Israel ataca alvos civis no Irã e conflito se intensifica no quarto dia de confronto
Ataques atingem hospital e sede da TV estatal iraniana; Irã emite alertas para canais de notícias israelenses; civis fogem da capital e Netanyahu sugere ofensiva contra o aiatolá Khamenei
Publicado 16/06/2025 17:34 | Editado 16/06/2025 19:27

No quarto dia consecutivo de confrontos entre Irã e Israel, as forças israelenses lançaram ataques aéreos em alvos civis no território iraniano, incluindo um hospital em Isfahan e a sede da emissora estatal IRIB (Islamic Republic of Iran Broadcasting). Segundo relatos de testemunhas e imagens verificadas por agências internacionais, os bombardeamentos causaram vários feridos e danos significativos à infraestrutura crítica.
Imagens impactantes circularam nas redes sociais mostrando a sede da emissora em chamas sob uma espessa coluna de fumaça negra. O ataque aéreo israelense ocorreu enquanto uma âncora, identificada como Sahar Emami, apresentava um noticiário ao vivo — o momento da explosão foi transmitido para todo o país, acompanhado por sons de estilhaços e gritos.
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O ministro da Saúde do Irã, Bahram Eynollahi, confirmou que o hospital foi atingido durante a noite de domingo (15), deixando ao menos 12 mortos e 40 feridos, incluindo pacientes em unidades de terapia intensiva. “Esses ataques são uma violação flagrante do direito internacional humanitário”, denunciou em declaração pública.
Outra infraestrutura civil atingida foi o hospital Farabi, na cidade iraniana de Kermanshah. A imprensa oficial iraniana relatou danos à ala de cuidados críticos, o que contradiz a afirmação israelense de que civis não estariam sendo atingidos.
Irã responde com alertas de evacuação e retaliações
Em resposta, o Irã emitiu alertas de evacuação para sedes de canais de notícias israelenses, como Kan e Channel 12, acusando-as de “participar de propaganda de guerra” e prometendo retaliar contra alvos estratégicos. A Guarda Revolucionária iraniana também ativou células operacionais no Líbano e no Iraque, preparando-se para lançar novos mísseis contra bases israelenses na Galileia e no Negev.
“Qualquer ataque a civis será respondido com força proporcional. O mundo verá que não toleramos agressões”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa iraniano, Ahmad Mirmira.
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Desde o início das hostilidades, na sexta-feira, os bombardeios israelenses já deixaram ao menos 224 mortos e mais de 1.400 feridos em território iraniano, conforme o Ministério da Saúde do Irã. Em Israel, o governo confirmou 24 mortos e cerca de 600 feridos após ataques retaliatórios com mísseis iranianos — alguns deles atingindo áreas urbanas israelenses nesta segunda-feira.
O governo israelense ordenou que civis deixem o Distrito 3 de Teerã, onde está localizada a sede da IRIB. A orientação foi seguida por bombardeios na região, prática similar à adotada por Israel em campanhas anteriores contra o Hamas e o Hezbollah. “Onde podem ir meio milhão de pessoas de uma hora para outra?”, questionou Danial Amin, morador do bairro Zafar. “As rodovias estão completamente bloqueadas. Estamos presos.”
Netanyahu sinaliza ataque direto a Khamenei
Em entrevista nesta segunda-feira, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu não descartou um ataque contra o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei. “Isso não vai escalar o conflito, vai encerrá-lo”, afirmou, sugerindo que a remoção da liderança iraniana poderia pôr fim à guerra.
Netanyahu também declarou que “a face do Oriente Médio está mudando” e que a ofensiva pode causar “mudanças profundas dentro do Irã”.
Repercussão internacional: preocupação da comunidade global
A escalada gerou condenações globais. A ONU classificou os ataques a hospitais como “crimes de guerra” e pediu uma investigação urgente. O secretário-geral da organização, António Guterres, alertou para o risco de “conflito regional de proporções devastadoras”.
Organizações humanitárias, como a Médecins Sans Frontières, exigiram que ambas as partes respeitem a Convenção de Genebra e protejam instalações médicas. A União Europeia e a Liga Árabe também apelaram ao cessar-fogo imediato, enquanto os EUA reafirmaram apoio incondicional a Israel.
Impacto humanitário: vítimas civis e danos à infraestrutura crítica
Além dos hospitais, ataques israelenses danificaram redes de abastecimento de água e energia elétrica em várias cidades iranianas.
Na fronteira libanesa, o grupo Hezbollah lançou dezenas de foguetes contra o norte de Israel, ferindo civis e destruindo propriedades. Autoridades israelenses evacuaram comunidades próximas à fronteira, enquanto o exército mobilizou reservistas para reforçar defesas antiaéreas.
Ehud Barak, ex-primeiro-ministro israelense, avaliou: “Estamos em um ciclo de vingança sem fim. Cada lado acredita que pode quebrar a resistência do outro, mas a realidade mostra que só há mais destruição.”
Enquanto isso, a população civil de ambos os países vive em estado de alerta, com escolas fechadas, voos cancelados e mercados em colapso.
Mais inflação à vista
Os mercados de energia reagem com nervosismo. O barril de petróleo Brent chegou a subir 7% após os primeiros ataques israelenses, mas caiu 3% nesta segunda com o mercado apostando em uma possível mediação internacional. Especialistas alertam, no entanto, que o risco real está no Estreito de Hormuz — por onde passa um terço do petróleo exportado por via marítima.
Segundo analistas do Deutsche Bank, um bloqueio de dois meses no estreito elevaria o preço do petróleo a US$ 124 o barril. A possibilidade de interrupção no fornecimento global é tratada como “pesadelo geopolítico” por setores estratégicos.
EUA elevam alerta de segurança e Congresso debate poderes de Trump
Diante da escalada, o Departamento de Estado dos Estados Unidos elevou o nível de alerta de viagem para Israel ao nível 4 (“Não viajar”), o mais alto. O presidente Donald Trump, presente na cúpula do G7 no Canadá, recusou-se a assinar um comunicado conjunto pedindo a desescalada do conflito, e indicou abertura para que o presidente russo, Vladimir Putin, atue como mediador.
Enquanto isso, no Congresso, o senador Tim Kaine (Democrata-Virginia) apresentou uma resolução para restringir os poderes de Trump em ações militares contra o Irã, exigindo autorização expressa do Legislativo. “Não é do interesse da segurança nacional dos EUA entrar em guerra com o Irã sem que seja absolutamente necessário”, afirmou Kaine.