Relato de Ticiana Alvares no Oriente Médio
A estudante de economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), Ticiana Alvares, mais conhecida como “Titi”, está no oriente médio para prestar a solidariedade dos estudantes brasileiros
Publicado 27/11/2006 16:35 | Editado 04/03/2020 17:14
Com bastante dificuldade de comunicação visita o Líbano e a Síria, em meio a uma grave crise após o assassinato do deputado e ministro libanês da Indústria, Pierre Gemayel, em Beirute.
Em uma correspondência eletrônica, a jovem que também é dirigente da União da Juventude Socialista (UJS) relata um pouco dos momentos que está vivendo em uma das regiões mais tensas do planeta. Destaca a luta e resistência da juventude e as aspirações e a situação dramática a que está submetido o povo Palestino.
Acompanhe o relato de Ticiana:
“A situação aqui está muito tensa. A mídia e os EUA ligam o atentado ao Ministro ao Hezbollah e a Síria. Estamos preparando um artigo entitulado “A quem interessou a morte do Ministro”. A questão é gigante, mas posso afirmar com tranquilidade que nada tem haver com a Síria ou com o Hezbollah.
Tenho visto muitas coisas impressionantes. Nosso espírito anti-imperialista e revolucionário fica maior se você vem para cá (Oriente Médio). É chocante, impressionante, toca muito no fundo. Isso sim é a banalização da vida. O que esse povo sofre com o imperialismo atualmente é uma coisa de louco, pior que animal, pior que o pior dos bárbaros.
Visitamos campos de refugiados Palestinos no Líbano. Os destrossos das agressões de Julho, prédios e mais prédios tombados, crianças mutiladas, milhares de mortes. Fotos terríveis. Cenas apavorantes.
Os olhos enchem de lágrima a todo momento. Ainda hoje (24) visitamos uma cidade histórica onde se deu a base da civilização Bizantina. Havia um grande anfiteatro, lindo. No meio dele, jovens Palestinos dançavam músicas tradicionais e cantavam sua história.
Que coisa mais triste de se ver. Músicas que trazem uma história de muito sangue e opressão. Músicas que trazem saudades e a impossibilidade de voltar a sua terra. Músicas que trazem a disposição da luta e a certeza da vitória. Músicas que trazem milhões de mortes.
Lembrei dos campos de refugiados do Líbano. Lembrei das crianças que morreram e morrem. Lembrei da resistência heróica da Palestina. Mas são jovens como os do Brasil, com as mesmas aspirações e sonhos. Mas são jovens com o futuro ainda mais incerto. São jovens que acham corriqueiro ir trabalhar e talvez quandpo voltar terem tido suas casas destruidas por bombas ou encontrar alguém morto.
E as causas são religiosas? Não tem nada de religioso. Religioso é nada mais do que as justificativas do injustificável. Fundamentalismo? Só se for o fundamentalismo dos EUA. As razões são políticas, as mortes são políticas e a resistência é política. Se fosse religioso quem falaria em ampla união de forças nacionalistas e anti-imperialistas? Se fosse religioso, o Hezbola nunca estaria unido ao Partido Comunista do Líbano chamando a unidade nacional. (…)
Não há mais estradas e nem pontes no sul do Líbano e em várias partes de Beirute. Acho que podemos estar a beira de uma nova guerra e que as vítimas já estão definidas: o riente Médio e a Koréia.
Não tenho mais tempo agora, tampouco vou conseguir enviar fotos. Tento dar notícias o quanto antes, mas a agenda está muito cheia e está difícil conseguir internet.
Beijos e manda notícias para a galera. Titi 24/11/2006″.
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De Florianópolis
Vinícius Puhl