Relatório da ONU mostra que Brasília foi a capital que mais se “favelizou”

Relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) revela que o número de pessoas vivendo em condições precárias no Distrito Federal aumentou 398% em 10 anos. Foi o maior crescimento do país no “fenômeno global da favelização”. O índice coloc

No início da década de 90, havia 5,7 mil pessoas vivendo em áreas ilegais e sem urbanização completa no DF. Em 2000, data do último censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas já eram 28,4 mil – quase cinco vezes mais. Apesar de não haver estatísticas que mostrem o fenômeno da favelização nos últimos seis anos, a própria Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) estima que pelo menos 70 mil pessoas vivam hoje em condições precárias de moradia.


 


O aumento é explicado pelo surgimento de novas invasões, como o Itapoã, que já tem mais de 50 mil moradores, e o crescimento das que já existiam quando a última contagem da população foi feita. “O Itapoã, por exemplo, ainda nem tinha sido criado quando fizemos o último censo. A Estrutural também era bem menor do que hoje”, explica o diretor do IBGE-DF, Walker Moura. As informações do instituto serviram de base à elaboração do documento divulgado pela ONU.


 


Para Walker Moura, a explosão das “favelas” brasilienses é explicada pela falta de oferta de lotes para a população de baixa renda combinada ao potencial de atração que Brasília, capital do país, continua a exercer sobre os moradores de outros estados.


 


“Muita gente ainda chega aqui com a esperança de ganhar a vida. Sem renda, eles vão viver em construções precárias, em áreas invadidas. É a estratégia que encontram para estar perto das benesses de Brasília”, considera. Ele destaca que o Plano Piloto – área central da cidade – é cobiçado por toda a população do DF, e que, desta forma, é onde os migrantes tentam se fixar.


 


Dificuldades diversas


 


Segundo o Habitat 2006, as condições de moradia implicam dificuldades diversas para a vida prática das pessoas. Quem vive em favelas passa mais fome, tem menos educação, menos chance de conseguir um emprego no setor formal e adoece mais do que o resto da população, aponta o documento.


 


“Endereço é destino. E, isso é mais presente ainda no DF porque a cidade está setorizada de acordo com classes sociais”, afirma o arquiteto e urbanista Frederico Flósculo, professor da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, as más condições de moradia acabam perpetuando o ciclo de pobreza: “É uma situação de aparte social que vai sendo repassada de geração para geração”.