 15 mil unidades até 2030, superando a capacidade atual da Starlink, estimada em 6 mil satélites. O modelo LEO garante internet de alta velocidade e baixa latência, ideal para regiões remotas onde a infraestrutura tradicional é inexistente.
Além disso, a empresa chinesa está avaliando a abertura de uma subsidiária no Brasil, sinalizando a intenção de estabelecer operações comerciais no país. Essa iniciativa pode incluir investimentos em infraestrutura terrestre necessária para integrar seus serviços ao mercado brasileiro.
Contexto geopolítico e tecnológico
A assinatura do memorando ocorre em um momento de tensões entre Musk e autoridades brasileiras. Em agosto deste ano, a plataforma X (antigo Twitter), de propriedade de Musk, foi suspensa no Brasil após descumprir ordens judiciais relacionadas a investigações sobre milícias digitais.
Para especialistas, a crise com Musk acelerou os esforços do governo brasileiro para diversificar o mercado de internet via satélite, buscando alternativas que garantam maior independência tecnológica e menor risco geopolítico.
Do lado chinês, a SpaceSail reflete uma prioridade do governo de Xi Jinping em expandir sua presença em mercados estratégicos como telecomunicações e internet via satélite. A iniciativa faz parte de um plano mais amplo da China para desenvolver infraestrutura digital de ponta e projetar sua influência tecnológica globalmente.
Avanços e desafios futuros
Embora o memorando de entendimento represente um passo importante, ainda há desafios para a implementação. A SpaceSail precisa obter autorizações da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para operar no Brasil, além de construir a infraestrutura necessária para viabilizar seus serviços.
Caso bem-sucedida, a parceria com a SpaceSail poderá transformar a conectividade no Brasil, levando internet de qualidade a milhões de pessoas em áreas rurais e isoladas. Além disso, o movimento reforça o compromisso do governo Lula em diversificar fornecedores estratégicos e promover a inclusão digital como parte de sua agenda de desenvolvimento sustentável.
Com previsão de início das operações em 2026, a SpaceSail promete ser uma concorrente de peso para a Starlink, marcando o início de uma nova era na conectividade via satélite no Brasil.