Brasil firma acordo com concorrente chinesa de Elon Musk em internet via satélite

O acordo Brasil-China pode colocar domínio da Starlink de Elon Musk em xeque, ao atrair ambicioso investimento da chinesa SpaceSail em inclusão digital

As antenas ou roteadores da Starlink, empresa de Elon Musk, foram encontrados em cerca de 20 locais de mineração ilegal, favorecendo expansão internacional do contrabando de ouro Foto: Reprodução/Ibama

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta quarta-feira (20) um memorando de entendimento com a SpaceSail, empresa chinesa de satélites e concorrente direta da Starlink, de Elon Musk. A parceria, que envolve a estatal brasileira Telebras, busca ampliar a conectividade em áreas isoladas do país, promover a inclusão digital e fortalecer a soberania tecnológica brasileira.

O acordo foi assinado durante a visita de Estado do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, reforçando os laços estratégicos entre as duas nações. O evento contou com a presença de delegações dos dois países e mais de 40 acordos bilaterais, em áreas como tecnologia, telecomunicações e infraestrutura.

Um passo estratégico para reduzir a dependência da Starlink

O memorando destaca o interesse da SpaceSail em desenvolver no Brasil um sistema de satélites de órbita terrestre baixa (LEO, na sigla em inglês), com previsão de início de operações em 2026. A companhia se comprometeu a trabalhar com a Telebras em projetos que reduzam a desigualdade digital, especialmente em áreas rurais e regiões remotas da Amazônia.

A iniciativa também busca enfrentar a dependência do mercado brasileiro em relação à Starlink, que atualmente domina 45,9% do segmento de internet via satélite no país. A empresa de Elon Musk foi alvo de críticas do governo Lula devido a sua proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua atuação irregular, incluindo a presença de seus equipamentos em garimpos ilegais na floresta amazônica.

Lula chegou a criticar Musk publicamente, afirmando que o bilionário “precisa respeitar as leis brasileiras”. O governo vê na diversificação de fornecedores uma forma de proteger a soberania nacional e evitar vulnerabilidades estratégicas em um setor tão crucial como o de telecomunicações.

Plano ambicioso de expansão da SpaceSail

A SpaceSail, sediada em Xangai, opera atualmente com 18 satélites, mas pretende expandir sua constelação para até 15 mil unidades até 2030, superando a capacidade atual da Starlink, estimada em 6 mil satélites. O modelo LEO garante internet de alta velocidade e baixa latência, ideal para regiões remotas onde a infraestrutura tradicional é inexistente.

Além disso, a empresa chinesa está avaliando a abertura de uma subsidiária no Brasil, sinalizando a intenção de estabelecer operações comerciais no país. Essa iniciativa pode incluir investimentos em infraestrutura terrestre necessária para integrar seus serviços ao mercado brasileiro.

Contexto geopolítico e tecnológico

A assinatura do memorando ocorre em um momento de tensões entre Musk e autoridades brasileiras. Em agosto deste ano, a plataforma X (antigo Twitter), de propriedade de Musk, foi suspensa no Brasil após descumprir ordens judiciais relacionadas a investigações sobre milícias digitais.

Para especialistas, a crise com Musk acelerou os esforços do governo brasileiro para diversificar o mercado de internet via satélite, buscando alternativas que garantam maior independência tecnológica e menor risco geopolítico.

Do lado chinês, a SpaceSail reflete uma prioridade do governo de Xi Jinping em expandir sua presença em mercados estratégicos como telecomunicações e internet via satélite. A iniciativa faz parte de um plano mais amplo da China para desenvolver infraestrutura digital de ponta e projetar sua influência tecnológica globalmente.

Avanços e desafios futuros

Embora o memorando de entendimento represente um passo importante, ainda há desafios para a implementação. A SpaceSail precisa obter autorizações da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para operar no Brasil, além de construir a infraestrutura necessária para viabilizar seus serviços.

Caso bem-sucedida, a parceria com a SpaceSail poderá transformar a conectividade no Brasil, levando internet de qualidade a milhões de pessoas em áreas rurais e isoladas. Além disso, o movimento reforça o compromisso do governo Lula em diversificar fornecedores estratégicos e promover a inclusão digital como parte de sua agenda de desenvolvimento sustentável.

Com previsão de início das operações em 2026, a SpaceSail promete ser uma concorrente de peso para a Starlink, marcando o início de uma nova era na conectividade via satélite no Brasil.

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