Quilombolas de Vila Bela denunciam grilagem
Mais uma grande injustiça contra os quilombolas
em Mato Grosso. Os remanescente de escravos expulsos por jagunços a serviço de grileiros lutam para voltar para suas terras e para que elas não sejam destruídas pela sanha dos fa
Publicado 18/12/2006 16:01 | Editado 04/03/2020 16:49
Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso.
05 de dezembro de 2006.
Exmo. Sr. Dr.
Promotor de Justiça
Comarca de Vila Bela
Caro Sr.
A Associação Quilombola ACOREBELA vem a vossa senhoria, solicitar que nos ajude a tomar as providências cabíveis em relação a devastação da
natureza que tem ocorrido na região de nosso Quilombo.
As terras de nosso Quilombo se encontram na região de campos e pantanais nativos dos rios Guaporé, Alegre, Barbado e Traíras, nas proximidades da cidade de Vila Bela.
Nosso povo morou, dezenas de anos nesta região, vivendo de roças comunitárias, da coleta de diversos produtos das matas e cerrados nativos e se alimentando das criações, da caça e principalmente da pesca.
Após a década de 1981, houve uma grande grilagem de terras nesta mesma região e nossos parentes mais velhos foram obrigados a abandonar nossas comunidades por imposição de jagunços armados e outras artimanhas de pessoas que vieram de fora e acabaram tomando quase todas as nossas terras e aniquilando quase todas nossas antigas comunidades rurais.
Agora, estamos nos organizando em associações dos parentes e descendentes daquelas mesmas pessoas que foram obrigadas a largar a terra para trás e criamos nossos Quilombos, nossas Comunidades Rurais Negras, conforme a lei determina.
Queremos nossas terras de volta, queremos viver como nossos antepassados viveram, mas com apoio do governo, com ajuda técnica para melhorar nossa produção, com nossas crianças estudando nas escolas e sem viver mais a violência da escravidão e das grilagens de terras que nossos parentes sofreram.
Estamos também percebendo que estas pessoas de fora que vivem nas nossas antigas terras, estão destruindo nossa natureza, de todas as formas e todos os dias.
Como vamos voltar a viver nas nossas antigas terras, sem as matas e o cerrado, e os campos nativos que estão sendo gradeados, e as lagoas e baias que foram e continuam sendo drenadas, como vamos caçar nossa
comida ou pescar nossos peixes se as fazendas estão destruindo tudo a nossa volta.
Queremos que esta destruição pare agora e que estas pessoas sejam obrigadas a reconstruir nossa natureza, que alimentou tão bem todos os nossos parentes e antepassados.
Queremos deixar uma terra boa e farta para nossos filhos e netos que nascem e crescem todos os dias, queremos os rios cheios de peixes como antigamente e não cheios de areia e veneno.
Por favor, senhor Promotor desta nossa querida Vila Bela, precisamos de sua ajuda para parar a destruição de nosso Quilombo, precisamos de sua cultura para nos orientar e mostrar o que temos que fazer, a quem podemos recorrer, não deixe nossa terra ser arrasada por estranhos que não tem antepassados enterrados nela.
Vamos aguardar sua resposta, mas por favor, não demore porque os tratores estão arrasando tudo a nossa volta.
Associação dos Remanescentes do Quilombo Acorebela.
Ângela Silva Moraes.
Associação dos Remanescentes do Quilombo Vale do Alegre – “Valentin e Martins”.
Berchemam Leite Ribeiro.
Associação dos Remanescentes do Quilombo Vale do Guaporé, BELACOR.
Dirce Maria de França.